A Siri, do iPhone, será a próxima estrela do Carnaval?

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  • Marcio L. F. Nascimento

Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 15:57

- Atualizado há um ano

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As inovações tecnológicas não param de surpreender, pois a inventividade humana não conhece limites. Quando uma canção toca no rádio, na TV ou na internet, nem sempre é fácil perceber as dificuldades que envolveram sua criação, produção e execução. Enquanto seres humanos, avaliamos pelo gosto individual; enquanto coletivo, se tal canção arrebata corações, torna-se um sucesso.

A ciência, considerada austera, fria e calculista, começa a dar enormes passos no meio musical, pois hoje é possível criar canções novas utilizando de computadores e programas que desenvolvem por si mesmos novas músicas. Tais programas, ou ainda algoritmos, nada mais são do que receitas passo a passo, que este novo conhecimento humano, denominado inteligência artificial (IA), se apresenta aos músicos em nossa era. A IA tenta desvendar mais claramente quais canções tocam os corações dos seres humanos, pois ela consegue mimetizar sentimentos, na medida que tem à disposição centenas de milhares de exemplos de canções expressando amor, alegria, dor, tristeza, solidão, felicidade, gratidão, entre outros.

Ao aprender tais lições de sentimentos por meio do chamado aprendizado de máquina (machine learning) com base numa grande quantidade de dados disponíveis de grandes sucessos musicais, hoje é possível ultrapassar barreiras estéticas como a autoria da obra. Como exemplo, em artigo recente [M. Interiano et al. Musical Trends and Predictability of Success in Contemporary Songs In and Out of the Top Charts R. Soc. Open Sci. 5 (2018)], a física-matemática Natalia Komarova (n. 1972) analisou mais de 500 mil músicas no Reino Unido, entre 1985 e 2015, visando explorar a evolução das mesmas e uma tentativa de prever sucessos. Para tanto, a pesquisa comparou diversas músicas com as consideradas cem mais tocadas (top charts) das paradas inglesas no mesmo período. Tal estudo mostrou diferenças em tendências musicais ao longo de três décadas, como canções cada vez mais festivas, bem como algumas consideradas relativamente mais femininas (ou ainda que envolvam temas femininos).

Há um bom número de possibilidades de uso da IA na internet voltadas a música. Entre os vários exemplos pode-se destacar: Amper (www.ampermusic.com), Judedeck (www.jukedeck.com), LANDR (www.landr.com), IBM Watson Beat (www.ibm.com/watson) e Google Magenta’s NSynth (nsynthsuper.withgoogle.com).

O primeiro algoritmo musical foi proposto pelo cientista da computação e matemático soviético Rudolf Khafizovich Zaripov (1929 - 1991), ao escrever o livro “Cibernética e Música” em 1963.  Já a primeira composição instrumental elaborada inteiramente por meio de inteligência artificial, “Break Free”, tocou nas rádios em agosto 2017, lançada pela cantora americana Taryn Southern (n. 1986), que apenas compôs a letra.

Portanto, este novo avanço do conhecimento musical pode ser visto como uma continuidade do que vem sendo feito ao longo de décadas, pois músicos estão acostumados com sintetizadores, samplings, masterização, auto tunes e drum machines, entre outras facilidades. Deste modo, a inteligência artificial já pode ser vista como mais uma ferramenta para uso na composição musical, mediada por humanos.

Como exemplo, quem tem um iPhone pode se surpreender ao perguntar ao aplicativo Siri se ela gosta de carnaval... A resposta inclui uma improvisação que leva em conta marchinhas elaboradas pela IA da Apple: turumtutum, turumtutum!... Pode-se portanto afirmar, sem medo de errar, que não está longe a possibilidade de ouvirmos o primeiro grande sucesso carnavalesco elaborado por máquinas de música. Há uma grande chance de ocorrer no próximo carnaval? Como resposta, basta lembrar dos versos do poeta: Quem viver, verá / Que não foi em vão / Eu quero é muito amor no Coração...

Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA