Anízio de Carvalho: o fotógrafo que nasceu duas vezes e comemora 90 anos

Senta que lá vem...

Publicado em 23 de fevereiro de 2020 às 11:45

- Atualizado há um ano

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Doces Bárbaros, 1976 por Anizio Carvalho

Neste 23 de fevereiro de 2020, Domingo de Carnaval, o decano do fotojornalismo da Bahia, Anizio Circuncisão de Carvalho, baiano de Conceição da Feira, completa 90 anos de idade. Não o vi nascer, mas o vi renascer, após visitá-lo num apartamento do COT em agosto de 2010. O vimos semimorto. Estava, então, na companhia do também fotógrafo Valter Lessa, 88 anos, e saímos do COT abatidos. Anizio caíra da laje da casa dele em Brotas e fraturara a bacia. Sofrera o acidente enquanto arrumava equipamentos e fotografias. Semanas depois da alta médica, apoiado em muletas, ele exibia o humor e a memória prodigiosa. Ele é o meu amigo que aniversaria em fevereiro e em agosto há 10 anos.

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Ele foi contemporâneo do jornalista, professor e escritor Luis Henrique Dias Tavares, 94 anos, no Jornal da Bahia, fundado pelo empresário João Falcão em 1958, de modo que sei da existência dele muito antes de ingressar no jornalismo na década de 1970. Do convívio em coberturas de eventos, guardei a lembrança do profissional bem-disposto e eficiente e passei a admirar o resultado do trabalho dele, distinguido em exposição organizado pelo artista plástico baiano Emanoel Araujo no seu Museu Afro Brasil, no Ibirapuera, em São Paulo, e na Antologia da fotografia africana e do Oceano Índico. Século XIX e XX (Paris: Revue Noire, 1998). Há muito mais, de modo que me sirvo do perfil que o jornalista Renato Marcelo publicou no seu blog em junho de 2007 (link abaixo), para os leitores conhecerem mais o querido personagem que os colegas jornalistas apreciam e respeitam. Sirvo-me, ademais, do perfil “Imagens e histórias”, que o jornalista Yordan Bosco, escreveu em 2002 a fim de festejar os 70 anos de Anizio Carvalho e dele extraio este parágrafo em que o fotógrafo nos impressiona com tal relato:

“No final dos anos [19]70, íamos, eu e um repórter, fazer uma matéria na Base Naval de Aratu. Quando chegamos no Lobato, vimos uma caçamba atravessando uma linha de trem. Só que o caminhão enguiçou bem no meio dos trilhos. Em frações de segundos, veio um trem e se chocou com o veículo, que rapidamente começou a pegar fogo. O motorista não pôde sair porque suas pernas estavam presas. O fogo se propagou rapidamente e não tínhamos como retirá-lo, senão morreríamos queimados. A única coisa que pude fazer foi fotografar o desespero e a morte do rapaz. Isso está marcado em minha vida até hoje”.

Acrescento que a jornalista Jamile Barbosa escreveu, em 2009, a biografia de Anizio Carvalho e a submeteu como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na FIB/Estácio. A autora deu o melhor de si na obra que, no entanto, prossegue inédita. Seria excelente presente para o aniversariante se o texto fosse publicado.

Acrescento, ademais, o link do site da ABI com as fotografias da homenagem que a Câmara Municipal de Salvador prestou a Anizio em 18 de dezembro de 2015, quando lhe concedeu o Título de Cidadão Soteropolitano. Foi festão que alegrou dona Teresa, a mulher dele, os filhos e netos e os muitos amigos e admiradores.

Grato pela atenção. Agora vou lá na Rua Alto do Saldanha, 70, em Brotas, levar meu abraço para o católico iniciado no Judaísmo que tem peji em casa.

Amém! Shalom! Saravá!

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização do autor