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Carmen Vasconcelos
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Quem ama programas de reality show, essa semana, foi surpreendido por ver duas empreendedoras soteropolitanas no Shark Tank Brasil(Sony Channel). Mais que nadar entre os investidores, a participação da Wakanda Educação Empreendedora e sua idealizadora Karine Oliveira emprestou mais visibilidade a uma iniciativa que se propõe ajudar outros micros e nano empreendedores a utilizarem a economia circular como uma forma de garantir qualidade de vida, especialmente à população negra das comunidades de Salvador.>
Depois de receber quatro propostas, a Wakanda fechou parceria com a investidora Camila Farani, possibilitando a Karine realizar um sonho. “Quando comecei a trabalhar com essa proposta de educar para o empreendedorismo outros empreendedores, ouvi que não conseguiria vencer em Salvador. Nesses dois anos, conseguimos ajudar mais de 300 empreendimentos com a consultoria e, durante a pandemia, conseguimos construir uma metodologia inédita de atuação em rede, favorecendo 23 famílias para a produção em escala de máscaras e geramos quase R$40 mil reais de renda para essas famílias que atuaram conosco", comemora. A atuação de Karine Oliveira ajudou a mais de 300 empreendimentos negros e periféricos nos últimos dois anos (Foto: Arquivo Pessoal) Moradora do Engenho Velho da Federação, Karine diz que a perspectiva de atuação com o chamado black money sempre ocorreu nos bairros periféricos da capital baiana, no entanto, o movimento era feito sem intencionalidade, de modo inconsciente. “A Wakanda prepara esses empreendedores para atuarem com excelência, sendo escolhidos não porque são mais baratos, mas porque são muito bons”, diz. >
Invisibilidade>
Para a empresária social, nas periferias existem empreendimentos incríveis, mas, como são feitos por necessidade, terminam ficando inferiorizados. “Nossa proposta é preparar esses empreendedores pretos para atuarem num outro nível de qualidade, possibilitando que essa troca de dinheiro de fato aconteça entre nós”, completa.>
Na verdade, a Wakanda esteve no Desafio Salvador Resiliente - Mulheres e Tecnologia, promovido pelo Sebrae Bahia, Prefeitura de Salvador, Fundação Avina, BidLab e Redes de Cidades Resilientes, e ficou entre as quatro que receberam investimento para implementação de projetos. >
Karine defende que a presença num programa nacional não foi uma conquista pessoal, mas o resultado de uma rede de apoio de outros tantos afroempreendedores que entendem a perspectiva de uma economia voltada para a população negra. “Só conseguir estar lá porque outras mãos me ajudaram e isso foi muito significativo, pois existe uma invisibilidade dos negócios negros nessa cidade”, explica.>
A própria Camila Farani vibrou com a perspectiva de apresentar ao Brasil um tipo de empreendedorismo diverso daquele tradicionalmente retratado. “Vivemos um novo momento e é muito bom participar dele”, completa. >
Visibilidade>
Professora universitária, jovem e dona de uma livraria (@sertaolivrariaecafe), a coordenadora dos projetos de extensão em diversidade da Ânima e empreendedora Jancleide Góes reconhece que falar de afroempreendedorismo no Brasil é trabalhar com conceitos muito diversos. “Meu perfil de empreendedora é diferente do da minha mãe, por exemplo, que sempre teve pequenos negócios, como costureira, vendedora de salgados e doces, como forma de complementar a renda de casa.>
Acredito que há uma multiplicidade no empreender da população negra, enraizada em nossa história passada”, salienta. Para ela, todo movimento que visibilize as ações dos afroempreendedores é de extrema importância por fortalecer as resistências. A professora salienta que o empreender com tranquilidade, com capital de giro e como acesso a capital sempre foi um privilégio branco e de poucas pessoas. “As mulheres negras têm três vezes mais créditos negados do que homens brancos. A desigualdade no mercado financeiro é racial e de gênero. Ter movimentos para nomear nossas ações é uma afirmação identitária e que contribui com toda sociedade”, finaliza. >