'A Semana do Clima mantém uma certa esperança', afirma André Fraga

Em entrevista, titular da Secis destaca importância do evento da ONU em Salvador, que começa na segunda-feira (19)

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  • Do Estúdio

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 06:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/arquivo Correio

Debater as soluções para à adaptação e mitigação às mudanças climáticas, problema em nível global que tende a se intensificar nesse século. Este é um dos principais objetivos da Semana Latino-Americana e Caribenha sobre Mudança do Clima, evento de nível internacional que será realizado pela primeira vez em Salvador a partir de segunda-feira (19/8), até o dia 23 deste mês.

Promovida pela ONU em parceria com a Prefeitura de Salvador, a Climate Week (Semana do Clima) deve reunir cerca de quatro mil pessoas de diversas regiões do mundo na capital baiana, entre chefes de Estado, representantes do setor privado e da sociedade civil organizada. Além do prefeito ACM Neto, um dos principais responsáveis por trazer o evento para a cidade foi o secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência, André Fraga.

Engajado nas temáticas da sustentabilidade, Fraga é engenheiro ambiental de formação, pós-graduado em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e doutorando pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Nesta entrevista ao Estúdio CORREIO, o titular da Secis revela suas expectativas para a Semana do Clima da ONU:

Estúdio CORREIO: Salvador lutou bastante para conseguir sediar a Semana do Clima da ONU. Qual é a importância deste evento para a cidade e o País como um todo?

AF: O evento coloca nossa cidade na dianteira das discussões sobre a crise climática. Em um momento em que alguns negam a existência do aquecimento global, garantir a realização da Semana de Clima aqui em Salvador, no Brasil, mantém uma certa esperança de que o tema não morrerá. Para Salvador há diversas “importâncias”. Seja pela atração de um turismo de negócios, extremamente qualificado, em um mês ainda de baixa. Seja pela presença na nossa cidade de atores globais e tomadores de decisão internacionais e mesmo de toda a imprensa nacional e internacional. De fato, a Prefeitura e toda a sua equipe, através do prefeito ACM Neto, reuniu esforços para que a realização da Semana do Clima se tornasse realidade. E isso está sendo feito com muito empenho. Faremos um evento que entrará para a história.“De fato, a Prefeitura e toda a sua equipe, através do prefeito ACM Neto, reuniu esforços para que a realização da Semana do Clima se tornasse realidade. E isso está sendo feito com muito empenho. Faremos um evento que entrará para a história”Como se deu a organização do evento? Representantes da ONU estiveram na cidade com integrantes da Prefeitura para acertar os detalhes? Como foi esse processo?

Há quase nove meses estamos no processo de organização da Semana do Clima em Salvador. Nesse tempo, a maior parte das reuniões e encaminhamentos foi feita, semanalmente, via internet, através de conferências com os membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC). Em uma oportunidade também estivemos na sede da ONU, na Alemanha, para tratar do assunto, assim como uma representante das Nações Unidas esteve em Salvador há cerca de um mês para se reunir com parceiros e vistoriar o local onde será realizado o encontro, e já está conosco desde a terça-feira (13/8) na força tarefa.

Na sua avaliação, o que Salvador tem para mostrar ao mundo na Semana do Clima? 

Salvador tem se tornado referência para muitas cidades quando se trata de ações com impactos na agenda climática. A prova disso é a própria escolha para sediar a Climate Week. Ao longo desses sete anos de gestão, implementamos diversos programas e ações visando criar indicadores que pudessem nortear iniciativas sustentáveis e que servissem como base para o desenvolvimento de política públicas, como a elaboração do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, a Estratégia de Resiliência, o Plano Diretor de Arborização Urbana, a Política Municipal de Meio Ambiente, o Plano Municipal de Adaptação e Mitigação as Mudanças Climáticas que começaremos a desenvolver, a criação de mais de 27 milhões de metros quadrados de áreas protegidas inseridas no Sistema de Áreas de Valor Ambiental e Cultural (Savam), que contempla também o Salvador Capital da Mata Atlântica, um programa que já foi premiado nacional e internacionalmente, assim com o IPTU Verde, a Outorga Verde e o IPTU Amarelo. Somos a capital que mais avança em rede cicloviária. Temos programas de resiliência urbana referência como o Morar Melhor e na Educação, fator fundamental para qualquer estratégia de desenvolvimento. Evoluímos no Ideb de forma inédita na história da cidade. Na área de inovação, programas e iniciativas inovadoras como o HUB Salvador e o Colabore ajudam a cidade a encontrar soluções, além de toda a tecnologia embarcada na Codesal.  O nosso aterro sanitário recicla 21% de tudo que chega lá através da recuperação energética, e foi o primeiro do mundo a ter autorização para comercializar créditos de carbono. Essas e outras tantas ações fizeram com que Salvador, hoje, faça parte de redes internacionais de cidades como o C40, Iclei e 100 Cidades Resilientes com destaque.“O evento coloca nossa cidade na dianteira das discussões sobre a crise climática. Em um momento em que alguns negam a existência do aquecimento global, garantir a realização da Semana de Clima aqui em Salvador, no Brasil, mantém uma certa esperança de que o tema não morrerá”O Dr. Carlos Nobre, um dos cientistas mais renomados do Brasil, está confirmado como um dos integrantes da equipe que ajudará Salvador a desenvolver seu Plano de Mudanças Climáticas? 

Sim. Iniciaremos ainda em agosto o desenvolvimento do nosso Plano Municipal de Adaptação e Mitigação as Mudanças Climáticas. São recursos provenientes do BID, através do Prodetur e do C40, e entre os diversos membros das equipes técnicas temos a honra de contar com o Carlos, uma referência internacional quando o assunto é clima.

Um estudo da UFBA alertou que algumas praias da cidade, como a do Porto da Barra, podem desaparecer nas próximas décadas por conta das mudanças climáticas. Esse tipo de cenário tem sido considerado pelo Plano Salvador Resiliente lançado no início deste ano?

A Estratégia de Resiliência é mais ampla que a questão climática, mas tem inserida nela exatamente o Plano Municipal de Adaptação e Mitigação as Mudanças Climáticas. E é nesse contexto do plano que desenvolveremos cenários futuros de vulnerabilidades e desenharemos formas de adaptar a cidade.

O Inventário de Emissões de Salvador divulgou, em 2015, que a maioria das emissões de gases do efeito estufa da cidade é proveniente do setor de transportes (74%). O que tem sido feito para minimizar esses impactos? 

Uma pesquisa apresentada na cidade de Coimbra, em Portugal, durante a 14ª Conferência Internacional em Saúde Urbana, em 2017, revelou que a qualidade do ar em Salvador melhorou consideravelmente após algumas ações da Prefeitura. Entre os anos de 2014 e 2015, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mediram os números dos sete maiores poluentes na atmosfera da capital. A mudança nos níveis é verificada mais acentuadamente em janeiro de 2015, quando o prefeito ACM Neto decretou a renovação da frota de ônibus, com a circulação de 850 novos veículos, cerca de 10% da frota na época. Mesmo que a mudança nos ônibus tenha sido pequena, o resultado mostra algo prático. Alguns poluentes, especialmente partículas maiores, foram reduzidos em até 25% em algumas estações. Outro fator responsável pela melhoria são as ações de plantio que coordenamos. Já plantamos na cidade mais de 60 mil árvores desde o começo da gestão. Além disso, o incentivo ao uso das bicicletas através do aumento de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas já alcança 225 km na cidade, dos quais 150 foram implantados pela prefeitura. Essa é outra medida baseada no sentido não só de incentivar o lazer e a atividade física, mas de reduzir o número de carros nas ruas e, consequentemente, a emissão de gases poluentes na atmosfera.

Há poucos dias o IPCC lançou um novo relatório global sobre as mudanças climáticas. As conclusões desse documento serão aprofundadas na Semana do Clima? 

Sim, os relatórios do IPCC são o principal ingrediente das discussões que o Sistema das Nações Unidas promove. Importante dizer que a Semana do Clima é também um espaço de promoção e efetivação de alianças em torno de ações práticas para minimizar e adaptar nossas atividades. Setor privado, governos, sociedade civil, todos juntos buscando um caminho para o desenvolvimento de baixo carbono.“Importante dizer que a Semana do Clima é também um espaço de promoção e efetivação de alianças em torno de ações práticas para minimizar e adaptar nossas atividades. Setor privado, governos, sociedade civil, todos juntos buscando um caminho para o desenvolvimento de baixo carbono”Falando em IPCC, Salvador terá em breve o seu próprio Painel do Clima? Já tem alguns nomes de especialistas confirmados? 

Sim, todos pesquisadores locais que vêm estudando o impacto das alterações climáticas aqui em nossa cidade. Queremos juntar esses cientistas em um espaço de colaboração e conexão para promover conteúdo que ajuda no planejamento de políticas públicas climáticas. É uma iniciativa pioneira na América Latina. A única cidade do mundo que tem algo parecido é Nova York.

Existe a expectativa de que a realização da Semana do Clima em Salvador consiga aproximar mais os soteropolitanos deste tema que ainda não é muito bem compreendido, apesar de sua importância? 

Apesar de ser um tema que para ser debatido do ponto de vista técnico necessita de algum estudo, naturalmente quem mora em Salvador e em outras regiões do país já deve entender do que se trata de forma muito prática. O verão aqui (Salvador) esse ano foi muito quente em comparação a outros anos. Muitas lagoas secando e chuvas extremas. Ao longo dos anos, passamos a nos interessar pelo assunto para tentar compreender melhor o motivo de tanto calor, de porquê de ter chovido em um dia o que deveria ter chovido em um mês.

ProgramaçãoSegunda-feira (19/08)8h30 às 8h55 - Cadastramento e exibição de abertura9h às 12h25 - Eventos para convidados: Diálogo sobre contribuições nacionais determinadas (NDC) CTCN fórum regional em LAC Capacidade: construindo conhecimento para o dia da ação9h às 12h25 - Eventos abertos: Artigo 6: diálogo do setor empresarial #Twitt4 climate: uso das redes sociais para impulsionar a adaptação climática Painel Salvador de Mudança do Clima12h30 às 14h25 - Intervalo para almoço, eventos paralelos, exibição, esquina do conhecimento e hub de ação.14h30 às 18h - Eventos para convidados Diálogo NDC CTCN fórum regional em LAC Conhecimento para o dia da ação14h30 às 18h - Eventos abertos: Artigo 6: diálogo do setor empresarial Workshop em alvos criados com base na ciência: porque e como engajar Painel Salvador de Mudança do Clima   Terça-feira (20/08)8h30 à 8h55 - Cadastramento e exibição de abertura9h às 12h25 - Eventos para convidados: Diálogo NDC CTCN fórum regional em LAC Encontro de parceria com Marrakech Workshop em transparência: oportunidades do sul para o sul9h às 12h25 - Workshop em mobilidade urbana em NDC da próxima geração (aprovação da inscrição necessária)9h às 12h25 - Eventos abertos: Cotação do carbono, mercados e desenvolvimento sustentável em LAC Como empresas e governos podem avançar em políticas de carbono zero Painel Salvador de Mudança do Clima12h30 às 14h25 - Intervalo para almoço, eventos paralelos, exibição, esquina do conhecimento e hub de ação.14h30 às 17h25 - Eventos para convidados Diálogo NDC CTCN fórum regional em LAC Workshop em compartilhamento de conhecimento para estratégias a longo prazo14h30 às 17h25 - Workshop em mobilidade urbana em NDC da próxima geração (inscrição necessária)14h30 às 17h25 - Eventos abertos: Cotação do carbono, mercados e desenvolvimento sustentável em LAC Transição economia de baixo uso de carbono Painel Salvador de Mudança do Clima   Quarta-feira (21/08)8h30 à 8h55 - Cadastramento e exibição de abertura9h à 9h55 - Plenária de abertura10h às 12h25 - Mesas Transição da indústria Infraestrutura cidades e ação local (áreas urbanas e moradia informal)10h30 às 12h - Relatório de crédito de carbono10h às 12h25 - Apresentação voltada para estudos e os jovens12h30 às 13h25 - Intervalo para almoço, eventos paralelos, exibição, esquina do conhecimento e hub de ação.13h30 às 15h55 - Mesas Soluções naturais (agricultura e manejamento de terra) Infraestrutura, cidades e ações globais (transporte)13h30 às 15h55 - Apresentação voltada para estudos e os jovens16h às 18h30 - Mesas Transição de energia Soluções naturais (ecossistemas do oceanos e recursos hídricos)16h às 18h30 - Apresentação voltada para estudos e os jovens Quinta-feira (22/08)8h30 à 8h55 - Cadastramento e exibição de abertura9h às 9h55 - Plenária 2 (segmento ministerial: para a COP25 e esforços para alcançar as metas do acordo de Paris)10h às 11h10 - Plenária 3 (governo brasileiro)11h15 às 12h25 - Plenária 4 (implementação da ação climática: aumentando a ambição)12h30 às 14h25 - Intervalo para almoço, eventos paralelos, exibição, esquina do conhecimento e hub de ação.14h30 às 15h40 - Plenária 5 (estratégias a longo prazo e descarbonização)15h45 às 16h55 - Plenária 6 (mercados e crédito de carbono)17h às 18h10 - Plenária 7 (financiamento NDC e títulos verdes)18h30 - Shows exclusivos dos músicos Gilberto Gil e Carlinhos Brown   Sexta-feira (23/08)8h30 à 8h55 - Cadastramento e exibição de abertura9h às 10h25 - WS1: transformando o NDC em planos de investimento9h às 12h30 - Apresentação voltada para a sociedade civil9h30 às 12h25 - WS3: TEM A (adaptação financeira)10h às 12h - Painel dos prefeitos 10h30 às 12h25 - WS2: transparência10h30 às 12h25 - WS4: TEM M (energia e cadeia agricultura)12h30 às 12h55 - Plenária 8 (sumário, conclusões e recomendações para o encontro da UN SG)13h às 13h55 - Plenária 9 (cerimônia de encerramento) Serviço: O quê: Semana Latino-Americana e Caribenha sobre Mudança do Clima Quando: 19 a 23 de agosto Local: Salvador Hall (Av. Luis Viana Filho s/n, Wet n Wild - Paralela) Quanto: Gratuita Inscrições até quarta-feira (21/08) através do link: https://reg.unog.ch/event/29406/

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