A voz do Subúrbio: ela veio do Piauí para ter liberdade de ser quem é em Salvador

A líder comunitária Rose Silva é uma das organizadoras da Caminhada LGBT do Subúrbio Ferroviário e voz ressonante na região

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  • Thais Borges

Publicado em 8 de março de 2017 às 14:49

- Atualizado há um ano

Rose Silva é uma voz ressonante no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Natural do Piauí, veio para Salvador aos 19 anos. Hoje, ela não revela a idade. “Idade: ‘bem na fita”, diz, aos risos. De fato, o que é relevante na vida de Rose é sua luta, não sua quantidade de anos.

Mora em 15 anos em Plataforma, onde é líder comunitária e se consolidou como uma das organizadoras da Caminhada LGBT do Subúrbio. Ela não chama de ‘parada’, como as tradicionais Paradas do Orgulho LGBT pelo mundo afora. Prefere ‘caminhada’ porque dá a ideia de movimento. E Rose não fica parada. “Essa última, eu, literalmente, parei a (Avenida) Suburbana. Travei mesmo. Teve engarrafamento até Simões Filho. Mas foi bom. Não vi nenhuma crítica negativa ao evento”, conta.Estudante de Direito, ela se aprendeu a defender o que acredita. “Vivo uma luta diária e tive uma grande barreira que foi a barreira familiar. Vim para cá (para Salvador) justamente para assumir o que eu queria”, lembra Rose, que é lésbica e aproveitou a promoção e a transferência da loja de departamentos em que trabalhava na época para conquistar sua liberdade. Hoje, a família sabe de sua orientação sexual e respeita. “Mas ser gay em qualquer lugar do mundo é uma luta diária. Nossa luta não acaba, não. É infinita”.Ela não se deixa assustar. Já morou até em ocupação sem teto. Por isso, hoje, todo dia 25 de dezembro, ela distribui presentes para crianças que vivem em invasões no Subúrbio. No último Natal, foram cerca de 500 presentes, todos recebidos de doações.No dia da entrega, Rose vira Mamãe Noel. Antes, pedia a algum amigo para ser o Papai Noel, mas, depois de ser deixada na mão, assumiu a manta da ‘boa velhinha’ nos últimos dois anos. “Quando eu bato o sim, aparecem muitas crianças. Aí eu digo: ‘aqui é a Mamãe Noel”, conta Rose, que não tem filhos, mas cogita adotar uma criança, no futuro.Para ela, a luta das mulheres ainda é grande – especialmente, diante de um mercado de trabalho tão machista e excludente. Recentemente, perdeu uma oportunidade de trabalho por ser mulher. A vaga era para fiscal de limpeza, uma função que ela tem experiência. Mas a especificação era que fosse ocupada por um homem. “Você tem um currículo bom, tem tudo que está pedindo, mas a empresa quer um homem. Não sou só eu que passo isso, mas todas as mulheres. As empresas deviam olhar só o currículo”, desabafa.