A escrita para lidar com as nossas dores

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2021 às 05:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

“Ana, acabei de ler um texto seu e teve um trecho que me pegou de jeito... fiquei com um nó na garganta, porque parece que é exatamente o que estou sentindo. Falar, entender, aceitar e perceber tudo isso que estou sentindo e vivendo não tem sido tarefa muito fácil. Confesso que tem sido meu maior desafio nesses últimos dias/meses. A escrita tem me ajudado bastante. Sempre gostei muito de escrever e agora ela tem sido meu momento de desabafo, já que não falo disso com mais ninguém. Meu bloco de notas, minhas cadernetas de cabeceira, têm sido os grandes detentores de palavras e sentimentos difíceis de serem proferidos em alto e bom som”.

Recebi essa mensagem de uma pessoa especial, uma jovem que, com pouco mais de vinte anos, descobriu um câncer. Tudo ainda é muito novo para ela, inclusive os sentimentos que estão nascendo a partir de algo com o qual ela não sabe lidar.  Eu não tenho respostas para ela, mas minha parcela de afago nesse momento está sendo incentivá-la a escrever. 

Não é fácil para todo mundo, mas é sempre libertador colocar sentimentos no papel ou em uma tela em branco. Diante de tantas dores que não cabem no Setembro Amarelo, explodem no peito sem respeitar calendários, um alento. A escrita é um processo terapêutico. As palavras podem ser a mão gentil que nos leva pra dentro. Condução. Acredito muito nisso. Ser guiado para esse lugar em que podemos olhar para as nossas desarrumações internas, de qualquer natureza. Escrever pode não ser a solução absoluta para o problema – seria muita presunção dizer isso – mas pode tornar a caminhada menos penosa. A escrita transborda e, quando isso acontece, o nó na garganta se desfaz, as lágrimas encontram espaço para seguir feito rio represado, o peso se transforma em leveza como quem deixa, mesmo que por alguns instantes, o corpo repousar após um trajeto longo com uma mochila desajeitada e pesada nas costas.

Ao mesmo tempo, eu sei, escrever sobre as nossas dores não é algo que demande apenas tempo e papel. Nem sempre é fácil despejar sentimentos no papel. Às vezes, tudo parece estar engasgado. A caneta ganha o peso de uma rocha. Existem alguns caminhos para ajudar quem busca pelas palavras que são afago. Um deles – e que gosto muito – é manter um diário, que é também um espaço de intimidade, um lugar onde não há censura para o seu sentir.   Mas, se em um primeiro momento isso for difícil para você, espere pelo tempo das suas palavras. Comece redigindo apenas seus sentimentos, sem a preocupação de compor um texto. Às vezes, precisamos de tempo para seguir com o texto relacionado aos nossos nós internos, porque eles precisam maturar dentro da gente. Em algum momento, acredite, você vai sentir vontade de sentar e escrever sobre aquilo que lhe incomoda tanto. E, então, as palavras estarão prontas e, não muito raramente, saem aos borbotões. 

Ana Holanda é apaixonada pelas palavras. Jornalista, escritora e professora, conduz pessoas e empresas pelo caminho de uma escrita mais humana.