Agricultura irrigada: Bahia possui o mais extenso polo de pivôs do país

Oeste da Bahia e Agropolo da Chapada Diamantina se destacam, aponta estudo; Pivôs já ocupam mais de 1,47 milhão de hectares no Brasil

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  • Georgina Maynart

Publicado em 13 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

De longe eles chamam a atenção ao formar círculos no meio da paisagem. De perto, os equipamentos parecem robôs gigantes. A altura pode chegar a 4 metros, e as hastes são tão longas que ele podem irrigar uma área de até 530 hectares. Eles se movimentam em circunferência, e transportam água até cada plantinha da lavoura. 

O cenário é comum no Oeste da Bahia, polo agrícola que tem a maior cobertura de pivôs centrais do país. Nesta área do estado, os equipamentos de irrigação ocupam 147.087 mil hectares, cerca de 2,5% da área total destinada a agricultura na região. Os dados fazem parte da segunda edição do Levantamento da agricultura irrigada por pivôs centrais, realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A análise inclui o período entre 1985 e 2017.

Ainda de acordo com a pesquisa, feita a partir de imagens de satélite, os pivôs já ocupam mais de 1,47 milhão de hectares no Brasil. A área coberta pelos equipamentos é três vezes maior do que a ocupada em 2000, e chega a ser 47 vezes maior do que a registrada em 1985. Os mapas indicam também que o grande polo nacional de pivôs se concentra principalmente entre os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

O levantamento mostra que o polo agrícola de Mucugê e Ibicoara, na Chapada Diamantina, é o que tem a maior densidade de pivôs centrais do país. Seriam 435 equipamentos na região, espalhados por cerca de 30 mil hectares, o equivalente a 30 mil campos de futebol, representando 20,7% da área total do polo.

Os dois polos da Bahia, junto com outros 15 polos agrícolas do país, concentram 59% da área irrigada do Brasil. No topo estão muncípios de Minas Gerais e Goiás, mas sete municípios baianos aparecem entre os vinte com área equipada por pivôs centrais acima de cinco mil hectares. São eles Barreiras, São Desidério, Mucugê, Jaborandi, Luis Eduardo Magalhães, Riachão das Neves e Cocos.

Os resultados do uso dos pivôs se refletem na produtividade. Apenas 7% das plantações do Oeste são irrigadas, mas elas geram cerca de 35% do Produto Interno Bruto da região.

“É uma necessidade. Mas a grande maioria dos produtores rurais, mais de 90%, usa um sistema eficiente de distribuição de água. Junto com os pivôs, utilizamos sensores que medem a umidade do solo, e mostram se é preciso irrigar”, afirma Cisino Lopes, Diretor de Águas e Irrigação da Associação de Agricultores do Oeste da Bahia (Aiba).

A região deve, inclusive, ampliar o uso da irrigação. “Um estudo esta sendo realizado por especialistas da Universidade de Viçosa, para avaliar as águas subterrâneas do aquífero Urucuia. Só depois, em cima dos estudos, poderemos saber com exatidão o quanto pode ser ampliado”, completa.

Chapada

Na Chapada Diamantina os dados do estudo são contestados pelos agricultores. Segundo os representantes do  Polo de Agricultores de Mucugê e Ibicoara (Agropolo), a maioria dos equipamentos está parada, e o percentual de pivôs em operação não chega nem a 10% do total existente na região.

“Temos a outorga, mas atualmente o agropolo não tem nem três mil hectares com pivô. Estamos numa fase de pivô itinerante ou com muitos equipamentos parados, por conta da seca ou mesmo por gestão dos recursos hídricos”, afirma o coordenador executivo do Agropolo, Evilásio Fraga.

Segundo ele, outras áreas estão em pousil, período em que o agricultor deixa a terra parada, sem cultivo, para repor as propriedades do solo.

“Nós não repetimos o plantio na mesma área. Geralmente deixamos a terra em repouso, e até plantamos gramíneas para recompor as propriedades do solo. Porém os desenhos circulares das lavouras passadas permanecem, e são eles que aparecem nas imagens de satélite. Existem muitas destas áreas que estão sem irrigação há mais de três anos”, garante Fraga, que também é presidente do Comitê da Bacia do Rio Paraguaçu.

Em expansão

O estudo confirma esta tendência de crescimento, não só na Bahia, mas no país como um todo, quanto ao uso deste tipo de equipamento. Novos polos surgiram recentemente nos estados do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. Estima-se que até 2030 o sistema se estenderá por mais 3,1 milhões de hectares, atingindo 28% do potencial efetivo estimado.

Cerca de 90% da área irrigada com pivôs estão sendo usadas para a produção de milho, soja, feijão, cana-de-açúcar, café e algodão. Já as lavouras de frutas, raízes, legumes, folhas, flores e sementes representam cerca de 5% das áreas irrigadas do país. A Mata Atlântica concentra 11,5% da área irrigada por pivôs, e 78% estão no cerrado. Caatinga, Pampa e Amazônia equivalem a 4,7%, 4,2% e 1,6%, respectivamente.

A pesquisa revela também que o estado de Minas Gerais é o que continua a concentrar o maior número de pivôs, cerca de 31% do total instalado no país. Depois vem o estado de Goiás, com 18%. A Bahia ocupa a terceira posição, ao concentrar 15% dos equipamentos existentes no Brasil. Sendo seguida por São Paulo, que ocupa a quarta posição com 13% dos equipamentos. Juntos, os quatro estados concentram 77% dos pivôs usados na agricultura brasileira. 

AMBIENTALISTAS CONDENAM PIVÔ

A divulgação do mesmo estudo acontece em meio as polêmicas sobre uso da água para a produção agrícola, em tempos de escassez hídrica. Enquanto muitos agricultores garantem que só utilizam a quantidade autorizada, várias organizações de defesa ambiental apontam um prejuízo ecológico provocado pelo uso exagerado dos recursos, com risco de falta d’água nos mananciais.

Os pivôs são um dos principais focos da discussão. Por serem grandiosos, para muita gente eles simbolizam uma agricultura de escala, capaz de retirar, em pouco tempo, grande quantidade de água dos rios.

Um outro dado preocupa os ambientalistas. Entre 2000 e 2017, a área irrigada na Bahia cresceu 182%.  O impasse vem provocando conflitos, como o registrado em novembro de 2017 na Fazenda Igarashi, em Correntina, oeste da Bahia. Alegando rebaixamento crítico do rio Arrojado, manifestantes invadiram a propriedade e destruiram os equipamentos de captação usados para retirar água da Bacia do Rio Corrente. Os donos da fazenda afirmavam que tinham autorização e licença para usar o sistema. 

Porém, os agricultores defendem o uso dos equipamentos. Para o Diretor de Águas e Irrigação da Associação de Agricultores do Oeste da Bahia (Aiba), Cisino Lopes, a irrigação é garantia de alta produtividade. “A irrigação promove alta produtividade, duas safras por ano, e diminui a pressão pela expansão de novas áreas. Além disso, tem a questão econômica e social, gera empregos, com mão de obra permanente”, pontua. 

Entre as vantagens da irrigação apontadas pelo estudo está a capacidade de permitir uma produtividade até três vezes maior do que a agricultura de sequeiro (que depende das chuvas). Também argumentam a redução do custo da produção, o aumento na oferta de alimentos. Os dados farão parte da 2ª edição do Atlas da Irrigação que deve ser lançado em 2020, dentro do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH).

CONHEÇA MAIS SOBRE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO

Os pivôs são usados geralmente em extensas lavouras, aquelas que exigem equipamentos maiores, de grande escala. Situação comum nas plantações de soja, algodão, milho e batata. O equipamento é uma das alternativas do chamado sistema de irrigação por aspersão, onde jatos d´água são disparados em direção a planta.

Já nas lavouras de menor porte é um outro tipo de sistema de irrigação que vem sendo utilizado, o gotejamento. Ele é realizado com tubulações menores, que permitem a liberação de gotas de água diretamente em cada planta. É muito mais barato que os pivós e frequente em pomares de frutas.

O gotejamento vem sendo usado por grande parte dos agricultores que produzem tomate, cenoura, cebola e beterraba no município de Lapão, na região de Irecê, centro-norte da Bahia. Graças ao sistema que economiza água, esta área do semiárido baiano se transformou em um dos maiores polos de horticultura do Nordeste. O sistema é utilizado inclusive para fazer a fertirrigação, técnica que usa a água de irrigação para adubar e devolver os nutrientes ao solo.

“Nossa disponibilidade de água é limitada, por isto precisamos fazer gestão e, ao mesmo tempo produzir cada vez mais, o que felizmente estamos conseguindo”, afirma o engenheiro agrônomo Franklin Freitas.

Nas lavouras de tomate, o sistema tem permitido a irrigação de até 6,9 mil hectares, com produtividade de 70 a 120 toneladas, em média, por hectare.

“A irrigação permite manter a produção independente do clima, e a microirrigação mais a fertirrigação, potencializa a produtividade trazendo ganhos que o produtor não tinha antes de adotá-la”, pontua o gerente comercial Guilherme Souza, da Rivulis Irrigation. 

A empresa israelense, especializada em microirrigação, detém no Brasil a tecnologia Manna Irrigation, um sistema de monitoramento de lavouras por satélite que permite saber qual a área da plantação que necessita de água e a quantidade exata. .