A noite dos espíritos de luz do Bahia

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  • Paulo Leandro

Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A torcida única tem hoje o desafio de vencer o distanciamento e abraçar-se, sem medo de covid-19, 20 ou 21, a cada um de seus legionários tricolores, a mais de 3 mil quilômetros.

Não sei como ocorrerá a mística, se pelo chá de cidreira bebido pontualmente às 20h30min, unindo a todos numa só bandeira, pelas narrativas de suor e vibração nas estações AM e FM, ou pelo simples contemplar de duas estrelas no céu.

Fazer culto ao fato não vale quando o assunto é Bahia, para o qual é o excesso de imaginação a força propulsora de tantos feitos memoráveis, entre risos de superação dos receios, como podia-se curtir no desenho Lippy and Hardy, de Hanna e Barbera.

A história de Lippy and Hardy dá bem uma ideia da importância de equilibrar os extremos: Lippy the Lion, otimista demais; Hardy, a hiena, a repetir “ó dia, ó céus, ó azar, vamos enfrentar o Grêmio lá em Porto Alegre, Lippy, não vai dar certo...”

Tricolor baiano, observa teu emblema a lembrar-te a vontade, metafísica e ontológica, como queira complicar teu curso, mas vê no Bahia um clube excedente a sua própria natureza.

Folheia tuas páginas; ainda há três dias decidiste o título da Copa Sub-20, diante do Vasco do Rio, e ninguém pode ser tão cachorro a ignorar as maiores adversidades para um time de Salvador chegar tão longe.

(Aproveito para desculpar-me, ao permitir as forças cegas do inconsciente impor a escrita, na coluna da quarta-feira passada, de ter o Bahia um jogo a menos em relação ao Vasco, quando na verdade, é ao contrário, na disputa para ver quem será degolado). 

Já esqueceu o tricolor dos tempos sombrios de 11 anos na fila sem título sequer estadual? Basta verificar a folhinha da Boa Vontade, quantas luas sem um tricampeonato? Não sejamos injustos com os apóstolos de Bellintani e Sant’Ana.

Quanto mais indigesta a carne, mais os intestinos tricolores poderão processar alimento em energia, daí formar crença numa grande vitória – desculpo-me se escrevo o nome do coirmão – diante do poderoso Grêmio, lá dentro da querida Porto Alegre.

Amigas, eu vi, no sonho de meio-dia pra tarde, após bater aquele bom prato do pirão de carneiro, adquirido ao freguês de Pé de Serra, seu Antônio, o triunfo do Bahia, por 2x0, hoje, desgarrando, assim, ao menos, provisoriamente, da chata companhia vascaína.

A defesa portou-se dignamente, formada por Henricão e Roberto Rebouças, a manifestar-se no corpo de nossos titulares de hoje, enquanto o ágil meio-campo puxava contra-ataques para Biriba e Marito, trocando de posições os espíritos em luz.

Estarão hoje em Porto Alegre, os tricolores vivos, inspirados nos ebós de poder dos encantados, e os mortos, ao levantar de suas tumbas, para invadir o campo gaúcho e representar o mais fidedignamente o fenômeno: eis toda a realidade.

Aquele tricolor destoante, cujo tesão pelo clube virou fadiga, faça-nos o favor de desencarnar-se; se à primeira falha, repetirem ladainha de derrotados, retirem-se da grande irmandade de 3 mil quilômetros.

Hoje, só estarão com o Bahia em Porto Alegre, da frequência de professora Míriam pra cima, pois nada há a temer, quando o clube heroico enfrenta a própria infecção: aqui, dá-se o milagre de produzir sua própria vacina, suas seringas e sua ressurreição.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade