Aguaceiro: chove na capital 60% do esperado para o mês de julho

A Defesa Civil de Salvador registrou 321 ocorrências até as 21h30

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  • Vinicius Harfush

Publicado em 9 de julho de 2020 às 21:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva / CORREIO

A chuva que atingiu Salvador e região metropolitana na madrugada desta quinta-feira (9) causou estragos em diversas regiões da capital. O aguaceiro foi tanto que, em 24h, foi registrado 60% da chuva prevista para todo mês, o que corresponde a 120mm. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) registrou 321 solicitações até as 21h30 desta quinta. Entre as ocorrências foram 122 relatos de deslizamentos, 17 alagamentos de imóveis e outras 42 avaliações de terreno, além de quedas de árvore, infiltrações e ameaça de desabamento de muro.

Entre as localidades mais atingidas, está a avenida Aliomar Baleeiro, na altura de São Cristóvão. A frente da casa do funcionário público Ronivaldo Silva, 48, foi tomada pela água desde o início da manhã. “Choveu a madrugada inteira, não parou. Quando deu 6h30, a rua alagou de vez. O único bueiro daqui da Aliomar está entupido. Saí para trabalhar e quando retornei, às 15h, os vizinhos ainda estavam tirando água de dentro das suas casas”, contou ele, que mora na rua Gabino Kruschewsky, transversal da avenida principal. Ele ainda informou que o nível de água subiu cerca de 40 centímetros e invadiu mais de cinco casas.

O problema é antigo. Segundo o funcionário público, as autoridades municipais já foram informadas do problema de escoamento, mas a situação ainda não foi resolvida. Valdo Alves, 50, que também é morador da avenida, tenta amenizar o problema fazendo uma limpeza constante na porta de sua casa, para evitar que o lixo se acumule e a água invada sua casa. “Toda vez que chove, alaga. Até as lojas que ficam aqui nas imediações sofrem com isso. Acordei e encontrei tudo alagado já, então decidimos fechar a rua para evitar que qualquer carro passasse e fizesse ondas, o que iria piorar a situação”, revelou. Regiões como Cajazeiras, Subúrbio e Valéria foram atingidas pela chuva (Foto: Marina Silva / CORREIO) Já o drama de moradores do Condomínio Residencial Colina Verde, no bairro do Resgate, veio acompanhado de um grande susto. As chuvas e ventos fortes derrubaram uma árvore gameleira de grande porte, que estilhaçou as janelas de apartamentos do local. Segundo relatos de uma moradora, que chegou a gravar um vídeo mostrando o vidro espalhado por todos os cômodos da casa, seu filho de oito anos estava no sofá, que fica ao lado da janela, quando os galhos invadiram o apartamento. 

O diretor geral da Secretaria de Manutenção da Cidade (Seman), Ian Mariani de Oliveira, confirmou à reportagem que o vídeo é verídico e disse que o condomínio é construído ao lado de uma reserva ambiental. "Ao lado desse conjunto tem uma reserva com algumas árvores de grande porte. É uma área sem acesso a equipamento e tem uma reserva ambiental. Uma gameleira de grande porte caiu e, pela proximidade com que os prédios foram construídos, os galhos dela acabaram danificando algumas janelas. A nossa equipe está lá no local desde o turno da manhã fazendo o corte desse vegetal" disse Ian.

Fenômeno As chuvas são causadas por um fenômeno meteorológico chamado de Cavado. A expressão técnica identifica uma região na atmosfera onde ocorre uma ondulação do fluxo de ventos no sentido horário no Hemisfério Sul e onde há também uma tendência à queda da pressão atmosférica. Em palavras mais simples, o diretor da Codesal, Shostenes Macedo, afirma que o fenômeno intensifica a ocorrência das chuvas.  Codesal registrou mais de 300 ocorrências durante esta quinta-feira (Foto: Marina Silva / CORREIO) Marco histórico  Com o fim do outono, época mais chuvosa para Salvador e o estado da Bahia, também foi encerrada a Operação Chuva. A ação reúne, durante os três meses mais críticos, uma força-tarefa não só da Codesal, mas de órgãos municipais como a Seman, Sedur, Limpurb e Transalvador. E o levantamento feito pela Defesa Civil apontou que, em 2020, foi o outono mais chuvoso dos últimos 36 anos. 

Durante o mês de abril, por exemplo, foram 720mm, enquanto o esperado era de, no máximo 298mm de chuva. E isso impacta também no número de vistorias que a Codesal faz. Ao assumir o cargo, em 2017, Sosthenes conta que foram cerca de 4.000 atendimentos durante a Operação Chuva. No ano seguinte, subiu para 6.500. Em 2019, chegou a 7.700 e, em 2020, o recorde foi mais uma vez batido com mais de 10.000 visitas feitas pelo órgão.

Agora, a previsão é de um tempo um pouco mais tranquilo. “Nós já deixamos para trás um período de chuva contínua, que é o outono, e passamos para uma estação em que essas ocorrências são mais pontuais”, explicou Sosthenes. Para essa sexta-feira (10), ainda são esperadas pancadas de chuvas fracas, por vezes moderadas. Ao longo do dia, há uma tendência de redução das chuvas devido à atuação da massa de ar quente e seco.

*Com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco