A maldição dos tempos interessantes

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  • Kátia Borges

Publicado em 8 de dezembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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“Que você viva tempos interessantes”. Esta irônica maldição chinesa se popularizou em nosso século graças a Eric Hobsbawm. Talvez vocês ainda se lembrem dele, o autor do best-seller A era dos extremos – o breve século XX. Pois, foi bem assim que o historiador inglês batizou a sua autobiografia, lançada em 2002.

Alguns teóricos questionam a origem desta frase. Pesquisador de história contemporânea, o jornalista português José Pacheco Pereira, em artigo publicado em 2011, especula se ela não teria derivado do provérbio chinês “mais vale ser um cão em tempos de paz do que um homem em tempos de caos".

Em tempos de caos, um homem vale menos que um cão. Em tempos interessantes, vivemos em estado de negação. As não-pessoas, os não-acontecimentos. Não-pessoas é um termo resgatado pelo sociólogo Noam Chomsky para se referir aos registros sobre africanos na mídia. Seu autor é, na verdade, o escritor George Orwel, aquele do clássico 1984, que teria inspirado o programa Big Brother.

Este termo diz respeito aos que padecem à margem da história, aos que apenas fazem número, aos excluídos do recorte que a mídia elege, aos que não rendem manchetes, a partir dos valores-notícia. O mesmo ocorre com os fatos que os envolvem, mesmo quando ganham uma cerquilha e viram hastags.

Aprendemos na Bahia que os deuses dançam, o que nos aproxima do Zaratustra de Nietzsche é também o que nos distancia. Para os orientais, nada é mais sagrado que simplesmente viver o cotidiano. Frequentemente, no entanto, só alcançamos o valor absoluto da paz dos dias quando contemplamos o seu contraponto.

Tempos interessantes, meu bróder, não nos dão sossego por um único segundo. Suspeito que estejamos em meio à travessia, amaldiçoados homens, valemos menos que os cães em tempos de paz. E é essa suspeita que nos leva até uma outra frase, esta que nos dá uma chave para cruzar o inferno. Não pare, continue andando.