Advogada, viúva de engenheiro morto apresentou sinais de depressão nos últimos meses

Rutileia Cruz de Brito Silva, 38, foi presa nessa quinta-feira (12) depois de receber alta de uma clínica psiquiátrica

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  • Da Redação

Publicado em 13 de maio de 2022 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Suspeita de ter matado o marido no mês passado em um edifício da Pituba, a viúva Rutileia Cruz de Brito Silva, 38, vinha apresentando características depressivas nos últimos meses, segundo a delegada que assumiu o caso, Pilly Dantas. A versão é corroborada por parentes da vítima, o engenheiro do Inema Marcello Marcos Gomes da Silva, 58. “A partir do início deste ano ela teria apresentado sinais de depressão, mas não temos comprovação de nenhuma doença psiquiátrica e não há um pedido formal da defesa de intervenção por insanidade”, diz a coordenadora da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico).

Rutileia Cruz foi presa em uma clínica psiquiátrica no bairro de Ondina, na manhã dessa quinta-feira (12). Seu advogado de defesa estave presente no momento da prisão. Segundo a delegada, a polícia esperou que ela tivesse alta da clínica para que pudesse ser encaminhada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. 

A suspeita foi ouvida no local e depois conduzida à Polinter, onde ficará à disposição da Justiça pelos próximos 30 dias. Rutileia se negou a responder sobre a autoria ou não do crime na delegacia.

Marcello foi encontrado morto com oito facadas na barriga no dia 28 de abril. A mãe foi quem encontrou o corpo do filho sem vida na cama e apenas usando cueca, o que indicaria que ele foi morto enquanto dormia. A faca usada no crime estava escondida atrás do vaso sanitário do banheiro. Quando o corpo foi encontrado, Rutileia já não estava mais no apartamento, tendo sido vista saindo do local com a criança.

Ela começou a ser procurada pela polícia no dia seguinte ao crime, que aconteceu em 27 de abril. A família da vítima suspeitava que ela estivesse foragida em Itaberaba, onde nasceu e possui família, mas a delegada não confirmou a versão. 

“Alguns dias após o crime ela voltou para Salvador. Pela informação que nós temos, ela não foi para Itaberaba porque ficaria muito óbvio e a polícia de lá já estava com o mandato de prisão. Há um conflito: a mãe dela diz que ela foi para uma cidade e ela informa que foi para outra”, explica a delegada Pilly Dantas. Quando Rutileia voltou para Salvador, foi internada na clínica psiquiátrica. 

Registro na OAB Rutileia possui registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas ao que tudo indica não atuava como advogada e estudava para concurso público. A OAB informou que a Comissão de Prerrogativas vai acompanhar as condições em que a advogada está.

Segundo a delegada, os relatos da família dela e da vítima informaram que a suspeita era pacífica e calma. Também não há informações de que ela teria sido internada em clínicas psiquiátricas antes do crime, apesar de já ter se consultado com psicólogos ao menos duas vezes.

“Todos os relatos, inclusive de vizinhos, e todas as pessoas que já conviveram com o casal dizem que eram duas pessoas muito pacatas. Ninguém relatou brigas, nem discussões, os vizinhos nunca ouviram nada. Então, foram todos pegos de surpresa por essa situação inesperada”, afirma Pilly Dantas. O casamento durou pelo menos 10 anos. 

Rutileia, no entanto, alega que era vítima de violência patrimonial (financeira) e psicológica, segundo a delegada que investiga o caso. “Ela diz que sofria muita violência psicológica, que culminou algumas vezes em violência física. Mas nós não temos registros em nenhuma das unidades [de polícia] e nenhum parente ou vizinho presenciou marcas de lesões aparentes. Então, se houve lesão, vai ser difícil chegar nessa comprovação.” 

Um sobrinho de Marcello, que não quis se identificar, negou que a viúva tenha sido vítima de violência e ressalta que Rutileia era muito pacífica, apesar de ter se comportado de maneira diferente nos últimos meses. “Se ela está dizendo isso agora é porque está querendo se colocar como vítima. Quando eles estavam em crise, inclusive, ela dizia que ia se separar e que queria ficar com muitas das coisas dele. No período em que eles estavam separados, ele continuou pagando o plano de saúde dela e nunca faltou nada ao filho”, relata. 

Separação Rutileia e Marcello estavam há três meses separados quando decidiram reatar o casamento em janeiro deste ano. Por isso, a mãe da vítima deu o apartamento, que é dela, para que o casal morasse e pudesse restabelecer os laços. O sobrinho conta que Rutileia não se envolvia muito com a família do marido e que aparecia nas confraternizações mais importantes. Segundo ele, no Dia dos Pais, ela levou o filho do casal, de 8 anos, para ficar com sua mãe e Marcello passou o dia sozinho no apartamento. 

“A gente [família de Marcello] começou a perceber que ela não era mais a pessoa que nós conhecíamos de uns meses para cá”, diz o sobrinho sobre o comportamento de Rutileia antes do crime. O filho do casal está agora com a mãe de Rutileia em um apartamento em Salvador. A avó paterna do menino entrou em contato com o neto algumas vezes, mas somente por telefone. 

De acordo com a delegada, a forma com que o casal criava o filho era alvo de disputa entre Rutileia e Marcello.“Ela alega que o pai endeusava o filho e que ela não podia sequer repreender a criança que ele [Marcello] ficava contra ela e avançava contra ela”, diz a delegada.No dia do crime, o filho do casal estava no apartamento. Na manhã seguinte ao ocorrido, Rutileia foi vista deixando o apartamento com o menino. 

“Uma vez que a mãe agora está presa, as famílias vão entrar em acordou ou tentar alguma medida judicial para decidir quem vai ficar com a guarda dessa criança”, explica Pilly Dantas. A reportagem tentou entrar em contato com o advogado que representa a defesa de Rutileia através de ligações e mensagens, mas não obteve retorno até a finalização desta reportagem. 

Outro parente da vítima, que também preferiu não se identificar, conta que toda a família ficou surpresa com o crime e espera, agora, que a justiça possa ser feita. “Ficamos sabendo da prisão pela televisão e agora estamos com expectativas. Nós não vamos saber a verdade do que aconteceu nunca, mas pelo menos vamos entender o que aconteceu de forma parcial”, afirma.

Moradores do edifício Márcio, onde o casal morava, também ficaram em choque com o crime. Uma vizinha que não quis se identificar conta que não chegou a encontrar Rutileia e Marcello juntos muitas vezes nas áreas comuns do prédio, mas que vizinhos relatam que ele tinha um perfil tranquilo. “Todos dizem que ele era um rapaz tranquilo. A mãe dele ficou muito abalada. Além de ter encontrado o corpo, voltou outras vezes para tirar o colchão ensanguentado…Foi um choque para todos”, relata. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.