Assassino confesso continuou a bater em jornalista quando ela já agonizava

Mateus Araújo a matou com três pedradas na cabeça, na testa e no rosto

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  • Da Redação

Publicado em 15 de novembro de 2017 às 19:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

A jornalista Daniela Bispo dos Santos, 38, foi morta com três pedradas na cabeça, na testa e no rosto. Mateus Viliam Oliveira Alecrim Dourado Araújo, 32 anos, confessou que, mesmo após Daniela estar agonizando no chão, ele continuou batendo nela, dando dois murros com a mão direita em seu rosto. O detalhamento do crime foi feito por Mateus na audiência de custódia e descrito na decisão da juíza Patrícia Cerqueira Kertzman Szporer, que converteu a prisão de flagrante para preventiva nesta quarta-feira (15). O assassino confesso ainda afirmou estar “com muita raiva” de Daniela.

Após o crime, Mateus guardou a pedra na mochila e vestiu uma camisa de manga longa comprida, que ele havia levado consigo. “Ele vestiu a camisa, pegou um táxi e, dentro do táxi, pegou na mochila outra blusa de tecido fino na cor laranja, com listas pretas nos braços e ombros, tirou o tênis, Colocou uma sandálias havaianas de cor branca com detalhes azul e verde, pediu para o táxi deixá-lo na Praça Nossa Senhora da Luz, onde pegou um ônibus com destino a Lapa, Portão- Lapa”, descreve a decisão. No documento, a juíza explica que Mateus disse a Daniela que iria entregar uma chave para ela, e que por isso ela foi encontrá-lo. A juíza disse que a ação mostra claramente crueldade, premeditação e frieza. O suspeito afirmou que Daniela estava pedindo dinheiro a ele e disse que a vítima o estava ameaçando, afirmando que iria contar do envolvimento dos dois para sua noiva.  Mateus ainda é considerado suspeito pois só é acusado após o Ministério Público oferecer denúncia criminal à Justiça.

Crime De acordo com a polícia, no começo da noite de segunda-feira Mateus saiu de casa e foi ver Daniela. Os dois marcaram um encontro no mesmo prédio em que ela trabalhava, na Avenida Tancredo Neves. Ele contou para a polícia que no caminho pegou um paralelepípedo, que partiu em dois. Um dos pedaços ele deixou no local, e o outro colocou dentro da sua mochila.

A delegada Milena Calmon, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), contou que Mateus conhecia os funcionários que trabalham na portaria e, por isso, conseguiu entrar no edifício com facilidade. Por volta das 19h, Daniela saiu da sala em que trabalhava, no 1º andar, e subiu até o 6º pavimento. Os dois se encontraram, mas a conversa tornou-se uma briga. (Foto: Reprodução) "Houve uma discussão, e ele contou que começou a agredir ela com socos. Depois, retirou uma pedra que tinha levado na mochila e passou a agredi-la com pedradas. Ela caiu um lance de escadas, do 6º para o 5º andar. Em seguida, ele trocou de camisa enquanto descia as escadas e saiu pela garagem do prédio", contou a delegada.Durante apresentação no DHPP, Mateus disse estar arrependido. "Ela me ameaçou, estava me chantageando. Ela queria que eu terminasse o meu noivado. Disse que iria procurar minha noiva para contar tudo. Eu não estava aguentando mais", afirmou. Para tentar se livrar de sinais do crime, Mateus trocou de camisa três vezes - além de mudar de blusa no local do crime e no táxi, fez uma terceira troca já no ônibus.

Mateus já foi transferido para o Complexo Penitenciário Lemos de Brito.

Sono e entrevista Ainda segundo a polícia, depois de matar Daniela com socos e pedradas, Mateus  foi para casa como se nada tivesse acontecido para dormir. Ele  mora no bairro da Saúde, em Salvador. Horas depois do crime, enquanto as pessoas ainda procuravam a jornalista, ele estava a caminho de uma entrevista de emprego quando foi preso na tarde de terça-feira (14) em Lauro de Freitas.

O corpo de Daniela foi encontrado no dia seguinte, pela manhã. A polícia solicitou as imagens de segurança do prédio, onde ficou registrada a movimentação do suspeito e conversou com os amigos da jornalista que confirmaram que os dois tinham um relacionamento.

A polícia disse também que através dos depoimentos conseguiu identificar Mateus, e foi até a casa dele. A mãe dele foi quem recebeu os investigadores e disse que ele não estava em casa. Ela ligou para o filho, e depois informou para os policiais que ele estava em Lauro de Freitas. A equipe foi até o local e prendeu o suspeito.

Família não sabia de relação A família da jornalista Daniela Bispo dos Santos, 38 anos, encontrada morta em um edifício comercial da Avenida Tancredo Neves, não sabia que ela mantinha um relacionamento de três anos com Mateus Viliam Oliveira Alecrim Dourado Araújo, 32, que confessou ter matado a companheira a pedradas.

A informação foi confirmada pelo tio da jornalista, o agente comunitário Lindelson Corsino, durante o sepultamento, na manhã de hoje, no Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco. (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) "Ela era muito reservada. Não contava muito da vida dela. Todo mundo só descobriu quando pegou o celular dela e viu as mensagens com ele", disse. Daniela morava com os pais, os dois filhos de 16 e 19 anos, e cuidava também de um sobrinho. 

Daniela era quem sustentava a família em casa. O pai da jornalista foi ao sepultamento, mas não quis falar com a imprensa. Já a mãe, muito abalada, não conseguiu ir ao cemitério.

"A morte dela pegou todo mundo de surpresa, ainda mais que foi dessa forma bárbara. Ela era uma pessoa muito boa, muito tranquila", contou o vendedor José Expedito Silva, que era vizinho da vítima e acompanhou a vida de Daniela desde criança.

Durante o enterro, pessoas próximas tentavam se consolar e entender o que tinha acontecido com a jornalista. "Eu fico me perguntando o que está acontecendo com o mundo para as mulheres estarem passando por isso", disse um amigo.

A secretária do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Olívia Santana, também esteve no sepultamento e lembrou da importância de combater o machismo. Daniela trabalhou como estagiária em sua equipe. "Já tivemos mais de 200 feminicídios em menos de um ano. Nós queremos ver esse criminoso pagando pelo crime que cometeu, mas isso não vai impedir que outros crimes aconteçam. É preciso mexer na educação pra mudar a mentalidade, o machismo é o que mata", diz.

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