Alta demanda no feriado deixa postos baianos sem diesel S10; reforço virá de navio

Petrobras BR informou que problema acontece em todas as bandeiras

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 19 de junho de 2019 às 16:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Um problema na distribuição por parte da Refinaria Landulpho Alves, localizada em São Francisco do Conde, na na Região Metropolitana de Salvador (RMS), gerou um desabastecimento de diesel S10 nas bombas de todos os postos do estado. O combustível é de uso obrigatório em veículos grandes, como caminhonetes e caminhões, fabricados a partir de 2012.

A informação é da distribuidora Petrobras BR, que afirma que o problema é restrito à Bahia e ocorre em todas as bandeiras, não apenas a BR, o que foi confirmado também pelo Sindicombustíveis da Bahia, sindicado que representa os postos de revenda. A razão para a restrição de oferta, no entanto, não foi detalhada. Por meio de nota, a empresa informou apenas que o problema acontece por conta da “demanda aquecida devido ao feriado” de Corpus Christi, nesta quinta-feira (20).

Ainda segundo a distribuidora, há perspectiva de reforços no abastecimento por meio de navios, que devem desembarcar com o combustível no porto de Suape (PE), nesta quinta, e seguir em caminhões para a Refinaria Landulfo Alves. Apesar disso, não foi informado quando o problema será normalizado.

O CORREIO procurou a empresa Plural, que representa as distribuidoras de combustíveis do Brasil. Por meio de nota, a empresa esclareceu que "houve interrupção no fornecimento do Diesel S10 para suas distribuidoras associadas, devido a um problema operacional na refinaria do polo de Mataripe. As distribuidoras trabalham para garantir o abastecimento da região, remanejando estoques de outros polos para o local e auxiliando a refinaria na resolução da questão”.

Já a Agência Nacional de Petróleo (ANP) disse por meio de nota que, nesta quinta, "a entrega de S10 deverá estar normalizada em todo o estado". Acrescentou ainda que "os estoques regionais das distribuidoras e o suprimento alternativo oferecido pela Petrobras, a partir de Ipojuca/PE, serão suficientes para o atendimento normal da demanda de diesel S10, afetado por uma parada não programada da RLAM, comunicada à ANP no dia 14."

Presidente do Sindicombustíveis, Walter Tanus informou que o problema já afeta postos de Salvador e RMS, mas não soube informar ainda quantos estabelecimentos estão sem o combustível diesel S10.“Somente nos dois postos que tenho, um em Salvador e outro em Aratu, são 25 mil litros de S10 que deixaram de chegar. A situação é preocupante, pois o produto move o transporte de carga e os caminhoneiros podem sofrer grandes transtornos”, disse Tanus.De acordo com o engenheiro químico Diniz Alves de Sant’Ana Silva, coordenador do curso de Engenharia de Petróleo e Química da Universidade do Salvador (Unifacs), o uso do S500 (diesel antigo) em alternativa ao S10 causa impacto pequeno no veículo, desde que usado apenas uma vez. No entanto, se o uso for constante, gera grandes transtornos.

Nos veículos movidos a diesel fabricados a partir de 2012, o uso mais frequente do S500 gera corrosão do sistema de catalisador do veículo. Caso isso ocorra, o sistema tem de ser trocado e o prejuízo pode chegar a R$ 10 mil, a depender do caso.

“O enxofre geralmente é um veneno para processos que utilizam catalisadores. Então, o S500 gera uma contaminação do catalisador do veículo e levar a perder todo o sistema de catalisador”, disse o engenheiro químico.

A diferença básica entre um e outro é que o mais moderno é bem menos poluente, devido à baixa quantidade de enxofre, simbolizado com o “S” na química. O S500 tem 500 partículas de enxofre por milhão e o S10 apenas 10 partículas de enxofre/milhão.

O Brasil passou obrigar o uso do S10 em veículos movidos a diesel fabricados a partir de 2012, baseado no sistema EURO 5, um conjunto de regulamentações que visa a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera.

Oficialmente, no Brasil, ele é chamado de Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, o PROCONVE P-7. O nome EURO 5 é uma alusão à legislação europeia que tem essa mesma finalidade.

A ANP, em parceria com o Ibama (órgão ambiental) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), é responsável pela fiscalização do uso do S10. O motorista que é flagrado usando o S500 só pode seguir viagem se fizer a troca total pelo S10 e ainda corre risco de ser enquadrado na lei de crimes ambientais, devido à poluição do ar.

Diniz Alves de Sant’Ana Silva observa que os veículos mais modernos utilizam os gases de escape para aproveitar a energia e pré-aquecer o ar, assim, quando entra em combustão, há menos gasto de energia.

“Ao invés de simplesmente queimar o combustível e jogar os gases para o meio ambiente, o veículo reaproveita esses gases para gerar energia. Só que esses gases, se tiver um alto teor de enxofre com o tempo, atacam esse sistema de reaproveitamento de energia, pois o enxofre é altamente corrosivo”, explicou.