A lucidez de cuidar da saúde mental

Vivian Pires é diretora-geral do Espaço Nelson Pires

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  • Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Veio a público recentemente uma nota técnica do Ministério da Saúde a respeito de novas  diretrizes para a saúde mental, alimentando novamente o debate sobre o assunto. Vamos nos ater neste momento apenas ao aspecto que reconhece a necessidade de expandir o número de leitos psiquiátricos em hospitais gerais e especializados (no Brasil, temos 0,1 leito psiquiátrico por mil habitantes), o que tem gerado muita polêmica advinda de diversos grupos e associações.

Devemos nos afastar de vieses políticos e/ou ideológicos e pensar apenas do indivíduo que encontra-se na fase aguda de uma patologia psiquiátrica e nos seus familiares.

Internamento psiquiátrico não é tortura. Pelo contrário, trata-se de um dispositivo de tratamento que deve ser breve e humanizado. Hoje a equipe de assistência não se resume apenas ao médico e a equipe de enfermagem e sim a uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, terapeutas ocupacionais, professores de educação física, assistentes sociais, entre outros profissionais. O ambiente é acolhedor e o tratamento individualizado.

Vamos refletir sobre um indivíduo com depressão grave, ideias suicidas e que chega ao hospital após mais uma tentativa não exitosa. Opor-se ao internamento integral desse indivíduo pode ser assinar a sua sentença de morte.  A internação integral é necessária, indispensável em muitos casos. Quando o paciente sai da crise, ele pode ser encaminhado para serviços abertos como Caps e Hospitais Dia, por não oferecer mais riscos à sua integridade e/ou de outros.

O entendimento radical que impõe fechamento dos leitos psiquiátricos defendido por muitos está mais relacionada a teorias e conceitos pré-estabelecidos do que ao tratamento em si. Pouca lucidez. Hospital psiquiátrico não é prisão e nem residência. O paciente será ressocializado assim que tenha condições, sendo respeitado o seu tempo e evolução.

Nesse mundo de tantas verdades, é necessário ter empatia para ver qual a necessidade do outro sem projetar nele os anseios próprios.   “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” (Jung)

Vivian Pires é diretora-geral do Espaço Nelson Pires, diretora executiva da Quíron Saúde e da OMNI Neuroestimulação.

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