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Georgina Maynart
Publicado em 25 de agosto de 2019 às 12:55
- Atualizado há 2 anos
Uma safra de milho que promete surpreender até mesmo alguns agricultores. A chamada “safra de inverno” vem ganhando força e deve registrar um crescimento de 482,3% este ano na Bahia. >
Os dados do IBGE apontam que a produção de milho no estado, na chamada segunda safra, deve alcançar a maior variação entre os alimentos monitorados pelo órgão. A partir de setembro, devem sair dos campos baianos 228 mil toneladas a mais do cereal em comparação com o período do ano passado.>
De acordo com o levantamento sistemático da produção agrícola, serão ao todo mais de 276 mil toneladas de milho. Em 2018 o volume não passou de 48 mil toneladas.>
Na segunda safra as maiores concentrações de lavouras de milho estão no nordeste do estado, nos municípios de Adustina, Paripiranga, Euclides da Cunha, Entre Rios e Rio Real.>
Nesta época do ano, os agricultores aproveitam o regime regular de chuvas, entre abril e agosto, para realizar as plantações de sequeiro. É uma espécie de “safrinha”, bem menor do que a primeira safra, que chega a ser cinco vezes superior, mas que tem conquistado dimensões bem maiores do que o planejado. >
Na temporada 2019 a chuva caiu na medida certa, e super safras estão prestes a serem retiradas do campo. Bem diferente do ano passado, quando os agricultores destas regiões chegaram a perder quase toda a produção por causa da seca.>
ADESÃO>
Não foi apenas a chuva que veio em boa hora. Em muitas partes do estado a elevação da produção está ligada à adesão de novos agricultores aos milharais. Muitos produtores passaram a plantar o cereal por considerar o cultivo menos vulnerável às variações climáticas do que outros alimentos.>
Em Euclides da Cunha, um dos maiores produtores de feijão do estado, centenas de agricultores aderiram de vez ao cultivo do milho. Neste município, enquanto a área plantada com feijão foi reduzida em 38%, caindo de 40 para 25 mil hectares, a de milho cresceu 10%. Agora os milharais já ocupam mais de cinco mil hectares na região.>
“As plantações de milho não existiam antes aqui. Os agricultores estão investindo bastante, principalmente para criar uma alternativa à monocultura do feijão, que não correspondeu às expectativas nos últimos anos. O milho, além da produção do grão, permite a utilização da palhada como forragem e na pecuária leiteira. É um investimento mais seguro”, afirma Maria Djalma Abreu, secretária de agricultura e pecuária de Euclides da Cunha.>
Na Fazenda Sertão Forte, tradicional produtora de feijão, os milharais foram plantados pela primeira vez este ano. Agora os pés de milho ocupam quase duzentos hectares na fazenda.>
“Temos que diversificar a produção. O milho oscila menos de preço e pode ser fornecido também para quem confina gado. Se não der para fazer espiga, guarda e serve de ração”, afirma o produtor rural José Nilson dos Santos de Santana, conhecido como Zé do Louro.>
Já a área cultivada de feijão da fazenda está 70% menor.>
“Eu continuo sendo feijoeiro, mas diminuí a área de feijão de quinhentos para cem hectares. Não podemos colocar todos os ovos numa mesma cesta, senão quando quebrar, quebra de uma vez só”, completa o agricultor que também plantou sorgo, um outro cultivo que vem ganhando força na Bahia. José Nilson, tradicional produtor de feijão em Euclides da Cunha, é um dos agricultores que aderiu as lavouras de milho e espera primeira safra. (Foto: acervo pessoal) Como a maior parte da safra em andamento ainda não começou a ser colhida no estado, a oferta de milho ainda está pequena no mercado baiano. A saca de 60 kg está sendo comercializada em média por R$ 55, cerca de 55% a mais do que nos períodos de pico de colheita. A tendência é de queda nos preços nos próximos meses, à medida que as espigas começarem a ser retiradas das plantações.>
MECANIZAÇÃO>
Em Paripiranga, atualmente um dos principais produtores de milho do estado, mais de 95% dos nove mil produtores rurais abandonaram o cultivo de feijão nas últimas duas décadas e também optaram pelo cereal.>
“O feijão era mais vulnerável às variações do regime de chuva e por isso mais arriscado, por isso foi sendo deixado de lado. Muitos produtores rurais passaram para o milho pela segurança, e também porque a mecanização da lavoura é maior. Hoje até quem planta abóbora, mantém o cultivo consorciado com o milho”, afirma Mayk Pereira, secretário de agricultura do município.>
Este ano os milharais estão firmes e fortes, apesar da chuva ter chegado com atraso no início do ciclo e exigido replantio das sementes fora do período convencional. Agora as lavouras estão no ponto de palha e a maior parte da produção está assegurada. Esta semana equipes da Conab visitarão a região para fazer os primeiros levantamentos consolidados da safra. MIlharais da safra de inverno prometem gerar produção 482,3% maior do que em 2018. Institutos projetam safras acima da média na Bahia e no Brasil. (Foto: Mayk Pereira) PRODUTIVIDADE>
De acordo com o IBGE, as estimativas apontam que a safra nacional de milho 2019 deve alcançar um recorde histórico desde que as lavouras brasileiras começaram a ser monitoradas pelo órgão em 1975. A segunda safra, ainda chamada por muitos de safrinha, será uma das maiores da história do Brasil, alcançando mais de 73 milhões de toneladas. >
Já de acordo com a Companha Nacional de Abastecimento (CONAB), a melhoria da produtividade através da tecnologia tem sido essencial nesta escalada. Os agricultores devem produzir 26% a mais por hectare, o que vai permitir uma colheita 35% maior do que a alcançada no ano passado.>
Segundo os especialistas, o investimento no manejo, a intensificação do uso de máquinas e a utilização de sementes selecionadas estão fazendo a diferença. >
Outra estratégia é a implantação das chamadas tecnologias limpas para combater pragas. A Embrapa tem incentivado o uso do controle biológico e realizando treinamentos com os agricultores sobre a eficiência de insetos predadores nas plantações, como a vespa Trichogramma. Estudos comprovam que a espécie ajuda a combater os ovos de lagartas comuns nos milharais.>
"Além da eficiência e do menor custo, o controle biológico evita o aumento de resistência de insetos-pragas aos inseticidas e promove um crescimento significativo dos inimigos naturais ou insetos benéficos nas lavouras. Esta vespinha impede o nascimento das lagartas, evita danos à planta, e é muito eficiente na detecção, no campo, do ovo da praga”, diz Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo. No nordeste da Bahia, milharais foram beneficiados pelas chuvas, mas mecanização da lavoura também vem contrbuíndo para aumentar a produção. (Foto: Mayk Pereira) MERCADO>
O milho é o cereal mais consumido no mundo e tem uma cadeia produtiva diversificada, que vai muito além das simples espigas verdes consumidas nos meses de junho no Nordeste. O cereal seco é utilizado in natura ou em produtos industrializados, e a maior parte não vai para consumo humano. >
Dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo mostram que 75% do milho produzido no Brasil são usados por fábricas de produtos de alimentação animal. O cereal é a base nutricional principalmente de aves e suínos. De toda a produção, cerca de 60% vai para as granjas de aves, 32% para a suinocultura, cerca de 5% são utilizadas nas indústrias de sementes, e 3% pelos criadores de bovinos.>
A outra parte da produção, aproximadamente 25%, ganha outros destinos, como as indústrias de farelo, farinha e amido de milho. O milho é rico em vitaminas A e do complexo B, carboidratos, proteínas, cálcio, ferro e amido. >
RECEITA: CUSCUZ TEMPERADO>
Um dos alimentos preferidas dos nordestinos, o cuscuz de milho ganha a cada dia novas receitas. O CORREIO mostra abaixo uma das mais populares, o cuscuz temperado, muito conhecido em outras partes do Brasil como cuscuz à paulista. Cuscuz Temperado. (Foto: divulgação) Ingredientes *Meia xícara de chá de óleo *Meia xícara de chá de azeite *1 colher de chá de alho *1 colher de sopa de cebola *520g de molho de tomate *1 colher de sopa de molho de pimenta *2 xícaras de chá de água *1 colher de sopa de sal *Cebolinha à gosto *500g de camarões pequenos *1 pacote de ervilha *3 xícaras de chá de farinha de milho *Cogumelos fatiados à gosto *Dois ovos cozidos e fatiados *Tiras de pimentão vermelho à gosto>
Preparo da receita:>
Modo de fazer a massa: Em uma panela, doure o alho e a cebola no óleo com o azeite. Acrescente o molho de tomate, o molho de pimenta, o louro, a água, o sal e a cebolinha. Cozinhe por 15 minutos em fogo baixo. Junte os camarões e cozinhe mais 10 minutos. Se necessário, acrescente um pouco mais de água. Acrescente as ervilhas e a farinha de milho e misture bem. Cozinhe por alguns minutos, até a massa começar a soltar do fundo da panela. Depois reserve.>
Montagem do prato: Numa assadeira untada com óleo, decore o fundo com os cogumelos, os ovos e as tiras de pimentão. Despeje a massa na assadeira e pressione levemente. Desenforme e sirva o cuscuz quente ou frio. >