Aumento nas taxas de juros, taxas de 2 dígitos são esperadas em 2022

Os principais prejudicados neste tipo de cenário são as famílias dos trabalhadores

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  • Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fonte: pexels-pixabay

Como em todos os aspectos da vida, a pandemia deixou os seus efeitos -negativos- na economia brasileira, que apresenta muitas incertezas para os analistas com mudanças permanentes nas projeções para o futuro.

Como sempre os principais prejudicados neste tipo de cenários são as famílias de trabalhadores que dependem dos seus salários para sustentar os seus lares, e nas quais toda mudança nos preços dos produtos ou serviços, assim como as condições dos serviços financeiros podem fazer a diferença.  

Lamentavelmente esta não é uma boa época para quem estiver precisando de contratar algum tipo de empréstimo pessoal ou serviço financeiro, muito menos se endividar mediante o cartão de crédito ou modalidades como o cheque especial. Isso porque o pioro das expectativas do desempenho econômico do Brasil está incrementando os custos dos créditos e, para os interessados em contratar um deles, é importante levar em conta que taxas de dois dígitos poderão ser cobradas.

Mas, qual é a causa do aumento nas taxas de juros? Trata-se de uma sequência de motivos principalmente ligados ao aumento dos preços e às medidas adotadas pelo governo para tentar por certo freio nele. Confira.

A inflação superou as previsões

A inflação é o aumento geral e constante dos preços registrados nos produtos e serviços. Trata-se de um fenômeno bem conhecido para a maioria dos brasileiros, principalmente para os mais velhos, mas que ficou controlada e com valores moderados por algumas décadas até 2020. Segundo o monitoramento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação de outubro, medida mediante o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 1,25%, ou seja, a maior taxa registrada para esse mês desde 2002.

Assim o acumulado de 2021 é de 8,4%, superando amplamente as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional do Banco Central para este ano, que era de 3,75%, com um intervalo de tolerância de 1,5% para cima ou para baixo. Ou seja, ainda no pior dos cenários, o Banco Central esperava uma inflação máxima de 5,25% para 2021. Desse jeito, a previsão do setor financeiro para o IPCA de 2021 foi elevada de 9,33% para 9,77% de acordo com o Boletim Focus publicado no dia 16 deste mês; esta já é a 32° elevação consecutiva desta projeção. Já para 2022 as previsões de inflação ficaram em 4,79%, e 3,32% e 3,09% para 2023 e 2024 respectivamente.

Um dado importante é que o acumulado de inflação em 12 meses subiu para 10,67%, mantendo a tendência dos dois dígitos pelo segundo mês consecutivo.

A medida do governo: o incremento da taxa Selic

Com o intuito de impor certo controle na inflação, no passado 27 de outubro o Copom adotou mais um incremento na taxa Selic, ou taxa básica de juros, passando para 7,75% ao ano. Ainda mais, para o próximo encontro dos dias 7 e 8 de dezembro, estima-se que a taxa ultrapasse 8,5% ou até mesmo 9,25% naquele mês. Desde o mercado financeiro, porém, espera-se um maior aperto monetário com uma Selic atingindo o 10%.

E daí, o que tudo isto tem a ver com as economias familiares? Pois é, para entender isso é preciso saber que a taxa Selic é uma ferramenta utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação ou incentivar o consumo porque ela influi em todas as taxas de juros do país, como no caso das cobradas nos empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras.  .

Ao reduzir o valor da Selic, como foi acontecendo até 2020 em que atingiu o seu valor mínimo recorde de 2%, o objetivo é incentivar o consumo e a produção, fazendo com que o crédito fique mais barato para assim estimular a atividade econômica e reduzir o controle da inflação. Pelo contrário, quando o Comitê de Política Monetária decide incrementar o valor da taxa básica de juros, a meta é conter a demanda encarecendo o crédito. Assim o consumo é inibido e a poupança é estimulada, reduzindo a inflação.

É essa última situação que vem acontecendo faz alguns meses. Com o incremento da taxa Selic, espera-se um aumento geral no custo dos empréstimos disponíveis no mercado, pois as taxas deles estão ligadas à Selic, mas são bem mais elevadas. Acontece que a suba chegou numa época difícil para as famílias pois o nível de endividamento dos lares brasileiros bateu recorde atingindo 74,6 pontos porcentuais de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Desse grupo, o grupo de famílias inadimplentes (com contas em atraso) é de 25,6% e, dentre elas, 10,1% declararam não ter condições para pagar as contas ou dívidas.

Assim, com os juros subindo e as famílias endividadas, o acesso a um crédito será a cada vez mais difícil, seja para os consumidores individuais como para as empresas, prejudicando o crescimento econômico do país. De fato, as previsões de crescimento para o próximo ano já são pessimistas, estimando um incremento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 0% e 1% apenas.

Para o professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) vai ser complicado “sair dessa bola de neve diante dessa alta dos juros” para aqueles endividados ou no limite do endividamento. Até algum tempo atrás, os créditos apresentavam condições amigáveis, como parcelas com taxas baixas, meses de carência (no qual a dívida pode não ser paga) e prazos de pagamento longos. Desse jeito, muitas pessoas contrataram empréstimos mais baratos para pagar dívidas antigas com taxas de juros mais elevadas.

É claro que, com as mudanças estabelecidas pelo Banco Central, o panorama mudou, pois não apenas será difícil fazer frente às contas vigentes, mas também a contratação de novos créditos. Isto porque os bancos começaram a ser mais seletivos e diminuíram os prazos de financiamento, pelo simples fato de não saberem o que irá acontecer com a economia daqui a algum tempo. De fato, as concessões de crédito para pessoas físicas já registram quedas. De acordo com a informação fornecida pelo Banco Central, em setembro o recuo foi de 2% em comparação com o mês anterior.

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