A Física Quântica nas Eleições

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Horacio Hastenreiter Filho
  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Um dos aprendizados mais importantes que a física quântica nos traz é o de compreender que os atributos absolutos das coisas são pouco relevantes. De fato, o que verdadeiramente deve ser descrito é a relação que se estabelece entre elas. Aquilo que vale para os objetos e partículas pode, com alguma licenciosidade, se estender aos seres humanos. Desse modo, uma pessoa não é, indistintamente, mesquinha, generosa, amorosa ou rancorosa. Ela o é, ou não, em circunstâncias relacionais específicas. Nos reconhecemos todos, em maior ou menor intensidade, no conjunto acima de atributos e, até, numa lista muito mais ampla, na qual se incluem outros atributos antagônicos, de acordo com quem interagimos. O nosso interlocutor é quem, geralmente, define se nos apresentaremos com a nossa melhor ou pior face.

Entramos em 2022, respirando mais uma eleição presidencial que se avizinha. A polarização do país, inflexionada a partir da escolha de 2014 se mantém. Não pela existência de dois polos políticos que se contrapõem, uma vez que não temos no campo da esquerda candidaturas representativas do extremo como se dá no campo da direita, mas, basicamente, entre aqueles que apoiam e ojerizam o PT. 

O comportamento do presidente Bolsonaro durante a pandemia, reforçado por uma inflação descontrolada, um elevado índice de desemprego e uma economia estagnada repercutem numa crescente perda de popularidade que vem definindo uma curva assintótica, com uma expressiva resiliência na faixa de 20% de aprovação entre os brasileiros, que constituem uma legião expressiva de apoiadores incondicionais do atual mandatário. A tradução da curva decrescente é que muitos dos eleitores que votaram em Jair em 2018 não aprovam o seu governo e estariam pouco inclinados a apoiar a renovação do seu mandato.

É importante registrar, no entanto, que parte desses eleitores não suspendeu suas restrições ao Partido dos Trabalhadores e ainda resiste a apoiar a candidatura de Lula. Ninguém duvida que as redes sociais irão fervilhar nos próximos meses e, no contexto atual, ainda que as pesquisas apontem o favoritismo do petista, não se pode dar como favas contadas a tendência de acomodação dos eleitores nem-nem, aqueles que mantêm a aversão ao PT e realizaram a abjeção que representa o atual governo. No embate que se travará, muitas vezes eles se verão bombardeados e perdidos no meio do fogo cruzado que se estabelecerá entre os apoiadores de Bolsonaro e Lula. 

Os primeiros, como fazem com todos que passam a discordar do presidente, adjetivarão os bolsonaristas arrependidos de comunistas. Os segundos cobrarão desses o voto pregresso no presidente, argumentando a evidência, já em 2018, dos sinais que antecipavam limites e problemas associados ao seu possível futuro mandato. Sendo assim, aqueles que serão alvejados pelos que se colocam dos dois lados da trincheira tendem a desenvolver relações conflituosas com os dois grupos de apoiadores. O nível da interação que será estabelecida com os dois lados e o nível de antagonização das relações com cada um determinarão a face com que esse grupo se apresentará em outubro. Muito possivelmente, o comportamento de bolsonaristas e petistas na relação com os que não se enquadram em nenhum dos dois grupos será um elemento tão relevante para definir os seus votos, quanto o dos candidatos. 

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado da Escola de Administração da UFBA