Amor de irmã: a luta de Anielle pelo legado de Marielle Franco  

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  • Da Redação

Publicado em 14 de março de 2020 às 13:43

- Atualizado há um ano

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Hoje, 14 de março, é uma data especial para mim. É o dia de aniversário da minha irmã: Heide. Inteligente, sonhadora, valente. Uma mulher por quem eu tenho um amor gigantesco e me reconheço em todas nossas diferenças. Atualmente, ela mora em outro país e para a minha pessoa saber lidar com essa partida não foi fácil. Em poucos dias, tive de pegar a angústia e ressignificar. E como a liberdade é algo tão importante para a memória ancestral que carregamos em nossos corpos, tratei de me controlar e respeitar a mudança. 

Me orgulhei pela coragem da minha irmã em desbravar outros caminhos, obstinada e destemida, assim como era na infância, quando batia de frente com o racismo, fosse com os garotos da escola que estudávamos, ou com os seus colegas e professores em um curso repleto de contradições: o Direito.

Hoje, 14 de março, também é um dia marcado na história do Brasil: do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. E automaticamente me veio a necessidade de escrever sobre a força Anielle, em honrar o legado da vereadora.

A irmandade entre nós mulheres está para além dos laços sanguíneos. O sisterhood é um lema inconsciente que nos guia. Sabemos. Mas sim, o laço de sangue, a criação, a troca, o descobrir, o afeto, a inspiração, e a memória, só quem esteve presente no antes e depois dos primeiro tudo saberá explicar o quão forte é essa ligação entre irmãs/aos. 

Anielle Franco, assim como todos e todas nós negros e negras, possui uma resiliência incomum. Pega a dor e transforma em força, em luta. E eu me reconheço. Toda vez que a escuto, me coloco em seu lugar. Por isso dedico esse texto para Marielle e Anderson, mas sobretudo para minha irmã e para Anielle. Me peguei olhando o perfil da educadora no Twitter e ao ler as mensagens dedicada à Marielle, pensei tanto na minha irmã. Foi inevitável.

Entre saudades, memórias e ameaças cotidianas, essa mulher conseguiu uma grande conquista: erguer um Instituto em homenagem ao legado da irmã. E bravamente e pacientemente tem lidado com pessoas diversas. Pessoas como Antônia Pellegrino e José Padilha. Pessoas brancas de esquerda que, bem intencionadas ou não, ousam pensar que podem contar, neste caso através de uma série televisiva, a história de Marielle sem a participação de pessoas negras e de consultar a família na concepção. 

Pessoas que desconsideram a existência de cineastas negras/os no Brasil, tão bons quanto o/a maravilhoso/a Spike Lee e Ava Duvernay. Pessoas que desconhecem cineastas como Camila de Moraes, Viviane Ferreira, Larissa Fulana de Tal, Joel Zito Araújo, entre tantos outros. Pessoas que ainda tentam justificar seus posicionamentos errôneos de forma desastrosa, como bem explicou o historiador Jhonatan Raymundo em texto publicado na Folha de São Paulo: Resposta de José Padilha a críticas só reforça o pacto do racismo. 

Por isso, a aplaudo. Só quem compartilha das descobertas da vida e de cumplicidade com suas irmãs e seus irmãos consegue mensurar o quanto o não parar de Anielle representa o não podemos parar para nós. Uso trecho de canção do Emicida e interpretada por Maju e Pablo Vitar, citada pela própria ativista em evento recente, como inspiração para finalizar esse texto. É através da “fúria da beleza do Sol” que seguiremos iluminando os caminhos de outras Marielles, Anielles, Heides e Midiãs. A gente chora, mas enxugamos as nossas lágrimas e nos vemos no pódio.

Em 2018 todas de nós morremos um pouco, mas não morreremos mais. 

Obrigada, Anielle. Obrigada, Heide.

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