Agredido por integrantes da Bamor diz sofrer ameaça: 'Disseram que iam me matar'

Abimael foi intimidado em redes sociais

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  • Bruno Wendel

Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: SSP-BA/Divulgação

Ainda com o corpo dolorido, devido às agressões, como murros e chutes, que sofreu por integrantes da Bamor, torcida organizada do Esporte Clube Bahia, o torcedor do Vitória Abimael Ammon Nascimento Costa, 21 anos, desabafou e admitiu sentimento de revolta ao saber que seus agressores foram liberados pela Justiça. “A sensação é de injustiça. Depois de toda a agressão, da covardia, deixaram a delegacia em menos de 24 horas”, reclamou Abimael, que conversou com o CORREIO por telefone, na manhã desta sexta-feira (8). 

O ataque aconteceu na quarta-feira (6), quando o presidente da Bamor, Luciano da Silva Venâncio, 34, e outros quatro integrantes foram detidos - facas e celulares foram apreendidos. Eles deixaram a Delegacia de São Sebastião do Passé no dia seguinte. Três deles, de acordo com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), pagaram a fiança de R$ 1.497 cada um. 

Não bastasse a dor física, Abimael agora vive o medo. Depois que o caso da agressão se tornou público, o torcedor rubro-negro recebeu ameaças nas suas redes sociais.“Recebi várias mensagens. Disseram que iam me pegar, que iam me atacar novamente, que iam me matar. Apaguei as mensagens de imediato”, relatou Abimael, que preferiu cancelar suas contas no Instagram e no Facebook. O torcedor do Vitória disse ainda que, apesar da soltura, ele vai mover uma ação contra os agressores. “Vou para Salvador fazer o exame de corpo de delito. Eu ainda estou todo dolorido e com alguns ferimentos na perna, porque me joguei numa cerca de arme farpado para fugir dos integrantes da Bamor. Vou processá-los”, disse ele, que declarou que iria ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) nesta sexta.  Abimael ficou ferido após se cortar em cerca de arame farpado (Foto: Reprodução) Pego de surpresa Abimael, lembra do episódio com tristeza. Ele, que é membro da Torcida Uniformizada Os Imbatíveis (TUI) há dois anos, disse que saiu para se exercitar com a camisa da organizada, quando foi surpreendido pelos torcedores do time rival, que já chegaram dando socos e pontapés.

“O jogo do Bahia era contra um outro time numa cidade perto daqui, mas usava a camisa (Imbatíveis) por que no mesmo dia era o jogo do Vitória”, disse ele, que costuma viajar 60 km para assistir aos jogos do Leão em Salvador.

Na quarta-feira (6), dia da agressão, o Bahia empatou em 1x1 com o Atlético de Alagoinhas, no estádio Valfredão, na cidade de Alagoinhas, que fica a cerca de 60 km de São Sebastião do Passé, na Região Metropolitana de Salvador. O jogo começou às 21h30. No mesmo dia, às 19h30, o Vitória entrou em campo e goleou o Jequié por 4x0, em jogo realizado no Barradão, em Salvador.

Essa foi a primeira vez, segundo Abimael, que ele foi atacado por torcedores rivais. “Sou da Imbatíveis, mas nunca apanhei e nunca bati em ninguém. Sou da paz. Minha família é toda cristã”, declarou. Este, no entanto, é o segundo caso de agressão de torcedores da Bamor contra a família de Abimael. “Há quatro anos, meu primo foi deixado desacordado na Brasilgás, em Salvador. Ele estava com a camisa do Vitória quando foi atacado por um grupo da Bamor”, contou.   Facas e celulares foram apreendidos com membros da Bamor (Foto: SSP-BA/Divulgação) Ocorrências Para evitar confrontos entre torcedores rivais, o Serviço de Inteligência da Polícia Militar (PM) mapeou os locais de maior índice de ocorrências. Segundo o comandante do Batalhão Especializado em Policiamento de Eventos (Bepe), tenente coronel Saulo Roberto, Salvador tem cinco pontos onde são registrados o maior número de brigas entre torcidas organizadas: Mussurunga, Largo do Tanque, Ribeira, Cajazeiras e Avenida São Rafael.

“São locais onde têm maior representação das duas torcidas. Já tivemos casos de baleados. Ano passado, um homem foi atingido por um tiro no Largo do Tanque”, declarou o comandante, fazendo referência ao caso do dia 11 de novembro de 2018, quando um torcedor do Vitória foi atingido por tiros no Largo do Tanque, no dia de clássico Ba-Vi pelo Campeonato Brasileiro. Na época, os dois times se enfrentaram no Barradão e empataram em 2x2.

Com base nas informações coletadas no levantamento, os policiais passam a monitorar também as redes sociais.“O intuito é saber se há confrontos marcados, principalmente nas semanas que antecedem os jogos. Se houver, agimos rápido, acionando as guarnições da PM dessas unidades”, contou o major.Torcida única A agressão a Abimael foi comentada pelo 3º Promotor de Justiça do Consumidor, Olímpio Campinho. Ele é responsável pela determinação de torcida única nos clássicos Ba-Vis desde 2017.

“O fato é gravíssimo e acontece com frequência em todo Brasil. São grupos criminosos e a gente sempre tem a esperança que a polícia, que o Ministério Público e o judiciário consigam uma atuação mais efetiva no âmbito penal”, declarou Campinho.

“Precisamos que tudo que se faça de errado como crime, que seja apurado e processado. Ou seja, que todos os crimes sejam de fato apurados. Quando isso estiver acontecendo, vão pensar duas vezes antes de fazerem algo”, completou.