Ainda não chegamos ao final

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 14:11

- Atualizado há um ano

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Do alto das nossas complexidades, a internet é o caldo mais caótico da expressão dos conteúdos humanos e desumanos. 

Comento aqui sobre dois ângulos, primeiro sobre os "yahoo boys", a utilização de perfis falsos, para seduzir e extorquir pessoas, na sua maioria, mulheres, como evidencia a reportagem do Fantástico, trazida pelo querido Kau Mascarenhas, palestrante e escritor, que teve suas fotos apropriadas por estes perfis e dignamente tem se exposto para esclarecer o modus operandi dos criminosos. 

E segundo, sobre o post do ator Pedro Cardoso que provoca a discussão sobre a manipulação das sociedades, a partir do anonimato e estelionato de identidades ainda possíveis no mundo digital e suas consequências para o objetivo abjeto maior: dominação e subjugação de pessoas e nações. 

Um coquetel que se complementa em intersecção. Sedução, manipulação de fatos, emoções e sentimentos e por fim, a ação dominadora consciente e inconsciente sobre a credulidade do outro ser. 

As vítimas do primeiro golpe e também do segundo, podemos dizer, acreditam em algo que deduziram ser verdade, mesmo que apenas para si mesmas. O centro consentido de manipulação da verdade, que sai do plano físico para sua extensão virtual. 

As fábricas do "Príncipe Encantado" ou do "Salvador da Pátria", em analogia, trabalham agora de maneira mais científica: com os dados que nós mesmos fornecemos ao manipulador. O que fazemos, com quem estamos, o que sentimos, nosso estilo de vida, relações pessoais, profissionais, amorosas, cidadãs, com o que nos identificamos, o que construímos e acreditamos serem verdades objetivas em nossa subjetividade. Presas fáceis da nossa própria expressão, pois tudo o que for dito poderá ser usado contra si mesmo. 

No primeiro, as vítimas do patriarcado, me chamam a atenção, pela maioria dos relatos serem entre homens exploradores e mulheres exploradas. Se "conhecem" em sites de relacionamento ou em abordagens diretas nos seus perfis. 

O masculino sorrateiro, de posse das suas informações, conduz sua seduzida vítima, para um lugar de fascínio que culmina por extorsão consentida, como um dos casos da reportagem, que uma mulher fez sucessivos depósitos que somam mais de trezentos mil reais! Ou chantagem explícita depois dela fornecer algum "nudes" durante a formação da teia de aprisionamento virtualmente real. 

O que leva uma mulher a entregar a condução da sua vida, seus segredos, seu mundo íntimo, suas riquezas, seus bens a um homem que "parece existir"? Há alguém "fabricado", pelo algoz e pela vítima em sintonia. Uma idealização macabra que temos assisitdo, no mundo real, se transformar em extorsão, violência, feminicídio e toda a sorte de subjugação do feminino, que ainda não nos livramos como mal de base. 

Homens adoecidos que perpetuam comportamentos inaceitáveis, criminosos, vergonhosos, atávicos, brutais, como nos recentes feminicídios divulgados que mataram suas companheiras ou ex, diante das próprias filhas. Verdadeiras cenas de experiências de subjugação em campos nazistas. 

A dominação e perversidade atualizam agora as técnicas digitais, em diversos campos. Anonimato e estelionato das identidades servem não só para fabricar falsos modelos de relações amorosas, mas também, segundo Pedro Cardoso, para disseminar falsos propósitos que inviabilizam o convívio democrático das nações pelo mundo. 

A sombria maneira de se propagar o que se quer nas "redes antissociais" impunemente, distorcendo, inventando fatos, orquestradamente ou não, "as pessoas não acreditam mais em nada além do que lhes convém". É aí onde todos, mais cedo ou mais tarde, se tornarão vítimas de si mesmas. 

2020 chega ao fim e ao fundo do poço de discussões fundamentais para a humanidade e cidadanias locais e globais. 2021 está só começando e nem sequer falei em Covid. 

Há muito o que se discutir, estudar, sair dos anonimatos, combater violências, ampliar consciências, dentro e fora de si, acolher o que ainda dorme e o que acorda em nós mesmos e nas sociedades. 

Mentir pode ser verbo, pode ser deslocado pela conveniência da ação humana. Verdade é substantivo, cláusula pétrea, para não ser manipulada ao sabor dos ciclos, desejos, conjugações impróprias e fake news de cada ciclo. 

Emicida e Chico pra fechar e abrir. "É tudo pra ontem" e "amanhã vai ser outro dia". 

Um ano novo de verdade para todos nós. 

Andrezão Simões é terapeuta junguiano, comunicador e produtor artístico.