A transformação da Barra

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  • Waldeck Ornelas

Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Primeira área a ser requalificada no âmbito do Projeto Orla, que nos últimos anos mudou a imagem da borda marítima de Salvador – a oceânica e a da Baía de Todos os Santos – o projeto da Barra, por seu caráter urbanisticamente transformador e pelos novos paradigmas adotados, provocou reações as mais diversas.

De um lado, a população da cidade se apropriou dos novos espaços para pedestres ou ao menos compartilhados, que foram destinados ao uso das pessoas. Embora usual mundo afora, foi uma novidade por aqui. Ficou mais prazeroso ir ver o pôr do sol, assistir a shows e eventos cívicos, usufruir dos novos equipamentos, participar da convivência ao ar livre e em espaços abertos. Por outro lado, vozes do atraso se manifestaram e mobilizaram contra a abordagem inovadora, marco de uma nova era e de novos valores urbanos, reclamando por liberdade para os carros, pelo incômodo da presença das pessoas, pelo novo modo de viver a área.        Além dos aspectos urbanísticos, foram muitas as transformações: os velhos fortes  foram convertidos em modernos espaços culturais; o Morro do Cristo foi reurbanizado; o próprio Carnaval passou a ter uma área mais apropriada para o circuito Barra-Ondina. O bairro ganhou até um parque natural marinho!

Muito a Barra ainda vai melhorar, mas isto só acontecerá quando ocorrer a maciça adesão da iniciativa privada, que ainda não veio, em parte por conta da profunda crise econômica, prolongada pela pandemia; em parte pelo imobilismo que move as iniciativas empresariais locais.

É certo que, pelo menos recentemente, já a indústria imobiliária começou a se movimentar e cerca de uma dúzia de novos empreendimentos encontram-se em implantação na área. E chegou convertida pela outorga verde, um incentivo municipal que induz a práticas sustentáveis, que possibilitam redução no IPTU. O IPTU Verde passou até a ser item de venda no mercado imobiliário de Salvador, especialmente na Barra, onde dez em cada dez empreendimentos já aderiram a essa política. Não aderiu contudo à fachada ativa, também incentivada, que deveria ser tornada obrigatória.

Apartamentos de até 50m² estão dispensados da vaga de garagem. Daqui a cinco-dez anos o carro será elétrico, autônomo, compartilhado e demandado por aplicativo, tornando absolutamente desnecessário esse custo para os proprietários de imóveis e esse desperdício de espaço.

Embora se justifique na pandemia, é obtusa a insistência em manter o antigo Espanhol como hospital. Contribuirá mais com a cidade convertê-lo em hotel, para o que a própria colônia poderia mobilizar um grupo espanhol, reforçando os vínculos, trazendo expertise e atraindo fluxo de turistas.

Tampouco dá para entender que uma área privilegiada e potencialmente relevante como o térreo do edifício Oceania continue fechado, sem uso, quando poderia estar dando ainda mais vida à Barra e renda aos seus proprietários. Caso típico de subtilização, passível de IPTU progressivo.       A elite local precisa entender, a partir da Barra, que aqui também se pode ter e desfrutar o que ela viaja para ver e curtir nas cidades do exterior e, até então, achava que aqui era impossível existir. Se pretendemos ser uma cidade moderna, turística, cosmopolita, diversa, sustentável, é hora de abandonar o provincianismo e incorporar-se ao esforço público de trazer para cá os conceitos do novo urbanismo. 

Certamente tende a haver uma mudança populacional na poligonal compreendida entre o Porto, o Farol, o Morro do Cristo e a Av. Marquês de Caravelas. Ela implica maior volume demográfico – ausência de que padece o Centro Histórico – e vai em sentido inverso ao que a esquerda conservadora costuma chamar de gentrificação.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: Gestão e Planejamento.