Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Dom Sergio da Rocha
Publicado em 29 de novembro de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
A realidade da violência tem figurado de modo assustador e preocupante nos noticiários, exigindo reflexão sobre suas causas e a busca urgente de soluções efetivas. Não podemos achar normal que a violência passe a integrar o cenário de nossas ruas e casas, especialmente das periferias urbanas. O clamor pela paz brota especialmente das periferias sofridas das grandes cidades, de zonas marcadas pela violência e criminalidade. As vítimas da violência não podem ser reduzidas a números e estatísticas. São pessoas que tiveram sua dignidade violada e sua vida ceifada. Junto delas, há pessoas e famílias dilaceradas pelo sofrimento, clamando por justiça e paz. Não podemos perder a capacidade de dizer “não” à violência, nas suas variadas formas e de promover a paz, nos seus diversos níveis, a começar dos relacionamentos pessoais.>
A complexidade do problema não pode levar a soluções equivocadas de cunho emocional, pois elas tendem a agravar a situação Análises simplistas e reações puramente emocionais não resolvem. O ódio, a vingança e o fazer justiça pelas próprias mãos não são respostas; ao contrário, agravam ainda mais a realidade da violência. A busca da justiça que conduz à paz não se faz através da violência. É preciso pensar sobre o seu significado e as suas causas para encontrar saídas condizentes com a dignidade humana. >
A construção da paz é tarefa coletiva. Necessita da atenção e dos esforços de todos. Os poderes públicos desempenham papel fundamental promovendo a segurança pública, o combate à impunidade e a justiça social. Mas, há muito a ser feito por cada um, espontaneamente, nos diversos ambientes em que se vive, superando a agressividade nas redes sociais, no ambiente familiar ou nas ruas.>
“Existe uma ‘arquitetura’ da paz, na qual intervêm as várias instituições da sociedade, cada uma dentro de sua competência, mas há também um ‘artesanato’ da paz, que envolve a todos”. Assim se expressa o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, ressaltando o papel fundamental de cada um para na construção da paz. A bela encíclica social se conclui com um apelo à paz e à fraternidade, num mundo marcado por tanta violência e divisões, que a todos, de algum modo, faz sofrer, mas que atinge especialmente os mais pobres e vulneráveis.>
Somos todos responsáveis pela paz. É preciso fazer acontecer um mutirão permanente pela construção da paz, que inclui desde os gestos pequenos do cotidiano até as grandes decisões políticas em favor da vida, da justiça social e da segurança pública. Os cristãos e todas as pessoas de boa vontade devem fazer a sua parte, empenhando-se com renovado compromisso nesta tarefa permanente, contribuindo não apenas de modo pessoal e espontâneo, mas também de maneira comunitária. Não podemos jamais desistir da tarefa de construir a paz, alicerçada sobre a justiça e o perdão, conduzidos sempre pelo Deus da paz. >
*Dom Sergio da Rocha é cardeal e arcebispo de Salvador>