A imprensa religiosa do século XIX

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  • Nelson Cadena

Publicado em 6 de janeiro de 2022 às 05:00

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Desde os primórdios da imprensa baiana padres, cônegos e vigários participaram ativamente como redatores e colaboradores de jornais de fações políticas, a começar pelo padre Inácio de Macedo, redator principal do Idade D’Ouro do Brasil. Supomos que desde 1812 já que não há nenhum documento que prove a sua atividade jornalística em data precedente. Em 1823, três meses após a Independência, o padre João Baptista da Fonseca, um dos implicados na revolução pernambucana de 1817, redigiu O Liberal. Em 1832, o padre Francisco Agostinho Gomes foi colaborador e, mais tarde, redator principal do Jornal da Sociedade da Agricultura, Comércio e Indústria da Província da Bahia. 

Nenhum desses protagonistas eclesiásticos da imprensa baiana aqui citados, dentre outros, teve atividade jornalística voltada efetivamente para assuntos religiosos. Segundo Alfredo de Carvalho e João Nepomuceno Torres, nos Anais da Imprensa da Bahia, em 26 de julho de 1833, surge a Voz da Religião, redigido por sacerdotes. O nome sugere que tenha sido o pioneiro da imprensa religiosa especializada. Pode ser, embora não exista qualquer exemplar deste periódico em qualquer arquivo ou biblioteca e não se tenha qualquer outra informação ao respeito. Sequer sobre a sua periodicidade e continuidade. Não se exclui a possibilidade de ter sido apenas um panfleto.

Outras publicações surgem no período com títulos alusivos, como: Eco da Religião e da Pátria em 1837 (porém, este era apenas político, contrário à Sabinada); a Revista Católica, em 1836/37, que se definia como periódico científico; e o Theiopolita, em 1839, que era político e religioso. Não mais existe a coleção, somente um exemplar. Seguramente era mais político do que outra coisa, fundado pelo Cônego Benigno José de Carvalho Cunha. Tivemos ainda o Eco da Bahia, que se dizia monarquista e religioso. Também não existem exemplares, mas o nome sugere o seu verdadeiro escopo, a política.

De fato, a primeira publicação efetivamente religiosa, a tratar de assuntos pertinentes ao clero e a família, no propósito de trazer informação e interpretação dos escritos sagrados e notícias relacionadas, foi O Noticiador Católico, que surge em 30 de maio de 1848, sob os auspícios do arcebispo da Bahia, Dom Romualdo de Seixas, com redação do padre Mariano de Santa Rosa de Lima e, após 1853, pelo cônego Francisco Bernardino de Souza. Circulava aos sábados e seu propósito era publicar a parte oficial do arcebispado e se ocupar “de bons escritos religiosos”. Teve longa vida, entre altos e baixos, e circulou até 1863, sendo de fato uma publicação bem focada nos seus objetivos, com matéria interessante e de influência na província.

Contou com colaboradores de renome, civis e eclesiásticos, de projeção na sociedade: o poeta Francisco Muniz Barreto; o bibliografo Sacramento Blake; os padres Antônio de Macedo Costa e Francisco Gama; e os professores Embirussu Camacan e J. G dos Santos Reis. E Euzébio Vanério, que tinha sido um dos redatores do Diário Constitucional, em 1821, e, pela mesma época, membro do Conselho de Governo estabelecido no Recôncavo durante a Guerra da Independência.

Era um bom periódico. Publicava: atos oficiais; discursos e pastorais; sermões; notícias do Papa; pensamentos em torno da moral; poesias; interpretava passagens da Bíblia; discorria sobre temas como a caridade, casamento, família, noivado, ateísmo, inveja, celibato, amor, luxo, embriaguez, vícios, a morte, educação, remorso; e reflexões a partir de considerações éticas e dos ensinamentos da igreja católica. Abordava com frequência as divergências com outras religiões e os ritos considerados pagãos. O noticiário era rico em informações sobre as festas da cidade: o comportamento dos baianos durante as novenas e os cultos dominicais; considerações críticas sobre as festas do Senhor do Bonfim; e notícias detalhadas das festas de São João, São Pedro, Semana Santa com descrição de todos os eventos do período quaresmal.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras