Adiós, Lopetegui! Espanha e Brasil não são para principiantes

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Publicado em 13 de junho de 2018 às 19:49

- Atualizado há um ano

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Amigos, a Espanha é páreo duro para o Brasil no quesito “países que não são para principiantes”. Por aqui, Tom Jobim poderia chegar a essa conclusão sem muitas doses de uísque. Duvida? Então, vejamos.

Em 2016, o sistema de eleições indiretas fez com que o então presidente do governo espanhol, candidato vitorioso à reeleição, ocupasse interinamente o seu próprio cargo até conseguir um grande acordo com o parlamento para ser o novo (velho) presidente do governo da Espanha. Conseguem entender? É difícil mesmo.

Há duas semanas, este presidente de governo conservador, antes atabalhoado, se viu acuado com denúncias de corrupção no seu partido e, num prazo recorde de oito dias, foi destituído. O novo governo socialista, em uma semana, já tem um de seus ministros na berlinda, acusado de sonegação de impostos. Estes costumes depravados não têm ideologia, nem em Brasília, nem em Madri.

Um congresso bloqueando decisões das urnas em defesa de seus interesses e denúncias de corrupção por todos os lados não são os únicos elos entre o Brasil e a Espanha. Aqui, como aí, a seleção de futebol é um dos poderes da nação e o técnico é tão ou mais importante do que o líder político. Tudo o que gira ao redor dela vira assunto antes e depois da siesta. Tal qual nos corredores do parlamento, as articulações sorrateiras surgem para desestabilizar o que parece tranquilo dentro das quatro linhas.

As Copas pareciam imunes a isso. Pensamos “vamos esquecer essas maluquices políticas e curtir o Mundial. Tomamos uma copita de vinho, comemos umas tapas, afinal, o que pode acontecer de absurdo agora? Somos o país de Guardiola, do tiki-taka, de la Roja, de Iniesta, apaixonado pelo futebol, campeão do mundo e com os dois times mais ricos do planeta”. Pois bem, a dois dias da estreia na Copa da Rússia, a Espanha perde o seu técnico Julen Lopetegui, demitido depois de fechar, na surdina, um contrato com o Real Madrid para a temporada 2018/19.

O presidente da federação, o ex-jogador Luís Rubiales, recém-empossado e defensor de uma gestão transparente, se sentiu traído. Está certo? Sim, nenhum time deveria se colocar acima de La Roja! A Federação foi dura e assumiu o risco. Ela tem o direito de não querer que seu funcionário negocie, e aceite, um novo posto de trabalho num momento em que seu foco deveria ser a competição mais importante do futebol no mundo.

Lopetegui e o Real Madrid poderiam fechar o acordo que quisessem, quando quisessem, sem comunicar a ninguém? Sim, poderiam. Bastava pagar a rescisão de 2 milhões de euros, um troco pro Real Madrid, e pronto. Os merengues alegam que tinham medo de que a informação vazasse e fizeram o anúncio à revelia da federação, que só soube do assunto cinco minutos antes da divulgação oficial.

Nestas circunstâncias em que todos parecem certos, o Real manteve a postura de sempre. Arrogante e prepotente, faz o que quer, quando quer, a qualquer preço. Não quis deixar seus torcedores sem uma resposta, depois da saída de Zidane. O clube não pode passar mais de um mês sem treinador ou seus hinchas enlouquecem. Seu presidente, Florentino Perez, não é conhecido pelo pensamento solidário, além do Santiago Bernabéu. Hala Madrid e só. Lopetegui foi ingênuo. Será que achou mesmo que poderia comandar uma seleção, escalar, substituir, criticar e elogiar jogadores, estando ligado a um clube? Ainda mais um clube do tamanho do Madrid. Se não fosse demitido, seria muito difícil administrar o time. Ele teria coragem de sacar Sergio Ramos?

O comunicado custou o cargo a Lopetegui e a estabilidade da seleção. Os torcedores do Real não parecem se incomodar em ter no seu banco de reservas aquele que será considerado um traidor pelo resto da Espanha. O país ligado na bola viveu uma quarta-feira de suspense e incerteza.  Toda essa confusão não só encerrou a boa passagem de Lopetegui pela fúria, como talvez tenha sacrificado a seleção de futebol, um dos poucos símbolos que unem um país historicamente tão dividido e que ainda tenta juntar os pedaços de uma crise econômica sem precedente.

La Roja será treinada pelo diretor esportivo Fernando Hierro e sofrerá sem o cara que há dois anos reergueu o time de dois fracassos, no Mundial do Brasil e na Euro da França. O Madrid seguirá intacto, mas com uma legião de antimadridistas reforçada. Já Lopetegui e sua ingenuidade, sim, ficarão marcados. Apostou todas as fichas de sua carreira neste contrato. Jogou como um amador, numa mesa de especialistas. Sendo assim, corre um sério risco de perder a aposta. E na disputa entre Brasil e Espanha pelo título de “não é um país para principiante”, Jobim deixaria o uísque de lado, daria uma chance a um bom vinho tinto e arriscaria um empate.

Christiano Caldeira é jornalista e reside na Espanha.