Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 14:00
- Atualizado há 2 anos
Embora o tema não seja novo, só a partir de 2008 minha atenção foi direcionada, como pesquisador, ao estudo sobre governança nas empresas. Isso ocorreu a partir da orientação de uma dissertação de mestrado sobre as perdas financeiras da Sadia, com operações de risco no mercado cambial. Outras empresas tiveram o mesmo problema, como a Aracruz, Votorantim e Embraer. Dentre outras questões relacionadas a riscos financeiros, a pesquisa sinaliza que o investidor não poderia inferir à época sobre as decisões tomadas pela empresa, a partir das informações publicadas em seus balanços, em sítios de relação com investidores e em sítios de reguladores na internet.>
Fui novamente provocado de forma mais incisiva em nova defesa de mestrado, dessa vez em uma orientação de dissertação sobre a operação Lava Jato e seus desdobramentos na Petrobras e Eletrobras. A despeito de ser difícil detectar com antecedência ações de má conduta (veja o que ocorreu também com JBS e Odebrecht), uma pergunta pertinente durante a defesa do meu orientando, feita por um membro da banca, questionava o papel das auditorias internas e externas.>
São inúmeros exemplos de fragilidades na gestão corporativa. O mais recente e dramático envolve o rompimento da barragem em Brumadinho (mesmo com a lição anterior de Mariana!). Nesse caso, é prematuro emitir opinião antes do resultado das investigações. No entanto, deixando a indignação de lado, e exercendo o papel de professor universitário e pesquisador, é claro que os processos de governança da Vale não foram suficientes para evitar a tragédia. Isso ocorreu, provavelmente, por mecanismos de incentivo inapropriados que fizeram do lucro um objetivo a ser perseguido, sem levar os riscos em consideração de forma adequada.>
Os empresários precisam aprender de verdade com os exemplos e disseminar conceitos sobre ética, transparência, mecanismos de incentivo apropriados, prestação de contas, gestão adequada de riscos e processos fortes de tomada de decisão. Essa tarefa não pode ser vista apenas de forma decorativa. Além disso, a sociedade tem que exercer o papel de cobrança sobre as empresas, via sociedade civil organizada ou não, pela regulação e fiscalização por parte do Estado e pelas leis e mecanismos de punição que tirem o incentivo ao erro de decisão.>
Já sabemos de tudo isso! Então porque os eventos se repetem? Uma resposta pessimista seria imaginar que os problemas têm raiz na natureza humana. Uma resposta otimista seria o reconhecimento de que somos uma sociedade em transição, que aprende com os erros e que melhora a cada dia. Sei que é difícil, mas, sendo professor, vou ficar com a segunda resposta para meus alunos.>
Antonio Francisco de A. da Silva Jr. é professor de Finanças e Estratégia Econômica das Empresas Administração – UFBA>
Opiniões e conceitos expressos nosa artigos são de responsabilidade dos autores>