Arbovirose atinge 78% dos moradores de cidade baiana

A doença (dengue, zika ou chikungunya) atingiu 2.500 pessoas dos 3.189 moradores

  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/ arquivo CORREIO

Há dois meses que a cidade de Entre Rios, no Nordeste da Bahia, vive assustada com o surgimento de uma arbovirose urbana (dengue, zika ou chikungunya) que, segundo a Prefeitura, atingiu 2.500 pessoas, o equivalente a 78% dos 3.189 moradores.

Bela Vista é o bairro mais atingido na cidade, que tem índice de infestação predial de 8,4 para o mosquito Aedes aegypti, o que a deixa em risco de surto para arboviroses, de acordo com a classificação do Ministério da Saúde.

É lá onde mora Willian Oliveira, gerente de uma farmácia no centro da cidade. Willian, a esposa e a filha do casal, de 1 ano e 5 meses, já tiveram a doença e ainda não sabem do que se trata.“Tive duas noites com febre de 39ºC, manchas vermelhas no corpo todo e dor nas articulações. Mesmo assim, não deixei de vir trabalhar”, disse, antes de informar que quatro funcionários faltaram ao trabalho por conta da doença misteriosa.Desde que os casos começaram a aparecer, os onze postos de saúde e o hospital municipal vivem lotados de pessoas em busca de atendimento médico. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, 80% dos pacientes buscam o hospital.

O atendimento normal, que era de entre 50 a 70 pessoas por dia, agora fica entre 180 a 200, segundo informações da direção administrativa do hospital, que possui 30 leitos para internamento na enfermaria.

“No meu caso, me passaram uma injeção, analgésico e antitérmico, disseram para eu tomar muito líquido e ter repouso. O hospital está muito cheio, não tem como ficar muito tempo lá, só se for mais grave mesmo”, relatou Willian.

Já na ativa na farmácia, Willian tem lucrado com a alta procura por medicamentos (sobretudo analgésicos e antitérmicos) e repelentes. As vendas desses produtos tiveram aumento de 50%. O preço dos repelentes varia de R$ 10 a R$ 42,90.

Dona de uma pousada em Entre Rios, a empresária Clea de Jesus, 38, informou que não foi atingida pela doença, mas que três funcionários dela estão de atestado médico por conta do problema – ela tem mais 9 funcionários.

“Até o pessoal de fora já chega aqui preocupado. O jeito foi comprar repelentes para os hóspedes, todo mundo que chega aqui eu dou um de brinde”, afirmou, sem saber ao certo quantos repelentes já comprou: “Só sei que a unidade é R$ 32”.

Protocolo A grande maioria dos pacientes que procuram o hospital municipal apresenta sintomas semelhantes ao de Willian Oliveira: febre alta, dor nas articulações, dor de cabeça e manchas pelo corpo. São medicados com analgésicos e antitérmicos, às vezes injeção, e mandados para repousar em casa.“Estamos seguindo o protocolo do Ministério da Saúde para casos de arbovirose. Raramente, alguém fica internado; no máximo passa umas horas em observação, até porque não tem onde deixar todo mundo”, disse o diretor médico Rafael Aquery. No hospital, há apenas dois médicos por turno: um da área clínica e o outro da emergência, mas com a alta procura por atendimento a prioridade é o pronto-socorro, que agora tem dois profissionais – com isso, a área clínica ficou desfalcada.

Já nos postos de saúde, há um médico, mas que só atende das 8h às 17h, e de segunda a sexta. “Estamos nos virando com o que temos”, disse a secretária municipal de Saúde, Michele Monteiro de Oliveira.

Segundo a secretária, já foram notificados 215 casos suspeitos de arboviroses, mas ela afirma que ainda não obteve resposta oficial sobre o resultado dos exames.

“Não coletamos exame de todo mundo que procurou atendimento com suspeita dessa doença, por isso essa quantidade baixa de notificações em relação à quantidade de atendimentos", justifica.

No boletim sobre arboviroses na Bahia, com dados de até 31 de maio e divulgado pela Sesab na terça-feira (4), consta a informação de que Entre Rios registrou este ano 66 casos de dengue e 47 de chikungunya.

Os dados da Sesab, divulgados pelo CORREIO nessa quarta, mostram que a Bahia registra oito casos de dengue por hora em 2019, uma alta de 459% em relação ao mesmo período de 2018.

Piscina Moradores entrevistados pelo CORREIO disseram que o problema das arboviroses em Entre Rios é por conta de uma piscina pública abandonada pela Prefeitura. Uma foto mostra a piscina com água parada, mas a secretária Michele Monteiro disse que “já fizeram a limpeza" e que "essa foto é antiga”. Moradores dizem que piscina suja é foco do Aedes aegypti; secretária diz que limpeza foi feita (Foto: Divulgação) Michele Monteiro se queixa da Sesab, que deixou de enviar para a cidade kits de teste rápido para arboviroses. A Sesab confirmou a informação e declarou que a última entrega de kits de teste para diagnóstico de dengue foi em agosto de 2018, e de zika, em julho do mesmo ano – as quantidade enviadas não foram informadas.

“O quantitativo de testes é  encaminhado de acordo com a demanda de exames do laboratório. Não existe um quantitativo fixo”, afirmou a Sesab, segundo a qual já foi feita a aquisição de 4.800 testes para sorologia de dengue, no inicio deste ano.

“Recebemos 1.440 testes e os demais estamos aguardando a entrega. O fornecedor alega que os kits estão aguardando a liberação da importação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Fizemos aquisição de 3.840 testes de sorologia para o vírus zika”, informou.

Procurada para comentar o assunto, a Anvisa informou que “precisamos saber em qual porto ou aeroporto estaria esta carga e qual o número da licença de importação (LI). Este é um código que identifica qualquer importação que chega ao Brasil”.

“Como ele em mãos, conseguimos dizer se esta informação de importação procede e qual o status atual”, afirmou o órgão. Procurada de novo, a Sesab declarou que “estes dados referentes à importação dos produtos são do fornecedor”, sem especificá-lo.