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Gabriel Galo
Publicado em 31 de julho de 2021 às 05:06
- Atualizado há um ano
Dizem por aí, apesar dos pesares, apesar das evidências em contrário, que “as instituições estão funcionando”. Eu era dos que levantavam a mão e a voz em discordância. Mas estes Jogos Olímpicos vieram me mostrar o quanto eu estava redondamente equivocado. Sim, meus amigos, as instituições estão funcionando, do mesmo jeitinho que sempre funcionaram.
O esporte continua sem patrocínio. Dos 309 atletas que representam o Brasil em Tóquio, 131 não possuem qualquer patrocínio, permuta, nada. Cerca de 10% sequer vivem do esporte – e destes, uma parte é motorista de aplicativo. Para estarem em Tóquio, 41 promoveram vaquinhas. Tudo como antes, pois, pois.
Na cobertura olímpica, a preguiça insiste na pergunta que traz consigo um certo sadismo: “O que você está sentindo nesse momento?” Ah, que eu ouço ou vejo isto e me dói na alma. Na intenção, ver o atleta se desmanchar em lágrimas, pedir desculpas, e aquelas consequências todas que alimentam a rede romantizadora do sofrimento e da culpa. Uma instituição perene.
Outra que se prova a cada competição é o efeito catapulta no quadro de medalhas para os países da casa. Em Tóquio, vemos o Japão fazer frente a China e EUA como líderes da contagem de pódios. Vimos o mesmo ocorrer no Rio, e em várias outras sedes.
Mas de todas estas, a instituição que melhor funciona neste país, não apenas agora nestes quase 20 dias de overdose esportiva, mas o ano inteiro, segue firme, cada vez mais forte, contínua e estruturalmente mais sólida: a certeza de que o time pelo qual torcemos está sendo roubado.
Não estou aqui a dizer que arbitragens não devem ser questionadas. Longe disso, aliás. Mas no efeito Dunning-Kruger que transforma tantos de nós em convictos especialistas no que nem ouvíamos falar até anteontem, não existe a possibilidade de que o alvo da nossa torcida possa perder merecidamente. Não e nécaras.
Estão todas as forças do mundo unidas para prejudicar o Brasil como potência olímpica. Claro. Assim como todas as forças se unem, por exemplo, para derrubar o nosso time de futebol. Vivamos num modo constante de “contra tudo e contra todos.” Cansativo, mas confortável. Melhor que admitir que torcemos por alguém falível.
Culpe-se, pois, o juiz. Os juízes, de qualquer modalidade, para que o complô se evidencie. Boxe, judô, ginástica, skate, está tudo ali, exposto. O COI está nu e só os inteligentes conseguem observar.
Faz um certo sentido que tenhamos este viés. No país do jeitinho, da gambiara, da Lei de Gérson, caminhamos sempre preocupados de sermos usurpados a todo instante. Vigilância que não cessa e que nos condiciona. Desaprendemos, então, a aceitar a superioridade do outro. Ser-se vítima é o destino do brasileiro. Terceirizar responsabilidade está impregnado no nosso DNA. Quer instituição que funciona melhor do que essa?
Talvez seja realmente isso o que impede que o Brasil seja a potência olímpica que está destinada a ser. E podemos, pelo viés do complô universal, entender enfim a frase do Barão de Coubertin, que afirmou que o importante é competir, já preparando a desculpa antecipada para a derrota que viria para o Brasil. O resto é deturpação globalista.
Gabriel Galo é escritor e às vezes apela ao “estão roubando o meu time” para fazer a vida mais fácil.