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Paula Theotonio
Publicado em 2 de maio de 2021 às 16:00
- Atualizado há 2 anos
A máxima — “na dúvida, vá de vinho português” — tem feito cada vez mais sentido pra mim. Primeiro, pela qualidade que o país consegue ter em todas as suas 39 regiões produtoras. Segundo, pela variedade disponível no Brasil. Nos últimos anos, Portugal assumiu o 2º lugar no ranking das importações de vinhos em nosso país, ficando atrás somente do Chile. Vale do Douro, em Portugal, é uma das grandes regiões produtoras de vinho do país e também recebe muitos turistas (Foto: Andrew McLeod/Divulgação) Entre as preferências nacionais, estão os vinhos do Alentejo, com 24% do volume total. De lá, vêm os tintos frutados e os brancos de aromas exuberantes, de frutas tropicais, que o brasileiro tanto ama. Em seguida estão os frescos e leves brancos de Vinho Verde, região responsável por 23,7% dos rótulos portugueses que chegam aqui.>
Hoje, quero ir além do Alentejo, lançar um novo olhar sobre a região de Vinhos Verdes e apresentar para vocês alguns outros recantos portugueses que merecem atenção.>
Bairrada>
Localizada na região portuguesa do Beira Atlântico, entre o Dão e o Oceano Atlântico, a Bairrada tem ganhado muito destaque nos últimos anos através do trabalho do enólogo Luís Pato. Ao assumir os negócios da família na década de 80, ele conseguiu “domar” a Baga — uva símbolo da região, de difícil manejo e que gerava vinhos considerados “duros”.>
Saber como melhor vinificá-la era extremamente necessário, já que para produzir tintos e rosés na região, é preciso ter pelo menos 50% dela no corte. Hoje, não apenas ele, mas diversos produtores, gozam de prestígio devido aos seus tintos de cor profunda, acidez alta, taninos finos e aromas de ameixa, eucalipto, café e um toque defumado. Minha primeira experiência consciente com a uva, que apresentava essa tipicidade toda, foi com o Casa de Saima Tonel 10 2018 (R$ 182,50), hoje vendido no Brasil pela Wine Concept. De lá, prove sem medo os exemplares brancos de Maria Gomes (ou Fernão Pires), além dos espumantes.>
Vinhos Verdes>
Muitos brasileiros podem ter sido iniciados na enofilia por um branco de Vinho Verde. Eu fui! Localizada ao norte de Portugal, a região importa para os trópicos muitos vinhos super fáceis de beber, muitas vezes adocicados e levemente efervescentes, quase frisantes. Meu convite é para que você deguste os exemplares mais complexos da sub-região de Monção e Melgaço, na fronteira com a Galícia, Espanha. De lá saem monovarietais de Alvarinho, dotados de grande mineralidade, aromas complexos e excelente acidez; ou cortes que levam também Loureiro, Trajadura, Arinto ou Avesso. Gosto muito do Dona Paterna Alvarinho Trajadura 2018 (R$ 109,90 na Wine Concept), que traz bastante fruta cítrica, flores e mel, além da acidez vibrante e do perfil mineral que marcam a região. Vinhos da Covela e Anselmo Mendes são inesquecíveis também.>
Douro>
Vinhos do Porto vêm do Douro, mas nem só de fortificados vive a região produtora. De suas paisagens alucinantemente belas à beira rio com montanhas de pedra cortadas por vinhedos, saem vinhos tranquilos espetaculares.>
Espere tintos encorpados, complexos, com aromas de frutas vermelhas maduras e destacada mineralidade; a partir principalmente das uvas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. Com elas, provei o Tons de Duorum (a partir de R$ 79 na web) — um Douro DOC de entrada que não decepciona e apresenta tipicidade. Com a cara da região e as mesmas uvas, também sugiro o Almagrande Douro Reserva DOC (R$ 146 no BOX 111, em Vitória da Conquista). Apaixonante, traz aromas intensos de cereja em compota, pimenta preta e nuances de baunilha; além de carregar um paladar estruturado, de boa acidez e persistente.>
Tão apaixonantes quanto os tintos são os brancos do Douro. Invista no Cedro do Noval DOC (R$ 159 no BOX 111), um branco feito com as uvas Viosinho e Gouveio de forte caráter mineral, com muita expressão de frutas brancas nos aromas e paladar, além de persistente e fresco.>
Dão>
Localizada bem no centro de Portugal, o Dão foi a primeira região demarcada e regulamentada de vinhos não fortificados do país. Hoje é conhecida por ser o berço da Touriga Nacional e pelos seus tintos encorpados e com taninos finos, mas bastante delicados nos aromas e sabores. Também são bem gastronômicos, devido à acidez. Os brancos, por sua vez, são muito elegantes. A uva em destaque é a Encruzado, a qual resulta em vinhos com notas de fruta branca, frutas cítricas, ervas e flores. Aqui deixo a recomendação das versões branca e tinta do Pedra Cancela Seleção do Enólogo, trazidos pela Total Vinhos (R$ 89 e R$ 99, respectivamente). O primeiro é fresco e dominado pelas frutas de polpa branca, com notas cítricas e um interessante toque mineral. Já o segundo é intenso e elegante, com aromas de ameixa madura, cerejas e um toque de cacau. Deliciosos!>
Setúbal>
Se você gosta de Vinho do Porto, precisa conhecer os Moscatéis de Setúbal. Elaborados na região litorânea e ribeirinha de Setúbal, estes fortificados podem ser produzidos com duas variedades: a Moscatel de Setúbal ou Graúdo e a Moscatel Roxo. Ambas geram licorosos equilibrados, densos, doces e de acidez vibrante, com aromas que remetem principalmente à casca da laranja, mel, damascos e rosas quando mais jovens. Com mais anos de envelhecimento, ganham nuances de uvas-passas, compota de figo, oleaginosas, café e tâmaras. Aposte nos exemplares da marca Alambre, elaborados pela Vinícola José Maria da Fonseca e vendido pela Enoteca Decanter (R$ 153), ou no Adega de Pegões. São vinhos incrível e que pedem harmonizações bem inusitadas: um pudim de leite ou um queijo azul!>