Aldir Blanc inédito e eterno

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Publicado em 27 de setembro de 2021 às 05:08

- Atualizado há 10 meses

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O disco Aldir Blanc inédito foi lançado na última sexta-feira (24), mostrando que não podia ficar inédito. Seria um crime para a arte que algumas pérolas, já clássicos instantâneos, deixassem de vir a público. E vieram numa embalagem de melodias, vozes, arranjos, além da produção, que fazem desse lançamento uma ilha de excelência.

O disco abre com Agora Eu Sou Diretoria. Mais um samba daqueles de João Bosco e Aldir tão bons e especiais como só eles fizeram. Veio-me imediatamente Ensaio Geral, de Gilberto Gil. Numa metáfora sobre os tempos sombrios da ditadura, ele fala: “O Cordão da Liberdade / E o Bloco da Mocidade / Vão sair no carnaval / É preciso vir à rua / Esperar pela passagem / É preciso ter coragem / E aplaudir o pessoal”. Pois Aldir venceu, assim como Gil e João e tantos outros, e diz: “Oba, chegou a nossa hora / vamos lá comemorar”, e completa “Eu tô no bar, Eu tô na roda / Eu tô no samba, Eu vou na bola / E membro da Diretoria / Agora eu sou / Eu sou mesmo um show / Driblo um, dois, três / E é gol!!”.

Mas ser da diretoria não significa só vitórias. As canções que mais me tocaram, Palácio de Lágrimas e Vôo Cego, lindamente interpretadas respectivamente por Bethânia e Chico, trazem imagens das mais belas da nossa lírica. Evocando o título, a simples e bonita melodia de Moacyr Luz conduz o peregrino, numa estrada sem fim, em busca de seu amor, e diz: “Com lágrimas ergo a você / Um outro Taj Mahal”. Essa imagem, com os violões de João Camarero e Paulo Dáfilin, e a interpretação erguida de “saudade, areia e sal”, trouxeram em mim as lágrimas, também.

Leandro Braga parecia estar compondo para Chico e Aldir, ao mesmo tempo, e mergulhou no Vôo Cego de Blanc; uma letra quase surrealista, em diálogo com a melhor poesia do Século XX. “Pombas neuróticas” foram “procurando onde o desejo havia se perdido”. E vem a estrofe final: “Mas súbito crispou-se um dos meus seios / Um homem novo abriu meus devaneios / Gerando um grito longo e surpreendido / Um pássaro galante e proibido / Tentou o vôo em busca de seu par / Mas tonto de prazer caiu no mar”. A imagem do pássaro em busca do amor, que tonto de prazer cai no mar, é de uma beleza tão triste; é dos versos que vieram para ficar.

Não bastassem os belos arranjos da maioria das canções, Cristovão Bastos entrega a uma das mais belas vozes do mundo sua melodia para Provavelmente em Búzios. Dori Caymmi canta uma letra que é quase uma lição de vida e arte: “Contra o mundo, contra o tempo / Tenho a música e o verso / Cada história que acabar / Viro a folha e recomeço”. 

E Aldir recomeça em letras onde a paixão surge com novo fôlego. Em Aqui, Daqui, Joyce compõe e canta belamente a mulher que “Andou aqui descalça, dona da casa / Saiu daqui, nos saltos, dona de mim”. Mais um verso antológico, como os de seu outro flerte com o absurdo e o surreal; Lunar, musicada por Luz e Luiz Carlos da Vila. “Eu nem sonhava e você já sabia / Que viria a ser minha inspiração”; uma mulher doutro mundo.

Algumas canções mereciam um único artigo, mas finalizo provocando o leitor a garimpar versos na mina onde ainda há melodias e vozes de Guinga, Ana de Hollanda, Leila Pinheiro, Moyses Marques, Alexandre Nero, Sueli Costa, Antonio Saraiva, Nei Lopes e Clarisse Grova, que também se destaca compondo e cantando um último desejo contrário ao de Noel, de onde pode-se pinçar outra bela imagem no verso: “Que meu nome ainda lhe causa / No coração uma pausa”.

Dê uma longa pausa em seu coração e ouça o belo Aldir Blanc inédito.