A top e o drama: a história da modelo alagoana resgatada em morro do Rio

Eloisa Fontes fez fama nas passarelas, protagonizou capas de revista e desfilou para lendas da alta costura

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  • Jairo Costa Jr.

Publicado em 10 de outubro de 2020 às 08:12

- Atualizado há um ano

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Quando subiram o Morro do Cantagalo na última terça para resgatar uma jovem vista com os seios de fora e vagando desnorteada pela Praça General Osório, Zona Sul do Rio de Janeiro, os policiais da Operação Ipanema Presente sequer conheciam o enredo que estavam prestes a descortinar. A história que comoveu o país e realçou os contrastes em torno do universo da moda mistura sonhos e pesadelos, sucessos e infortúnios vividos pela modelo alagoana Eloisa Fontes até ser encaminhada, aos 26 anos, para um hospital psiquiátrico em Botafogo.

Para entender o drama de Eloisa, é preciso retroceder no tempo. Descoberta aos 17 anos, a então aspirante a top model deixou a mãe, sete irmãos e a pobreza em Piranhas, no interior de Alagoas, para tentar a sorte em São Paulo, repetindo a trajetória de milhares de outras garotas brasileiras. Com 1,80 de altura, corpo esguio e traços marcantes, as conquistas não tardaram. A partir de 2013, já em Londres, desfilou nas semanas de moda de Paris e Milão para estrelas da alta costura, como Vivienne Westwood e Giambattista Valli.

Nos anos seguintes, acrescentou ao portfólio trabalhos para Giorgio Armani, Stella McCartney, Dolce & Gabbana e Dior. Além do talento para as passarelas, Eloisa também ganhou destaque como modelo fotográfica, protagonizando campanhas para grifes famosas e capas para as mais conceituadas revistas de moda do mundo. Entre as quais, Elle, Glamour e Grazia. Frequentemente, era clicada ao lado de celebridades de peso, como Paul McCartney. 

Reviravolta após perder a guarda da filha por 'fotos comprometedoras' Não se sabe ao certo como a roda da fortuna começou a girar ao contrário na vida de Eloisa, mas um fator é apontado como estopim nas declarações feitas à imprensa por amigos, ex-agentes e colegas de trabalho: o casamento com o modelo e produtor russo Andre Birleanu, de 41 anos, conhecido por participar do “America's most smartest model”, programa de TV nos EUA dedicado a descobrir talentos.

Ambos se conheceram em 2012. Dois anos depois, se casaram. Do relacionamento, nasceu Azzurra, hoje com 7 anos. Na época que estavam juntos, a filha do casal circulava no backstage dos eventos de moda, onde era paparicada e fotografada no colo de estilistas como Armani, Domenico Dolce e Stefano Gabbana, dupla para qual Azzurra e Eloisa estrelaram, em 2016, uma campanha publicitária. Pouco tempo depois, veio a separação e perda da guarda da filha. 

Em entrevista ao jornal O Globo, o empresário carioca Paulo Fernando Santos, que agenciou durante um ano e meio a carreira da alagoana, disse que Birleanu obteve o direito de ficar com Azzurra ao apresentar imagens da ex-companheira em “cenas comprometedoras”. “São fotos em ato sexual, feitas pelo próprio (Birleanu). Ela sofre muito com essas imagens, que foram publicadas em alguns sites”, afirmou.  (Foto: Ipanema Presente/Governo do Estado do Rio) Surtos e sumiços começaram durante temporada nos EUA Em fevereiro de 2019, Eloisa se mudou para Nova York, já contratada pela Marilyn Agency. Nos EUA, manteve a rotina de modelo. Em junho do mesmo ano, veio o primeiro surto. A alagoana foi encontrada desorientada em White Plains, cidade próxima a Manhattan, após desaparecer por cinco dias. Em janeiro de 2020, se mudou para o Rio, sem avisar a família. Inicialmente, dividia apartamento em Copacabana com um amigo. Em pouco tempo, se mudou para a casa do novo namorado na Barra da Tijuca. O romance durou quatro meses. Um dos poucos amigos da modelo no Rio, Francisco Assis contou a O Globo que o comportamento da alagoana mudou rapidamente, com indícios de distúrbio emocional e psicológico. Sem conseguir trabalho na área - o contrato quase fechado com a agência Joy Models foi interrompido pela pandemia -, Eloisa começou a vagar por favelas como Cidade de Deus e Jacarezinho. Em agosto, foi internada em dois hospitais da Zona Oeste após sofrer outro surto. 

Avisada pelo ex-namorado de Eloisa, a mãe deixou Piranhas para tentar levar a filha para Alagoas, mas ela escapou quando estava prestes a embarcar no Aeroporto do Galeão. Desde então, havia sumido do mapa. Só reapareceu para o mundo depois que um morador de rua, biólogo cuja vida também virou do avesso, alertou a equipe da Operação Ipanema Presente sobre a jovem que vagava seminua rumo ao Cantagalo, onde ninguém imaginava a história por trás daquela mulher alta e bonita. Os policiais tiveram dificuldades para resgatá-la, mas acabaram convencendo a modelo, que exibe no dedo a tatuagem com o nome da filha, a ser internada no Instituto Philippe Pinel, talvez a porta para o recomeço na vida de Eloisa.