Aposentada ganha R$ 27 mil em um mês com a criação de sapateiras

Da porta de casa para fora: veja como Sandra Barros aproveitou a tendência e já vendeu mais de 100 peças em apenas 30 dias

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  • Priscila Natividade

Publicado em 30 de agosto de 2020 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

A servidora pública aposentada, Sandra Barros, de 54 anos, é dessas pessoas que sempre gostaram de organizar as coisas, arrumar tudo na vida, no trabalho, nos aniversários, nos eventos da família e até no prédio onde mora. E sim, ela ficou agoniada quando aquele monte de calçados começou a ficar amontoado na porta de casa, já que ninguém quer que o coronavírus chegue transportado pelo sapato.

“Começamos a deixar os calçados fora do apartamento, no hall dos elevadores, e isto me deu uma grande agonia, pois detesto ambientes bagunçados. Rabisquei os croquis, mandei fazer e o resultado é uma linha completa de sapateiras, que só vem crescendo com a ajuda de todos”, afirma Sandra, que em um mês vendeu 120 sapateiras que ela mesmo desenhou e, com isso, faturou nestes dias R$ 27 mil. 

Cerca de 60% do valor ganho está sendo utilizado para pagar os salários da equipe envolvida na produção e entrega, além da compra de matéria-prima. As peças da SB Sapateiras (@sbsapateiras) ganham forma com a ajuda do marceneiro Valdir Araújo, que estava com o sua oficina parada, no bairro de Cajazeiras VIII, devido à crise. O estofador Carlos Júnior assumiu a produção das almofadas para os bancos, depois de também sofrer uma queda significativa na demanda por serviços.

“Eu pesquisei sapateiras para comprar pela internet, mas não gostei de nenhuma. Aí resolvi criar as minhas e comercializar, a fim de complementar o orçamento doméstico. Comecei no final do mês de julho fazendo as primeiras peças para os meus vizinhos, até que minhas filhas, Clara, de 11 anos, e Laina de 25, assim como meu filho Cláudio, 24 anos, me incentivaram a divulgá-las no Instagram. Mandei para alguns grupos pelo WhatsApp. De repente, estava todo mundo pedindo”, conta.

O ex-marido de Sandra, Rogério Pereira, fechou a sua empresa de turismo por causa da pandemia e agora é quem faz as entregas. “Com esta nova atividade estou ajudando muitas pessoas. As sapateiras vieram também para complementar esta rede de solidariedade com quem teve sua renda afetada pela pandemia”.

Nova atividade  Enquanto muita gente aproveitou o isolamento social para fazer trabalhos manuais, se dedicar mais à casa ou meditar, Sandra foi desenhar móveis. Apesar de ter feito um curso de Designer de Interiores, o primeiro croqui de uma sapateira, de fato, nasceu mesmo durante a quarentena.“Estou em casa desde o dia 17 de março e não aguentava mais ficar parada. Trabalhava na Justiça Federal e tive que me aposentar devido a um câncer de mama. Tem sido muito bom para mim poder ter uma atividade novamente”.E a pandemia não só tirou o sapato do quarto, como transformou as sapateiras em item essencial, depois que estudos do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) indicaram que os sapatos podem ser responsáveis por levar o novo coronavírus de um lugar para o outro.

Em outra pesquisa, na China, feita pesquisadores do Hospital Huoshenshan em Wuhan (berço da pandemia), a covid-19 foi encontrada no solado dos calçados de médicos e no piso de diversos cômodos, inclusive, naqueles que não tinham nenhum paciente diagnosticado com a infecção.  Sapateiras custam a partir de R$ 250, a depender do modelo (Foto: Divulgação) “No Japão, por exemplo, existe um espaço denominado ‘genkan’, que tem por função receber os calçados de pessoas que chegam da rua. É um comportamento que se justifica por duas razões: tanto o fator cultural, como também por uma questão de higiene. As pesquisas científicas, que chamaram atenção quanto à quantidade de germes, sujeira e bactérias que os calçados podem carregar, transformaram a sapateira em uma tendência”, comenta Sandra.

A aposentada investiu cerca de R$ 3 mil com a compra de materiais para montar o negócio. Cada peça custa a partir de R$ 250 e pode ser parcelada no cartão em até quatro vezes.“O modelo ‘coluna’ é o que mais tem sido comercializado, pois as pessoas utilizam esta sapateira de diversas formas, desde o home office até na área de serviço para materiais de limpeza”.Área de desinfecção As redes sociais têm ajudado bastante a movimentar as vendas, mas a melhor propaganda, segundo Sandra, ainda é o boca a boca. “A forma personalizada de tratar os clientes, que se tornam nossos amigos, faz com que eles indiquem para parentes e conhecidos”, afirma.

As sapateiras têm rodízios, que facilitam na hora da higienização do piso onde são colocadas. Estão surgindo ainda pedidos de móveis diferentes, como maleiros, papeleiras para banheiro, carrinhos para home office e bancos.“Faço chamadas de vídeo, observo os ambientes e dou uma breve consultoria sobre qual sapateira ficaria melhor e mais harmônica. São peças que precisam, realmente, atender a demanda familiar. No final, todos ficam satisfeitos”.Na última semana, Sandra começou também a produção de quadros e está desenvolvendo móveis para home office, como uma mesa dobrável. “São quadros cheios de carinho, com mensagens que reforçam a necessidade que temos que deixar os calçados fora de casa. Quanto à mesa, ela é desmontável e dá até para guardá-la debaixo da cama. Outra próxima aposta são os suportes para computadores sob medida”, completa. 

OS CINCO CONSELHOS DE SANDRA

1. Escolha um trabalho que goste de fazer “O resultado financeiro, na minha opinião, é fruto disso”, afirma Sandra Barros.

2. Acompanhe todas as etapas Cuide de todas as fases desde a produção, logística de entrega até o retorno do cliente. “Peço fotos aos clientes para observar se as sapateiras ficaram bonitas e se eles estão gostando”. 

3. Trabalhe sempre com materiais de qualidade “É muito importante  se preocupar com os detalhes, garantia e pós-venda”, acrescenta a empreendendora. 

4. Resposta imediata Outra dica de Sandra é responder sempre o cliente e também ouvir suas sugestões, assim como entender as necessidades que ele traz. “Ouça com calma o que o cliente quer, afinal, o serviço é para ele. Interaja nas redes sociais, não como máquina, mas como uma pessoa preocupada com o bem estar daquela família que a procurou”. 

5. E, acima de tudo, acredite na sua ideia e no seu produto “Pense positivamente, tenha fé, e nunca, nunca, nunca, pare de estudar, seja qual for a área onde queira empreender”, ressalta. 

QUEM É Sandra Barros é servidora aposentada da Justiça Federal. É formada em Pedagogia, bacharel em Direito e está em fase de diplomação em Designer de Interiores.