A ‘desertificação’ do Brasil

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  • Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 09:41

- Atualizado há um ano

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Em 2005, o governo federal iniciou a grandiosa obra de transposição do Rio São Francisco para levar água às regiões setentrionais do nordeste. A condição climática no semiárido nordestino é extremamente complexa, pois alterna períodos de chuvas e longos períodos de estiagem, afetando principalmente os produtores rurais.

Essa alternância resulta na característica de que a região não é tão seca a ponto de expulsar definitivamente as pessoas, e tampouco é úmida suficiente para gerar prosperidade econômica por meio das atividades agropecuárias.

Os períodos de chuvas favoráveis mantém as pessoas no campo e geram alguma reserva; já os períodos de estiagem consomem toda a reserva acumulada. E em condições de seca muito severa, correntes migratórias partem para outras regiões do país, como é notório desde o início do século XX. No saldo, as famílias que permanecem no sertão ficam reféns da seca e da miséria.

Após inaugurações apressadas, a obra de transposição está em ruínas, e o que seria uma medida para acabar com a “indústria da seca” e para implantar um novo modelo econômico na região tornou-se mais um dos grandes exemplos de ineficiência e má gestão dos recursos públicos: a transposição do São Francisco definha, e isso secou também o sonho de milhões de pessoas que almejavam com a obra uma vida mais próspera. E pelo visto o problema não será resolvido facilmente. 

A despeito do que ocorre no sertão nordestino, estamos assistindo a um efeito de ampliação de extensas áreas de seca no Brasil, pois largas extensões territoriais estão se tornando mais áridas. E diferentemente do que ocorre no Nordeste, em que a própria natureza moldou a aridez da região, a ampliação de regiões áridas em outras partes do Brasil é fruto da intervenção direta do homem sobre os processos naturais. E dentre esses processos, destaca-se amplamente o desmatamento das regiões centro-oeste e norte, onde estão localizados os biomas do cerrado e da floresta amazônica.

Como é de amplo conhecimento não somente da comunidade acadêmica, a presença de florestas é fundamental para que a umidade proveniente da Amazônia, também chamada de rios voadores, alcance áreas ao sul do Brasil, tanto nas regiões centro-oeste, sudeste e sul, como também alcance outras partes do território sul-americano.

O desmatamento desenfreado da floresta amazônica sem nenhum tipo de planejamento e ordenamento territorial está comprometendo o fluxo natural de umidade. Com esse comprometimento, extensas áreas estão mais propensas à estiagem, prejudicando todo o sistema econômico já instalado e consolidado, como o agropecuário, a geração de energia, o transporte hidroviários e os sistemas de saneamento, por exemplo.

Grande parte da população deve-se lembrar dos transtornos ocorridos em 2015 e 2016 em várias regiões do Brasil, mas em especial no sudeste, que viveu a maior crise hídrica de sua história, afetando milhões de pessoas. É certo que crises hídricas irão retornar com mais frequência e severidade caso o desmatamento continue. E é nesse aspecto que deve haver a mobilização dos diversos setores sociais do Brasil para combatermos um eminente desastre ambiental e, por decorrência, uma tragédia social. 

Portanto, a prosperidade brasileira depende essencialmente da manutenção dos serviços ambientais gerados pela floresta amazônica, sem a qual o semiárido ocupará grandes extensões do território brasileiro e mais pessoas estarão atadas à miséria.

Rodolfo Coelho Prates é doutor em Economia e professor do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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