A rodada dupla do Bahia e a bagunça no calendário do futebol

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Publicado em 5 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Que o calendário do futebol brasileiro é intenso demais já não é novidade há muito tempo. Mas entra ano, sai ano, e nada é feito para mudar.

Lembrei disso ao ver que o Bahia vai jogar duas vezes no mesmo dia, sábado, por Campeonato Baiano e Copa do Nordeste. Foi um pedido do próprio clube, que utiliza elencos diferentes nas referidas competições. 

Como a diretoria sabia que não encheria a Fonte Nova nos dois dias do fim de semana, com uma partida no sábado e outra no domingo, preferiu reduzir custos e abrir o estádio uma vez só. É a institucionalização da esculhambação que virou o calendário.

Tem-se um novelo sem fim. Treinadores, de modo geral, reclamam do alto número de jogos ao longo de uma temporada. Mas se fizerem um rodízio de elenco, com dois ou três jogadores novos a cada confronto, ficam sujeitos a perderem o emprego ainda mais rápido do que a média, que é de apenas seis meses. Basta passar três partidas sem vencer que eles são acusados de não formar um time titular, não entrosar a equipe, não ter padrão, de tirar a confiança dos atletas.

Isso acontece porque alguns dirigentes cobram como se ofertassem ao técnico o melhor elenco do campeonato, como se os reservas à disposição fossem de nível igual ou similar aos titulares. Na prática, esta não é realidade da maioria, e quem arrisca paga em pontos perdidos.

Enquanto isso, a construção de elenco sem pré-temporada digna e a oscilação no início do ano, justamente nas competições de nível técnico mais baixo, deixam o torcedor insatisfeito. E tome vaia no estádio e ira nas redes sociais.

O modelo de análise diária da imprensa também não ajuda, pois o olhar voltado para o episódio que se encerra a cada jogo carrega um determinismo incompatível com a paciência que seria necessária para levar em conta todas as nuances do trabalho coletivo. A evolução é um processo e, como tal, requer preparação, maturação e colheita. Tempo que não há.

No caso do Bahia em particular, serão no mínimo 58 partidas em 2020 e no máximo 75 a depender do quanto o time avançar nas fases de mata-mata - já contando a eliminação na Copa do Brasil. No Vitória, mínimo de 57 e máximo de 77. 

Como a temporada terá, de bola rolando, 10 meses e meio, já que dezembro será de férias (no caso da Série A, 25 dias) e a pré-temporada durou 15 dias em janeiro, sobram cerca de 320 dias efetivos. O limite mínimo está ótimo, com os times jogando em média uma vez a cada 5,5 dias. O problema está no limite máximo, em que a média cai para um jogo a cada 4,2 dias. Esse intervalo curto reduziria a possibilidade de uma equipe cumprir uma evolução técnica e tática satisfatórias ao longo dos meses, pois estará quase sempre na véspera de uma partida ou descansando de uma, quando as atividades são mais leves.

Neste ano, o uso dos times de aspirantes no estadual reduzirá esse total acima em 9 a 13 jogos e facilitará a vida dos treinadores principais. Ainda assim, falta no país (inclusive nos jogadores) uma cultura que permita ao treinador fazer revezamento entre os atletas tirando um ou dois a cada exibição para chegar aos momentos decisivos sem sofrer com muitas lesões. Por aqui ainda é 8 ou 80: um time inteiro de reservas ou sempre a mesma escalação. E todo ano as mesmas reclamações.

Herbem Gramacho é editor de Esporte.