A WSL faz uma manobra pela igualdade no surfe

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  • Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Você conhece, caro leitor ou bela leitora, a World Surf League (WSL)? Como o surfe está na crista da onda (que coisa cretina de se escrever!) e os surfistas brasileiros, neste momento, dominam o circuito mundial, é bem possível que você conheça. Mas, pra quem não conhece, devo esclarecer que essa entidade é como se fosse a Fifa do surfe em escala internacional.

Também como a Fifa faz com o futebol, a WSL volta e meia faz uma merda, dando a impressão de que seu objetivo é mais detonar o surfe do que desenvolvê-lo. Acontece que, esta semana, eles merecem aplausos.

A WSL anunciou que, a partir de 2019, todas as competições organizadas por ela terão as mesmas premiações em dinheiro para homens e mulheres. Com isso, a companhia torna-se a primeira liga esportiva de um esporte global, sediada nos Estados Unidos, a promover a igualdade de gênero em suas premiações. Nota 10.

Como era de se esperar, mulheres praticantes ou simplesmente amantes do surfe comemoraram a notícia mundo afora. Mas, também como era de esperar, apareceram os imbecis para criticar a decisão.

No perfil da própria liga numa rede social, um cidadão cuja nacionalidade me escapa escreveu que as mulheres não deveriam ganhar a mesma coisa porque “não tem a mesma capacidade técnica que os homens”. “Nada contra a igualdade, mas a realidade é esta”, completou o rapaz – aqui, fiz uma tradução livre.  

De cara, surgiram outros para concordar. Teve um, sabe-se lá de onde, que anotou o seguinte: “Isso tudo é culpa do feminismo. Deixem a política fora do surfe”. Esse deve ser da turma que acha que política e esporte não se misturam, no que precisa ser avisado que política se mistura com absolutamente tudo e sobre ela precisamos estar vigilantes o tempo todo.

A visão de quem faz comentários como esses é tão tacanha e estreita que, para além do fato de a equidade (de quem está disputando o mesmíssimo torneio) ser um ideal social em qualquer atividade, eles sequer conseguem enxergar a coisa pelo prisma comercial.

Com melhores premiações para as mulheres e a equiparação com os homens, a WSL, por óbvio, movimenta ainda mais uma engrenagem que envolve patrocinadores globais e marcas multinacionais de roupas e acessórios, aumentando o consumo e o interesse pelo surfe não só entre os garotos, mas também entre as garotas.

No plano micro, competidoras bem-sucedidas vão ganhar mais dinheiro. No plano macro, a WSL vai ganhar mais dinheiro e mais praticantes para o seu esporte, o que fará que ela ganhe ainda mais dinheiro no futuro.

No rastro da novidade, a australiana Stephanie Gilmore, hexacampeã mundial, lembrou que, ao entrar no mundo do surfe competitivo, conseguiu um feito jamais alcançado por qualquer homem: nos seus quatro primeiros anos no circuito mundial, faturou quatro títulos.

Mesmo assim, lembra Gilmore, era difícil conseguir patrocinadores que valorizassem sua performance comprovadamente fenomenal. O grosso do dinheiro sempre ia (vai) para os homens, mesmo aqueles que nunca ganharam nada.

O mundo do surfe deu um passo à frente e, talvez, sirva como incentivo para outras modalidades esportivas. Como o esporte, de um modo ou de outro, sempre traz alguma influência para a vida fora dele, este seria um ótimo exemplo.

*Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados