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Cesar Romero
Publicado em 22 de março de 2021 às 05:00
- Atualizado há um ano
Cria-se a partir do nada, portanto criação. A tela em branco desafia o pintor, o papel o escritor, os espaços de ar os gestos do dançarino. O jogo da reinvenção das imagens visuais faz o estilo do artista. A complementariedade do texto marca quem escreve. Sempre do nada. Há uma dinâmica que implica percurso pelo espaço, pelo tempo e por outras instâncias poéticas e ideativas mobilizadas na ação, no fazer. Ficam vestígios do tempo histórico em que o trabalho artístico foi produzido.
O repertório ideativo é criado na busca do produto final. Pronto o trabalho, o nada cede lugar ao operário e sua arte, que envolve matrizes do pensamento, de ideologias e de outros campos da vida social, explicitadas na singularidade da linguagem própria de cada arte, produzindo desdobramentos de acordo com o repertório ideativo.
Existem muitas variáveis, que o tempo vai fixar, o mais importante é a inventividade. Formar uma trajetória não é tarefa fácil, envolve coerência, tenacidade, tempo e vontade. Picasso (foto) mudava sempre Picasso, Mondrian mudava sempre Mondrian. Isso não quer dizer que o artista repita uma fórmula de sucesso, é mudar dentro dessa fórmula sendo ele mesmo. E não trair sua índole nativa, por modismo, mercado, consumismo ou tendências.
Rubem Valentim quando acusado de repetição sempre repisava uma frase que não era dele: “repetir, repetir, até ficar diferente”. Valentim não se repetia, ficava diferente. Existem duas coisas eternas: o tempo e a arte. A arte muda consciência humana, o oportunismo a desfaz. Vivemos num curto espaço de tempo e ele ratifica carreiras e desfaz também. Cada artista é o seu próprio nome, seu próprio trabalho, que deve ser feito com a humildade de um aprendiz. Mestre é aquele que tem a capacidade de aprender. O artista muda sendo ele mesmo. Mudar não significa viver o avesso, nem mudar ao sabor dos ventos. O mundo busca novas invenções, ávidos por elas.
O trabalho é morrer um pouco em combustão para produzir algo, vender a criação e viver com dignidade dela. A vida do artista é sempre instável, épocas vendem seus produtos, outras épocas não, e assim se acostumam a esticar o dinheiro e ser perigoso comprar algo a prestação. Muitos meses passam sem vender.
Agora com a covid – 19, o aperto é geral.
Para os que têm dinheiro, não querem investir com medo de adiante faltar, porque ninguém sabe quanto tempo durará a pandemia. Vivem no futuro e os artistas que vivem no aqui-e-agora amargam carências. Algo é certo: talento não faz mercado, fama também. O mercado de arte é subjetivo, heterogêneo e não se sustenta em versão economicista.