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Priscila Natividade
Publicado em 30 de julho de 2018 às 05:37
- Atualizado há 2 anos
A crise ainda não passou para quem precisou apertar o cinto para manter as contas no azul. De acordo com o Holistic View, levantamento da Kantar Worldpanel, 50% das famílias estão com gastos acima da renda, que alcançou média mensal de R$ 3.149, contra um gasto médio no mesmo período de R$ 3.219. O valor chega a superar 2% do que o consumidor realmente ganha.>
De acordo com a mesma pesquisa, os gastos com alimentação estão no topo da lista, respondendo por 19%, nos dois últimos anos. Em seguida vem as despesas com transporte (14%) e habitação (13%). “Historicamente, os gastos com alimentos são os mais impactantes dentro do orçamento das famílias e abocanha R$ 1 a cada R$ 5 de gastos”, analisa a diretora de Marketing & Training da Kantar Worldpanel, Maria Ferreira.>
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A artesã Araní Nascimento é uma destas consumidoras que sabem bem o esforço que está fazendo para economizar, sobretudo, no supermercado. “Não compro mais soja, mudei a marca de Bombril para Assolan. Só não abri mão do leite e da manteiga, mesmo que seja uma marca inferior. Agora só compro em promoção, nem que eu tenha que rodar três ou quatro supermercados”, conta. >
E ai do estabelecimento que não cumprir a oferta. “Eu não deixo mais passar nem R$ 0,20. Quando chego no caixa, fico ali de olho e até brigar no supermercado eu brigo, se eles não cumprirem o valor que anunciaram”. Com estas estratégias, Araní conseguiu reduzir os gastos com supermercado em quase 40%. “Se antes eu gastava R$ 400, hoje isso não passa de R$ 250. Aprendi a gastar só o que tenho, sem ter que ficar com dor de cabeça depois ou ver a minha pressão subindo”. >
A Kantar Worldpanel identificou também que itens como a manteiga - que nem mesmo Araní quis abrir mão - não saíram da lista de compras. O iogurte e achocolatado em pó voltaram para dispensa, mas o detergente líquido para roupa continua sendo racionalizado (veja mais itens abaixo). De acordo com a diretora de Marketing & Training da consultoria, as escolhas “inteligentes” com melhor custo benefício foram essenciais para que os consumidores mantivessem o consumo de alguns produtos. “Para isso, eles contaram com as opções oferecidas pela indústria e varejo: embalagens econômicas e de menor preço por quilo, mais simples, ou com refil, além das promoções”, explica Maria. >
Outro dado que chamou atenção está na modalidade de pagamento utilizada para pagar os gastos com alimentação. O preferido é o cartão de crédito. Em 2007, 27% dos lares usaram essa modalidade de pagamento. Dez anos depois, o índice saltou para 64%. “Os pagamentos via cartão de crédito nos supermercados permitem que os lares continuem adquirindo produtos de rápido consumo, mesmo com a crise”, completa.>
Mais cortes>
Ainda que a inflação deva fechar o ano em 4,11% como aponta as projeções do Banco Central (BC), o consumidor deve continuar com os ajustes no orçamento. É o que adverte a educadora financeira da Dsop Educação Financeira Lorena Milaneze. “Sofremos por um período grande com a inflação alta e os aumentos de salário não acompanharam, por isso ainda sentimos tanto na hora de consumir. Os cortes podem começar pelas trocas em planos de telefonia/ internet e até no lazer”. >
É preciso partir para a planilha, como acrescenta o educador financeiro do portal Primo Rico, Thiago Nigro. “Um erro comum do brasileiro é sempre cortar dos gastos não-essenciais e esquecer de ver completamente se é possível economizar também naqueles que são essenciais. O diagnóstico vai ajudar filtrar os gastos que são mais fáceis de cortar”.>
Outra estratégia que pode ajudar é se imaginar com uma renda ainda menor. O conselho é do presidente do aplicativo Guia Bolso,Thiago Alvarez. “A sugestão é imaginar que você ganha 20% menos. Assim, se estiver vivendo com 80% da renda, automaticamente já estará economizando o restante”, recomenda Alvarez. >
Mais da metade fez bico>
O fim da recessão econômica ainda não chegou no bolso o consumidor. Isto porque de acordo com uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), para complementar renda, 64% dos brasileiros recorreram a bicos no primeiro semestre. >
A conta do orçamento ainda não fecha. No mesmo período, 83% dos consumidores fizeram cortes para driblar crise, 30% venderam algum bem e 77% não sentem efeitos da melhora da economia. “As pessoas ainda estão endividadas e continuam relutando mudar seus hábitos de consumo. A velocidade que a economia leva para se reestabelecer é lenta. Eu ganho pouco ou gasto muito? É esta pergunta que o consumidor precisa fazer”, pontua o educador financeiro do Portal meu Bolso Feliz, José Vignoli.>
E o ‘extra’ foi a alternativa que o gerente administrativo Marivaldo Santos buscou para complementar a renda. O que era hobby virou fonte de receita. “Tenho feito aí quase todos os finais de semana um extra com música. Isso chega a ser 30% a 40% do salário que eu ganho e já me ajuda muito no orçamento”, conta. >
Ele também precisou vender alguns bens. “Vendi dois violões e um pedal. Mas isso não foi problema. Difícil mesmo é manter um padrão de vida ou até mesmo ver ou ter uma expectativa de vida na situação econômica atual”, completa.>
No supermercado>
Voltaram para a dispensa: iogurte, achocolatado em pó, shampoo, creme de leite, esponja de aço>
Ainda não retomou o consumo: bebida a base de soja, hamburguer, sabão em pedra, refrigerante, caldo/ tempero feijão>
Crescimento contínuo: leite condensado, manteiga, catchup, detergente líquido, café solúvel>
Itens racionalizados: cream chease, petit suisse, sobremesa pronta, detergente líquido para roupa, cereal matinal >
Dica da semana: orçamento no azul>
Padrão de vida Tudo começa pela a adequação de gastar aquilo que realmente ganha. É preciso fazer um diagnóstico financeiro pelo menos uma vez ao ano para entender qual é o padrão de vida ideal. >
Pesquise Antes de comprar qualquer coisa, pesquise bastante, compare preços, aproveite promoções e não deixe de avaliar o custo benefício>
Reserva Em um orçamento apertado, a sobra é sempre difícil. Por isso, torne uma reserva financeira prioridade. Independente do valor, poupe. Coloque isso na mesma lista de importância que a conta de luz, por exemplo. >
Ajustes Estude fazer trocas e ajustes em planos de telefonia, tv a cabo, internet, plano de saúde, aluguel, enfim, negocie o que for possível.>