Água invade caixa subterrânea da Coelba e provoca fumaceiro no Comércio

Técnico da Coelba corrigiam o problema no local e agentes da Transalvador monitoravam o tráfego na via

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 21 de agosto de 2020 às 11:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

A fumaça branca já saía do chão da Rua Reitor Miguel Calmon quando o gari Caio Palmeira, 27 anos, chegou no Comércio, às 6h, para iniciar mais um dia de trabalho. A cena assustadora para desavisados já é comum para o jovem que afirma que o problema é recorrente. "Começou a ter isso ainda esse ano. Acontece mais quando chove e não é só nesse ponto em frente à Drograria São Paulo, mas também na frente do antigo prédio do Salvador Card", disse.

Segundo a administradora do Condomínio Edifício Belo Horizonte, Vivian Santos, 45 anos, só nessa semana, é a segunda vez que a fumaça sai da mesma caixa de rede subterrânea da avenida. "É ruim, pois as pessoas chegam no prédio assustadas, com medo de algo explodir, por exemplo. Alguns param para olhar, tiram fotos, vídeos. É um transtorno. Seria bom que eles resolvam isso logo", disse.  Foto: Arisson Marinho/CORREIO Na primeira vez que o problema aconteceu, ainda esse ano, Vivian disse que ligou para o Corpo de Bombeiros, com medo do que poderia vir a acontecer."Mas, então, eles disseram que era com a Coelba. Depois, um técnico deles veio aqui e explicou que não precisávamos nos preocupar, que não era algo perigoso, era vapor de água. Eles só precisavam drenar a água que o vapor acabava", disse. Segundo Vivian, geralmente, os técnicos passam cerca de três a quatro horas para resolver o problema. Por volta das 9h, dois carros da Coelba e um da Transalvador ainda estavam no local, mas já não saía mais fumaça da caixa. Eles tiveram que interrditar uma das três faixas da avenida e o ponto de táxi. 

Em nota, a Coelba informou que o vapor d’água mostrado na imagem foi provocado pela inundação de uma caixa de rede subterrânea, na Avenida Miguel Calmon, no Comércio, no início da manhã desta sexta-feira (21). Ao entrar em contato com os componentes elétricos, houve aquecimento da água e, consequentemente, a evaporação. "Técnicos da concessionária realizam o bombeamento da água e já constataram que não houve danos aos equipamentos elétricos", acrescenta o comunicado da concessionária.

Uma pessoa que trabalha no local e não quis se identificar disse que essas interdições ainda não geram engarrafamentos, pois o fluxo na avenida está reduzido por causa da pandemia. "Meu comércio também não é afetado, pois é algo rápido. Eu também já estou acostumado, não tenhho medo, pois sei do que se trata, sei que não é perigoso", afirmou.

Possível curto-circuito O Professor de Eletricidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), Aron Miranda, aponta que a fumaça branca pode ter sido causada por um curto-circuito gerado pelo contato da água com os componentes elétricos localizados na caixa de rede subterrânea. O especialista acredita que na caixa não existe nenhum equipamento capaz de aquecer ao ponto de evaporar a água pelo contato. 

“É complicado falar sem ver, mas, muito provavelmente, essa água entrou em contato com o que a gente chama de alta tensão, mas que, na verdade, é média tensão. Como aqueles fios mais altos que ficam no parte de cima dos postes. Deve haver alguma passagem desses fios na galeria e a água deve ter fechado o curto na alta tensão, o que ferveria a água”, apontou o professor, que ressaltou que a Coelba não detalhou quais equipamentos funcionam na caixa em questão.

Caso se trate de um curto, a evaporação da água pode ser perigosa já que o líquido é condutor de eletricidade em certas condições. “Sendo condutora de eletricidade, a água vai energizar a região se ela entrou em contato com um fio de alta tensão. Ela pode energizar o chão todo ao redor e pode colocar as pessoas em risco. A água é isolante em um grau de pureza 100%, mas se torna condutora quando possui impurezas agregadas a ela, como sais minerais. Ela não é um excelente condutor, mas pode conduzir eletricidade de forma perigosa a depender do nível de tensão”, explicou o professor.

De qualquer forma, Miranda aponta que a água não pode entrar em contato com um componente energizado, como pode ter acontecido no caso registrado no Comércio. “A Coelba informa que a água aqueceu ao entrar em contato com componentes elétricos, o que causou a evaporação. Isso não poderia ter acontecido de jeito nenhum pois se uma água aqueceu ao entrar em contato com os componentes, a empresa deve se referir a componentes energizados, que não devem entrar em contato com a água. Isso não é normal e comum, não era pra ter acontecido”, disse.

Segundo o professor, um curto provocado por uma água ao ponto dela evaporar não necessariamente danifica os equipamentos. “Essa corrente que circularia pela água, para a rede de energia, vai ser sentida como um carga consumidora, como mais um equipamento estivesse sido ligado. Não necessariamente provocaria um dano maior se essa água não penetrou em outras partes”, afirmou Miranda.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro