A feira é livre!

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2022 às 07:00

. Crédito: .

A primeira vez em que eu vi uma feira livre foi lá de cima da cacunda de painho. Eu fiquei maluca com aquele tanto de estímulo visual, aquela profusão de cores, cheiros, zoadas e gostos, que eu levaria anos para entender como incalculável riqueza cultural.

Eu tive muita sorte por ter as manhãs de sábado da agenda da minha infância, felizes e rigorosamente comprometidas com a feira da semana no lombo de meu pai (ao contrário do pavor do compromisso da missa das crianças às 17h do domingo na matriz imposto por mainha, apesar da Banana Split na sequência).

Fui embora, viajei, cresci, refinei-me, mas nunca me perdi das feiras livres, primeira visita onde quer que eu vá. Os motivos, além do apelo naïf de amor que esquenta demais o meu coração, aquela coisa sagitariana de conhecer o mais profundamente possível aquela cultura local. E quem não sabe que este é o melhor endereço? Isso porque é no caos. É no caos onde residem todas as verdades. Sem padrões, sem layout, sem estatuto, sem comissões, sem farda, sem perfume. É no caos que a gente se conhece e se reconhece de verdade, inclusive no caos interno. (Foto: Kátia Najara/Divulgação) A verdade da cabeça de porco, do berro da xepa na zorea, da lama, do alcoolismo de pinga de cobra;  também a verdade toda que tem na beleza do trançado de palha e da linha branca tão feminina no barro maragogipano; a verdade do carrinho de café, do mocofato na quebrada, da sacola de ráfia, da evangélica do feijão verde, da bassora de piaçaba, do fifó de lata de extratumate, do imperialismo negro marcado de pemba.

Por tudo isso, não venha querer azulejar minha feira, não. A FEIRA É LIVRE! Intervenção pública só se for para zelar pela saúde e boas condições de trabalho para os feirantes, mas sem atropelar jamais o pouco que nos resta de genuíno num mundo cada vez mais formato padrão, quadrado, chato, careta, incolor e inodoro. 

Porque o risco do sumiço da santa (obrigada Jorge) feira é alto. Sabe porquê? Não existem representantes da Cultura nas hierarquias dos órgãos públicos, e quando existem eles não são respeitados. A Secretaria da Saúde não pode ditar sozinha as regras sobre o que vai ser da feira, sem um limite claro (venha com essa pemba) de proteção do patrimônio cultural, demarcado por quem? Pela Secretaria da Cultura, ora essa, e quem mais?

Mas quem precisa de Cultura, não é mesmo? (Foto: Katia Najara/Divulgação) PUDIM COM FRUTAS DA XEPA AOS QUATRO LEITES

As frutas mais legais para esse pudim são as bem popozudas que não soltam tanto líquido, e também o critério da cor é importe para fins de efeito visual: amarelo de uma manga rosa ou espada em cubos, o vermelho de 1 bandeja de morangos cortados ao meio de comprido, o verde de 3 kiwis descascados em cubos e o quase preto de 1 cacho de uvas pequenas e sem sementes inteiras.

Tome uma forma redonda com buraco no meio, unte com óleo de coco, depois molhe sobre o óleo mesmo, e escorra a água. Misture as frutas e solte ali entre elas algumas folhas de hortelã miúda e/ou manjericão frescos, e forre o fundo da forma.

Agora você vai precisar de um creme bem gostoso à base de leites para envolver essas frutas, e mais! Vai querer que tenham consistência de pudim, que é para desenformar essa beleza e fazer bonito, e também pra comer de colherada. Quem vai te proporcionar essa graça é a gelatina.

No liquidificador,  1 lata de leite condensado, a mesma medida de creme de leite, a mesma de leite de coco natural, e a mesma de leite Ninho diluído. Vai hidratar e aquecer um envelope de gelatina incolor conforme as instruções da embalagem, juntar aos leites e bater loucamente por coisa de 1 minuto.

Agora é deitar o creme sobre as frutas, envolvendo-as, todo mundo ali se entendendo. Sacuda a forma para facilitar essa socialização, cubra com papel filme e leve à geladeira por coisa de 4h a 5h ou até endurecer o suficiente para desenfomar. 

 Ah! E rezar pra desenformar bonito, porque gelatina só por Jesus!

Kátia Najara é cozinheira e empreendedora criativa do @piteu_cozinhafetiva