Associação Nacional de Jornais repudia atitudes de Bolsonaro: 'lamentável e preocupante'

Presidente gritou 'cala a boca' para jornalistas e negou agressões ocorridas em protestos; veja vídeo

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  • Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2020 às 16:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/YouTube

Após o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), mandar os jornalistas calarem a boca em coletiva próxima ao Palácio da Alvorada, na manhã desta terça-feira (5), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulou uma nota dizendo que a postura de Bolsonaro mostra "incapacidade de compreender a atividade jornalística". Segundo a associação, o gesto do presidente revela também um caráter "autoritário".

"Mais uma vez, o presidente mostra sua incapacidade de compreender a atividade jornalística e externa seu caráter autoritário. Os jornalistas trabalham para levar os fatos de interesse público ao conhecimento da população e têm o direito e o dever de inquirir as autoridades públicas", afirmou a ANJ.Veja a íntegra da nota: Nota à imprensa

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) protesta com veemência contra os termos desrespeitosos com que o presidente Jair Bolsonaro se dirigiu aos jornalistas na manhã desta terça-feira.

Mais uma vez, o presidente mostra sua incapacidade de compreender a atividade jornalística e externa seu caráter autoritário. Os jornalistas trabalham para levar os fatos de interesse público ao conhecimento da população e têm o direito e o dever de inquirir as autoridades públicas.

É lamentável e preocupante que o presidente faça dos ataques aos jornalistas e ao jornalismo uma rotina contra a civilidade e a convivência democrática.

Brasília, 5 de maio de 2020.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS - ANJ

Entenda Na manhã desta terça-feira (5), o presidente negou interferência na Polícia Federal (PF), mas não quis responder diretamente se pediu ou não a troca da superintendência da instituição no Rio de Janeiro. Ao ser indagado sobre o assunto por jornalistas, Bolsonaro ficou visivelmente alterado e mandou os profissionais calarem e boca diversas vezes.

Na segunda-feira, 4, o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, trocou o comando da superintendência da corporação no Rio. A mudança foi uma das primeiras ações do novo chefe da PF após ser empossado na segunda, cerca de 20 minutos depois de ser nomeado ao cargo. O superintendente Carlos Henrique Oliveira foi convidado para assumir a direção-executiva da PF, o que o coloca como número dois do novo diretor. "O atual superintendente do Rio de Janeiro, que o (ex-ministro Sergio) Moro disse que eu quero trocar por questões familiares... Não tem nenhum parente meu investigado pela PF, nem eu, nem meus filhos. Zero. É uma mentira que a imprensa replica o tempo todo, dizer que meus filhos querem trocar o superintendente", disse Bolsonaro. "Para onde ele (Carlos Henrique Oliveira) está indo? Para ser diretor-executivo da PF, ele vai ser da superintendência, são 27 superintendências, para ser diretor-executivo. Eu estou trocando ele? Eu estou tendo influência sobre a PF? Isso é uma patifaria" afirmou o presidente. Em seguida, questionado pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo e do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) se pediu a troca na superintendência do Rio, Bolsonaro reagiu mandando a profissional calar a boca. "Cala a boca, não perguntei nada", gritou. Diante da insistência de outro repórter, ele voltou a mandar os jornalistas calarem a boca. "Não interferi em nada", continuou Bolsonaro. "Não tenho nada contra o superintendente do RJ e não interfiro na PF. Ele está sendo convidado para ser diretor-executivo, o zero dois. É a mesma coisa que eu chegasse, suposição, para o MD e dissesse eu quero que troque o Comandante do Comando Militar do Sul que eu não gosto dele e coloque dele como comandante do Exército. É a mesma coisa", declarou. Desde o início, o presidente mostrou a capa da edição desta terça do jornal Folha de S.Paulo, cuja manchete faz uma relação entre a troca e o interesse dos filhos do presidente. "É uma manchete canalha e mentirosa e vocês da mídia, tenham vergonha cara. A grande parte publica patifaria."

Ataques reiterados Não é a primeira vez que o presidente da República critica a imprensa e profere ataques. Em fevereiro deste ano, também em coletiva próxima ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro ofendeu a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello com trocadilho infame e misógino: "queria dar o furo contra mim".