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Kátia Borges
Publicado em 10 de outubro de 2020 às 16:00
- Atualizado há um ano
Ao longo de quase duas décadas como repórter, fui colecionando histórias em vários gêneros. Tem terror psicológico, dramas urbanos e comédia pastelão. Só não me arrisco mesmo no território do romance, que a memória tem lá os seus pudores. E, por favor, me poupem da revelação de intimidades de celebridades.
Boa parte das situações vividas durante a rotina diária de matérias e reportagens me fazem rir até hoje só de lembrar e, quando invento de levar alguma para a sala de aula, então, os alunos chegam a duvidar que seja verdade. Já contei da vez em que fui entrevistar um cara e ele ficou pelado? Ah, não, não foi bem assim.
Na verdade, ele foi tomar um banho enquanto eu esperava a chegada da fotógrafa que havia ido fazer outra pauta e então, sei lá por que razão, atravessou a sala sem toalha do banheiro até o quarto, completamente nu. Eu estava sentada no sofá do apartamento, que fica no térreo de um prédio, no Rio Vermelho.
Claro que, mesmo sem querer, deu para ver tudo. E o interessante é que todos perguntam justamente sobre essa parte. Assim que ele fechou a porta, fui até a varanda contemplar o mar. Na verdade, queria era saber se dava para saltar com segurança nas pedras da Praia do Buracão. Uns dois metros, talvez quebrasse a perna.
Certeza mesmo só de que aquela peripécia deixaria uns arranhões. Enquanto improvisava meios de fuga do lugar, tocou a sineta. A colega do jornal chegou e estranhou a minha expressão de alívio. Minutos depois, o homem apareceu na sala como se nada tivesse acontecido, devidamente vestido e pronto para a entrevista.
Conversamos sobre assuntos diversos, temas sérios que fui alinhavando enquanto contornava pensamentos risíveis sobre a situação. Quem me conhece, sabe que sou dada à distração. De tanto brigar com a dispersão, acabei criando um método que permite assistir uma palestra e planejar uma viagem.
Não funciona bem no carnaval, confesso. É perigoso ficar disperso em meio à multidão. Já testei, não deu certo. Vejam bem, não que a nudez de alguém me tire do sério, mas aquilo havia sido bem estranho. A história do entrevistado peladão virou lenda entre os colegas, e confesso que nunca entendi a razão daquela performance.
Kátia Borges é escritora e jornalista