Ai que saudade eu não tenho da Bahia

É lindo recordar Caymmi, homenagear Carybé, falar de Verger, e outros ícones incontestáveis de nossa formação identitária, mas a Bahia mudou

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  • Fernando Guerreiro

Publicado em 1 de novembro de 2020 às 10:30

- Atualizado há um ano

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Foto: Divulgação Estou envelhecendo, chegando aos 60 aninhos, e um pânico se apodera de minha alma que adentra a chamada “melhor idade”: será que estou virando um saudosista, tecendo elogios ao passado e lamentando o presente e o futuro? Luta difícil.  As coisas estão se transformando numa velocidade estonteante, o novo vira velho em 24 horas, tudo muda e se transforma muito rápido, e se eu não me ligar fico para trás, literalmente!

A corrida é retada, e como artista e gestor sempre procurei trabalhar com ideias em constante transformação, sempre ligado nas novidades, evitando preconceitos e ideias pre-concebidas. Tem um artista novo chamando atenção, quero ver, tem um movimento estranho se formando, me leve até lá, uma dança nova apareceu num baile em Cajazeiras, como é? Se como diretor teatral já vivia ligado, como presidente da Fundação Gregório de Matos  a coisa se intensificou, faz parte do meu escopo de trabalho.

É lindo recordar Caymmi, homenagear Carybé, falar de Verger, e outros ícones incontestáveis de nossa formação identitária, mas a Bahia mudou, enlouqueceu, as manifestações culturais espalhadas ganharam visibilidade e o caldeirão artístico está fervilhando como nunca. Ir para o Sul Maravilha ficou no passado e nossos atores e atrizes trabalham sem parar morando...no mundo inteiro, inclusive na Bahia.   Fabrício Boliveira não para, Lázaro Ramos é referência política, Wagner Moura emenda uma série, como um filme, com outra serie, Laila Garin é bi scoito fino, Daniel Boaventura está estourado em toda a America Latina, Cyria Coentro pode ser vista na reprise de uma novela, numa serie e em dois filmes. Crise? Saudades de quê?

Vcs já viram o Attoxxa, Afro Cidade, Afrobapho? Larissa Luz, Xênia França, Luedji Luna? Já foram para um show de Skanibais, Ifá Afrobeat, Rumpilezz? Viram algum clipe de Aiace, Pirombeira, Josyara, Livia Nery? E o choque chamado Hiran, e o delírio que é Maju? Já passaram pela rua e se encantaram com os grafites de Bigod, Eder Muniz, Diogo, vibraram com a Iemanjá de David Caramelo no terminal da França? Já participaram de um Encontro Periférico das Artes? Conhecem Mainha, viram Rebola, acompanharam a revolução do NATA? E os filmes de Claudio Marques, Sergio Machado, Fabíola Aquino, Glenda Nicacio, Ari Rosa, Daniel Lisboa? Não falei de BaianaSystem para não chover no molhado, os meninos são geniais, sem falar de Brown, farol sempre, camaleão hiperativo.

Pois é, e olha que não citei nem a metade do que tem me instigado ultimamente. E vamos ficar neste papo de saudade de uma época tal, de artista X, de cantora Y: xocotô, tô fora! Salvador está fervendo, a Bahia nem se fala e o que precisamos é estruturar cada vez mais uma politica cultural inclusiva e democrática que homenageie o passado, mas cuide do futuro, que já está batendo na porta do presente.  Ou a gente se liga ou fica para trás, e eu quero mais é desafio e novidade, desconstrução e reconstrução. É assim que quero continuar um coroa vibrante e um artista, radialista e gestor cultural que faça a diferença na vida desta cidade.