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Da Redação
Publicado em 28 de novembro de 2019 às 10:14
- Atualizado há 2 anos
O homem é um ser relacional. Esta afirmativa, que antes parecia absoluta, parece estar se modificando. Podemos dizer que, ao longo dos últimos anos, mantivemos a essência e a capacidade de nos relacionarmos, mas a disposição e o modo como isso acontece vem tomando contornos cada vez mais estreitos.>
Com a chegada das redes sociais, as pessoas começaram a adotar uma nova forma de se relacionarem. Diria que, atualmente, existe a relação pessoal “olho no olho” e a mediada pela tela de um computador ou smartphone. Essa mediação virtual, por vezes, pode ser interpretada com uma barreira. >
Entretanto, as redes sociais fazem um papel ambíguo e paradoxal de aproximar e distanciar pessoas. A comunicação em rede promove reencontros de pessoas distantes geograficamente, ao mesmo tempo em que distancia pessoas que moram na mesma casa. Ou seja: trata-se de um meio de comunicação eficiente, mas que dispensa o contato físico, modifica as relações e pode dificultar a formação de laços sociais.>
Zygmund Bauman, sociólogo e filósofo polonês, indica que os laços sociais contemporâneos se dão em rede, não mais em comunidade. Dessa forma, os relacionamentos passam a ser chamados de conexões, que podem ser feitas, desfeitas e refeitas. Os indivíduos estão sempre aptos a se conectarem e desconectarem conforme suas vontades, o que faz com que tenhamos dificuldade de manter laços a longo prazo.>
Para Bauman, vivemos hoje em um mundo líquido, onde nossas relações de afeto se tornam facilmente descartáveis. Na passagem do mundo sólido ao líquido, as formas sociais se liquefazem: o trabalho, a família, o engajamento político, o amor, a amizade e, por fim, a própria identidade.>
O drama contido no filme Ela (2014), de Spike Jonze, nos faz pensar sobre essa fluidez nas relações. Trata-se da história de um homem que se apaixona por uma máquina. O filme retrata as novas configurações do amor, transformando o relacionamento entre o escritor Theodore e a inteligência artificial “Samantha” em um dos mais belos romances que o cinema construiu no século XXI.>
A necessidade humana de comunicação, de carinho e afeto, não importando de onde venha e de quem venha, ainda persiste. A ideia não é lançar mão de uma ou outra forma de relação, mas de complementariedade. Estamos atentos ao alienismo e ao isolamento social que a rede “social” promove. Ao mesmo tempo, sabemos que se pode fazer um bom uso deste recurso, ampliando as possibilidades de relacionamento com pessoas geograficamente distantes.>
A comunicação sempre evolui; assim caminha a humanidade. Mas, o laço entre os seres é de fundamental importância para que estes continuem a criar uma sociedade melhor, que não se conecta apenas pelos cabos de fibra ótica, mas pelo contato pessoal.>
Lívia Brandão é terapeuta ocupacional da clínica Holiste>
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>