A lavagem do Bonfim é de lei! Vi muita coisa acontecer

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  • Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Na semana passada, eu estava tentando me lembrar quanto tempo tem que não vou na lavagem do Bomfim. E me deparei com a simples resposta: desde que deixei de morar em Salvador, precisamente em 2010.

Automaticamente, o que me veio foram lembranças das  lavagens que participei, lembranças boas e que ficaram na minha historia.

Lembro das vezes que acordei cedo para comer a feijoada na subida do Elevador Lacerda com alguns amigos que marcavam ponto ali todo ano. Era certo a gente se encontrar. Isso era só o inicio da longa jornada que nos esperava no dia em que se comemora as Águas de Oxalá na cidade de Salvador. Uma festa que tem tradição e que no final do XIX reunia ali pessoas feitas de santo que iam fazer parte dessa festividade em obrigação aos terreiros de candomblé, que sempre demonstravam sua devoção sincrética trazendo camuflada a fé em Oxalá na figura de Jesus Cristo, o Senhor do Bonfim.

Isso me fez lembrar a primeira vez que me confirmei Ogan e ouvi a Mãe de Santo do terreno pedindo que levassem os Yaôs para assistirem a missa na Igreja do Bonfim quando pudessem sair do terreiro, preservando os resguardos todos. Eu não fui mas mantive o meu resguardo todinho. Sempre achei que as duas coisas não precisam mais se misturar e viver cada um no seu quadrado ou redondo, como queiram.

Nos anos que participei da festa vi muita coisa acontecer. E digo isso porque sou do tempo em que a Festa do Bomfim tinha barracas com banquinhos de madeira, logo depois banidos por conta da violência; os trios elétricos com diversas bandas já fazendo sua prévia  para o Carnaval, também banidos por conta da violência; o cortejo com os jegues enfeitados eram diversão garantida, mas depois também foram excluídos da festa porque precisamos garantir os direitos dos animais - acho que os jegues até gostavam da folia e das alegorias. Nunca vi um jegue triste por participar da lavagem mas compreendo a necessidade de se preservar a vida dos animais.

Algumas vezes, vi o antigo governador da Bahia, ACM, passando no cortejo com as lindas baianas e seus vestidos alvos como coco, jarro com água de cheiro e flores na cabeça para lavar a escadaria da Igreja. Ele e toda sua comitiva, acenando para as pessoas, faziam daquela hora do dia o momento apoteótico do percurso que começava na Avenida Contorno e terminava nos arredores da Igreja do Bonfim.

Seguindo o percurso, aproveitei bastante aquela parte da Calçada, onde eu encontrava os amigos antigos, os colegas de escola, arranjava uma namorada… Ali, esperava o Ilê Aiyê passar e seguia esperando chegar no Largo dos Mares para, então, descansar um pouco. A Colina Sagrada só era alcançada por volta das 20h, depois de ter andado quilômetros desde as 7h da manhã.

Mão no bolso para tentar encontrar a fitinha comprada no Mercado Modelo de manhã, pedido na mente cheia de cerveja e muita fé na amarração feita nas grades já enfeitadas de fitinhas e pedidos na porta da igreja.

Só o fato de passar o dia celebrando a vida e no final poder chegar à Colina Sagrada já me tgrazia uma satisfação enorme que nenhum santo era capaz de me proporcionar.

E, no final das contas, o grande barato era poder contemplar o inicio das festas que abrem as portas para o carnaval de Salvador e encontrar pessoas, amigos e parentes que não via há tempos. A fé estava descarada nas manifestações de alegria e fervor pelo que podia ter de mais sagrado naquele evento chamado Festa do Bonfim: a vida.