Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 28 de maio de 2019 às 14:15
- Atualizado há 2 anos
É preciso cuidado quando afirmamos: A própria Mulher Negra está discriminando outra Mulher Negra.>
Gente, a discriminação racial é um expediente do racismo. A mulher negra é atravessada por, no mínimo, duas estruturas de poder, a saber, racismo e sexismo, não tem condições estruturais de discriminar, a não ser que ela esteja falando em nome duma instituição cuja história de saber é, obviamente, racista, e está sustentada por bases modernas de diferenciações. Pra exemplificar: a policial negra quando agride uma preta da periferia ela não o faz em nome de si mesma, mas em nome da instituição que foi criada para discriminar, selecionar, agredir os “Outros” lidos como negróides.>
Atendo mulheres vítimas de violência, correto? Se frequentemente chego atrasada no plantão, se sou faltosa em meus expedientes, ou não acolho as vítimas que se parecem comigo, significa que a instituição é racista e não que estou, particularmente, discriminando mulheres negras. >
Ali não represento a mim mesma!! Quando retiro a farda, volto a ser apenas uma preta sujeita a algum desserviço mais pra frente. Não adianta, também, branco pobre desfilar com a avó preta para ser aceito como negro politicamente, pois, segundo Oracy Nogueira, temos no Brasil um problema de cor, que varia de intensidade mediante as marcas e maior ou menor facilidade que tenha o indivíduo de contrabalançá-las através da – beleza, instrução, classe. Nos Estados Unidos, a Origem que irá assinalar quais restrições serão impostas, seja alguém doutor em filosofia ou trabalhador de brancura evidente, simplesmente será “vedado” a existência identitária fora da área de segregação, até mesmo acesso a certos hospitais, frequentar espaços...>
Então, quando feministas negras se enfrentam elas estão apenas sendo Humanas, críticas, diversas, afinal quem tem irmã fica de mal, pode ter nascido em barriga diferente, geralmente vai aborrecer a outra...>
Carla Akotirene Santos é mestra e doutoranda em estudos sobre mulheres, gênero e feminismo pela UFBA>
Texto originalmente publicado no Instagram e replicado com autorização da autora>