A mídia utilitária

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  • Nelson Cadena

Publicado em 24 de março de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Não entendo o porquê os sábios do marketing não produziram em toda a literatura existente no mundo uma linha sequer sobre a mídia utilitária. Entendo como tal, na minha compreensão, a mídia que tenha prestado, ou preste ainda, relevantes serviços à humanidade, para além de seu propósito principal de divulgar notícias, anúncios publicitários e (ou) produzir conteúdos de entretenimento.

O jornal, por ser a mídia mais antiga e versátil, é a mais utilitária de todas. Os feirantes foram os primeiros a descobrir que o papel jornal era o melhor para embrulhar o peixe, ainda hoje quem vende camarão dispõe de um bom estoque para essa finalidade. Embrulha, antes de colocar no saco plástico.  Mais tarde inventaram, nos dias de chuva, o jornal estendido sobre a cabeça, segurando com as duas mãos. Mas, a grande utilidade do jornal nem Einstein teria tido insight tão genial. As donas de casa descobriram que o papel jornal é o melhor para limpar janelas e espelhos. E não tem substituto, nem terá tão cedo.

A televisão já nasceu utilitária. Mil e uma utilidades. Cedo, os consumidores agregaram valor à mídia quando descobriram que um bombril pendurado na antena interna do aparelho melhorava a imagem, menos chuvisco e mais nitidez: toda uma geração de consumidores usufruiu dessa relevante inovação tecnológica. O rádio nem tão utilitário foi, teve acanhada serventia. Quando os receptores eram de grande, ou médio porte, colocava-se embaixo um recibo de luz, água ou telefone para não sair voando pela casa. E quando os receptores ganharam o formato quadrado serviram de suporte provisório para revistas e jornais, antes de serem descartados. Apenas isso.

Os catálogos telefônicos estes sim prestaram relevantes serviços aos assinantes e em especial às repartições públicas. Os consumidores descobriram que aquele calhamaço, contendo informações de serviços e anúncios, era um ótimo suporte de portas para evitar que o vento as fechasse. Nas repartições públicas, conquistou o status supremo de utilidade, como suporte de pés de mesa, ou de cadeiras quebradas, e mais tarde, num estalo de genialidade, como base do monitor do computador para o dito cujo ficar na altura dos olhos. A mídia desapareceu, mas os seus serviços prestados deixaram um legado utilitário imensurável.

O outdoor de papel por décadas foi uma mídia sem maior utilidade, divulgava apenas mensagens comerciais, até os publicitários inventarem no final da década de 1970, o aplique, uma traquitana que ultrapassava o espaço físico da placa. Apliques de lonas e de madeira serviram, subtraídos à noite, para cobrir muito barraco, proteger da chuva e de outras inclemências. Em tempos remotos, a mídia exterior foi a mais utilitária de todas. Na década de 1930, protegendo pequenas árvores. Na década de 1940, no formato de abrigos de bondes e, em tempos recentes - reinventaram a roda com o nome de mobiliário urbano -,  os abrigos de ônibus.

E a mídia digital? Qual utilidade relevante poderá ter para a humanidade para além de sua finalidade principal? Pensando bem, tem. E talvez eu não tenha atentado para isso por não ser mensurável em termos físicos. Quiçá contribua para exercitar os dedos, ou retardar a artrose para quem tem componente genético favorável. Lembrei de outras utilidades. A reciclagem, depois de derretidas, das placas mães e placas avós, no caso das CPUs mais antigas. Os inventores da mídia não acreditaram que as suas plataformas tivessem algum dia outra serventia. Bobinhos eles. Espertos nos que demos jeitinhos para suprir necessidades. Moral da história: Mídia também é utilidade pública.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras