Agonia, ascensão e glória de Boris-Day-Doris-Night. Aleluia!

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  • Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Doris é Night, e é pata manca da noite. Boris é Day, e é pato manco do dia. Ocupam o mesmo lugar no espaço. Carregam o mesmo espinhaço espigado e a mesma bunda seca e branca. Provocam desconforto nas pessoas, que o olham como se Boris-Day-Doris-Night aberração fosse. Arrastam a perna direita ao caminhar. Because:  atropelamento na passagem de pedestres localizada na esquina da avenida Sete com a Ladeira da Barroquinha, nesta Salvadores.

[Puxado pela mão da mãe, Boris-Day-Doris-Night escapou como se vento inesperado o impulsionasse, e Kombi com placa de Ipiaú-BA lhe devorou naco do tornozelo direito. Data da ocorrência:  15 de outubro de 1999 – eu estava lá].

A mãe de Boris-Doris nunca se conformaria com a deformidade física do único filho e, ressalte-se, único homem da casinha caindo aos pedaços em viela vagaba do bairro de São Caetano. O marido a trocou por carteira de cigarro que, ao sair, disse ir comprar – e nunca mais voltou.

A mãe de Boris-Doris, vendedora evangélica de acarajés e abarás no Terminal da Barroquinha, o queria perfeito, à imagem e semelhança de ‘Missias’. Boris-Day-Doris-Night, não. Recusou-se a fazer nova cirurgia – a quarta em hospital público de quinta. Gritou ‘não quero ser perfeito’ e fugiu – mas antes de bater porta da rua foi obrigado a ouvir:  - Tu qué sê pato manco pelo resto de tua vida, criatura?

Boris-Doris gritou, mas a mãe não ouviu:  - Pato manco e viado. Eu sou assim, é assim que eu sou!

Curso ginasial completo, mesmo em país ainda não necrosado feito hoje, não conseguiu emprego nem a muque. O andar de pato manco e a voz de patodonald eram demais. Cansou de ouvir:   - Viado e aleijado? Talvez no circo. Aqui, sem chance.

Boris-Doris, duro na queda, não desistia. Passou, travestida, a bater calçada à noite na Senador Costa Pinto – e, durante o dia, à paisana, vendia gororobas indigestas diversas em banquinha de meia tigela nas Sete Portas. Havia clientes, tanto noturnos quanto diurnos, que o tratavam com grosseria – mas numtavanemaí – e segurava o rojão.

[Certa noite viu a cara da morte e – tá & quá cantou Cazuza – ela estava viva. Cliente a enfiou em carro trincando de novo e a desovou semimorta no areão de Amaralina. Antes ouviu  o seguinte esculacho:  - Tá pensando que tu, carne podre que nem urubu qué comer, é pro meu bico. Sô homefino!]

Renascida das areias, voltou ao batente, com o mesmo vigor de antes – sem queixumes e azedumes, com muito escracho, gargalhava:  - Sou fada foda. Dou sempre de comê, por cima e por baixo!

Noites comeram vários dias, dias comeram várias noites, e Boris-Day-Doris-Night, coisas da vida e da morte, só que é preciso aprender, conheceu o Cabo Ozéas, negão pra-lá-de-metro – apaixonaram-se, e o vento virou. Deu em casamento, bibas e bofes reunidos em festa pra- lá-de-boa em muquifo na Carlos Gomes, 100. Data do regabofe:  12 de junho de 2018 [Eu estava lá].

[Boris-Day-Doris-Night deixou de trabalhar. Ozeas proibiu. Virou ‘do-lar’ pelas bandas de Paripe. Até que a vida os separe].