Acessos não autorizados a hospitais colocam pacientes em risco, diz Cremeb

Conselho divulgou nota pedindo tranquilidade nesse momento de pandemia

  • D
  • Da Redação

Publicado em 18 de junho de 2020 às 11:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) divulgou nota nesta quinta-feira (18) afirmando que o acesso não autorizado de pessoas a hospitais e postos de saúde pode colocar em risco profissionais e pacientes. Ontem, o deputado estadual Capitão Alden (PSL) foi acusado de invadir um hospital de campanha de combate à covid-19 em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.

Na nota, o Cremeb diz que as pessoas não familiarizadas com as normas que entrem sem autorização colocam em risco "a segurança dos profissionais e, principalmente, dos pacientes indefesos". Também aumentam risco de transmissão de infecções, desrespeitam a privacidade dos pacientes e trazem "intraquilidade" em um momento delicado.

"O conselho, como órgão fiscalizador da prática médica, está atento e cumprindo com sua missão, levando aos demais órgãos competentes as não conformidades, como os Ministérios Públicos Federal e Estadual", diz a nota. O controle de mau uso no Sistema Único de Saúde (SUS), diz, deve ser feito com "mecanismos legais", destaca o conselho, que recomenda à população baiana "prudência e tranquilidade", com união para enfrentar a pandemia. 

Atos como o de ontem aumentaram desde que o presidente Jair Boslonaro (sem partido) pediu que as pessoas "deem um jeito" de entrar nos hospitais para verificar se há de fato doentes por covid-19 internados. 

Invasão no Riverside O deputado estadual Capitão Alden (PSL) é acusado de invadir, na manhã desta quarta-feira (17), as dependências do Hospital Riverside, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), o deputado estava acompanhado de seguranças quando adentrou a unidade, que é dedicada ao tratamento de pacientes com diagnóstico de coronavírus (covid-19).

A unidade é uma área de isolamento respiratório e de contato, onde é proibido visitas e acompanhantes."Durante todo o momento, o deputado ameaçava os profissionais da unidade de dar voz de prisão e demonstrava estar armado", informou a Sesab, em nota publicada em seu site.Segundo a pasta, um dos seguranças do parlamentar posicionou-se na porta de um dos quartos, tendo acesso a uma paciente com as partes íntimas expostas devido ao banho no leito.

Em uma postagem em sua conta no Twitter, o titular da Sesab, Fábio Vilas-Boas, postou um vídeo do parlamentar dentro da unidade e criticou a atitude.

No vídeo, o deputado aparece falando que vai adentrar a unidade porque este é o seu papel e que imagens serão feitas. Ele responde e uma pessoa no hospital que esta pode processá-lo, caso sua imagem seja veiculada indevidamente.

"É lamentável que o deputado e os seus seguranças coloquem em risco a própria saúde, sob risco de serem infectados com a covid-19, bem como a de pacientes e profissionais", completa a nota da Sesab.

Segundo a Sesab, um boletim de ocorrência foi registrado para a apuração do crime cometido. O CORREIO procurou a Polícia Militar, mas não obteve resposta sobre o ocorrido.

Em nota, o deputado informou que tem cumprido suas funções de fiscalizar os atos do Poder Executivo Estadual e que exercia suas funções. “Não irei fechar os olhos para irregularidades e tão pouco utilização do momento de pandemia para gastos exorbitantes com supostas desculpas que são para as unidades de saúde”, pontua Alden.

Veja a nota de Alden na íntegra:

"O deputado estadual Capitão Alden mantém seu posicionamento firme quanto às suas atribuições enquanto representante do Poder Legislativo Estadual. O parlamentar é o único entre os 63 deputados estaduais na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) que tem cumprido todas as funções do cargo, especialmente, a fiscalização dos atos do Poder Executivo Estadual. Graças às investigações feitas por Alden diversos processos de aquisições e pagamentos duvidosos foram denunciados, a exemplo do contrato de 2.8 milhões de reais, a denúncia feita ao Ministério Público (MP) e Tribunal de Contas do Estado (TCE), o que resultou na anulação do referido contrato", diz a nota.

Através da assessoria, o deputado informou que vinha solicitando visitas aos hospitais de campanha, sem receber resposta. O secretário Fábio Vilas-Boas teria dito, em conversa no WhatsApp no final de maio, que autorizaria a visita. Em uma segunda nota à imprensa, a Sesab informou que disse à assessoria do deputado Capitão Alden "que não seriam autorizadas visitas a hospitais com pacientes internados. A única visita autorizada foi no Hospital Arena Fonte Nova que estava, naquela oportunidade, ainda sem pacientes internados. Não são permitimos visitas às unidades Covid-19, nem de familiares".

No último dia 11, durante uma transmissão nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro estimulou que apoiadores entrassem em hospitais e filmassem leitos vazios. No dia seguinte, um grupo invadiu um hospital no Rio de Janeiro.

Por meio de nota, o Secretário-Geral do PSL na Bahia, Alberto Pimentel, se posicionou e disse que "a executiva estadual do PSL não apóia ações de invasão a hospitais ou qualquer ato arbitrário, seja por parlamentares ou quaisquer outros filiados à sigla".

Acrescentou ainda que "é prerrogativa do parlamentar fiscalizar as ações do Poder Executivo. Entretanto, principalmente nesse momento de pandemia da Covid-19, é necessário cautela, respeito e cuidado com pacientes internados e com profissionais que trabalham nas unidades de saúde. Estas ações de fiscalização ostensiva diretamente em locais públicos cabem aos órgãos competentes: Ministério Público, Tribunal de Contas e Polícias, dentro de um procedimento legal".