A volta do Médio São Francisco

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Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 15:30

- Atualizado há um ano

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O cenário econômico baiano registra a deflagração de uma nova frente de expansão econômica, depois de um longo e tenebroso inverno. Refiro-me ao anunciado Polo de Desenvolvimento Bioenergético e Sucroalcooleiro, à base de cana-de-açúcar irrigada, na margem esquerda do Médio São Francisco. A produção deverá envolver, além de etanol, a geração de energia solar, eólica e de biomassa.

O Oeste já despertara, desde o final dos anos 1970, o interesse pela cana-de-açúcar. Dois ou três projetos chegaram a sem implementados no Cerrado e não prosperaram, provavelmente por falta, à época, de recursos tecnológicos.

A Bahia produz apenas 10% do etanol e 26% do açúcar que consome. A meta é ter implantadas dez usinas nos próximos anos, das quais a primeira já iniciada. Removida a trava do zoneamento agroecológico, que excluía a região, espera-se agora a revogação de duas resoluções do Conselho Monetário para eliminar dúvidas sobre o financiamento das atividades.

A região do Médio São Francisco encontra-se hibernando desde que se interrompeu a navegação, que ia de Juazeiro (BA) a Pirapora (MG). Realizando, em 1974, o primeiro estudo estadual naquela área, cheguei a encontrar-me em Carinhanha com o Benjamin Guimarães, o último dos vapores. Hoje, baseado em Pirapora, serve apenas a passeios turísticos. Depois disto, barcaças ainda chegaram a transportar soja e algodão, de Ibotirama a Juazeiro, trecho em que a hidrovia é praticamente pronta.

O eixo da região é o rio, e no rio a hidrovia. Com a perda da navegação a região perdeu a sua unidade e desintegrou-se, realinhando-se com as rodovias que a cruzam transversalmente. Conta com cidades importantes, como Xique-Xique, Barra, Ibotirama, Bom Jesus da Lapa e Carinhanha, além de Santa Maria da Vitoria, no rio Corrente, também navegável.

A retomada das atividades econômicas ao longo do rio poderá, na medida em que o transporte hidroviário seja revitalizado, dar vida nova à região. E não se perca de vista que a hidrovia é uma aliada da causa ambiental, na medida em que depende do rio saudável para ter o calado necessário. A ferrovia Transnordestina, entretanto, está sendo construída sem ligação com o Polo Juazeiro/Petrolina, a área mais dinâmica do Semiárido nordestino e, portanto, sem integração com a hidrovia.

O São Francisco tem uma presença histórica muito forte. No passado tornou-se o “rio da unidade nacional”, por ter facilitado a colonização; em meados do Século passado foi rota migratória para os retirantes da seca. Em Seara Vermelha, Jorge Amado registrou o fluxo de nordestinos em direção ao Sul do país pela via hidroviária. A permanência de muitos deles em Minas Gerais deu origem à expressão “baiano cansado”, para identificar os que aí se detiveram.

Os pernambucanos, mais que os baianos, sempre tiveram os olhos voltados para o vale do São Francisco. A agricultura irrigada do Submédio São Francisco, no Polo Juazeiro/Petrolina, sempre foi, do ponto de vista econômico, predominantemente pernambucana. E são pernambucanos praticamente todos os grupos que recorreram aos incentivos fiscais do Sistema 34/18 da Sudene para implantar projetos agropecuários no trecho baiano da margem esquerda do rio São Francisco. Não por acaso, são pernambucanos os Paranhos que estão investindo na primeira usina, em Muquém do São Francisco.

Também, não sem razão, na Constituinte tivemos que derrotar a proposta de reintegração a Pernambuco da antiga “Comarca do São Francisco” – que abrangia todo o Oeste baiano até o rio Carinhanha, na divisa com Minas Gerais.

Em áreas pouco desenvolvidas, a chegada de novos empreendimentos econômicos de grande porte impactam fortemente o PIB e as oportunidades de trabalho e renda, algo de que a Bahia está muito carente.

Waldeck Ornelas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.

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