Ausência de Bolsonaro marca o último debate

Encontro com sete presidenciáveis marca o encerramento da campanha na TV

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 00:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: MARCELLO DIAS/ESTADÃO CONTEÚDO

O último debate do primeiro turno da eleição deste ano reuniu, ontem,  na Rede Globo, sete candidatos à Presidência da República. Durante aproximadamente três horas, Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) se apresentaram ao eleitor e discutiram temas como segurança, reforma da previdência, gastos públicos, entre outros. O candidato mais bem colocado nas pesquisas de intenções de votos, Jair Bolsonaro (PSL), não participou por recomendação médica. 

Mesmo não estando lá, Bolsonaro foi citado nominalmente por todos os presentes, à exceção de Álvaro Dias. Ao todo, o nome do militar da reserva foi dito pelo menos dez vezes – e isso sem contar as menções indiretas. As citações empataram com as direcionadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba, e superaram as direcionadas ao presidente Michel Temer (MDB), cinco vezes. 

Outra marca do debate, que foi mediado pelo jornalista William Bonner, foi o discurso dos candidatos que se colocaram mais ao “centro”, contra os dois que lideram as pesquisas de intenção de votos. Ciro, Alckmin, Meirelles e Marina insistiram na defesa de uma solução para o país fora da polarização entre esquerda e direita. “Se alguém foge do debate, se esconde e só dá entrevista em situação amigável, não tem condições de administrar o país”, avaliou Meirelles, em “dobradinha” com Ciro Gomes. 

Lembrando da disputa eleitoral de 2014, Marina lamentou que as pessoas estejam votando “com ódio, ou para evitar este ou aquele candidato”. “Eu não acredito que haja condição de se governar o Brasil com esta polarização. Voto é para melhorar saúde, educação e sistema político, que está degradado”, respondeu a candidata. Para ela, o “voto por medo de um ou ódio de outro” vai levar o país a perder os próximos quatro anos. “Nós estamos fechando as portas para o futuro se continuarmos com a política do medo”, reforçou Ciro.

Em questionamento direto para Fernando Haddad, Alckmin apontou o “legado do PT” como responsável pela atual situação política vivenciada no Brasil. “O que estamos vivenciando é resultado de um conjunto de equívocos políticos e econômicos”, frisou. 

Fernando Haddad procurou utilizar em suas intervenções, quase como uma palavra de ordem,  a ideia de uma retomada do governo Lula. O petista buscou lembrar aquilo que considerava feitos positivos dos governos petistas, como o Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo. 

Durante um questionamento de Alckmin, tentou culpar o adversário pela situação atual. “Quem escolheu o Temer foi o PT. Foi a Dilma (Rousseff, ex-presidente), que disse que faria o diabo para ganhar a eleição. Não acredito que PT e nem Bolsonaro vão tirar o Brasil da crise”, rechaçou o candidato Geraldo Alckmin.

Marina Silva questionou a Haddad se ele não gostaria de aproveitar a oportunidade para reconhecer os equívocos do PT. O candidato preferiu defender a própria trajetória e  dizer que estava “há apenas 22 dias” por conta da prisão de Lula.  

Recado para Curitiba Álvaro Dias foi o único dos candidatos participantes que não atacou Jair Bolsonaro. Por outro lado, direcionou seus questionamentos ao petista Haddad e ao ex-ministro Henrique Meirelles. 

Por duas vezes, o senador paranaense afirmou que iria enviar um bilhete para Lula na prisão, através de Haddad. “Está sempre lá com ele, pode entregar”, disse. Citando sempre o ex-presidente, Dias defendeu a necessidade de se colocar o combate à corrupção como a grande prioridade do novo governo brasileiro. “Estamos deixando de discutir o que realmente importa, que é este modelo de governo corrupto que temos. De governo inchado e gastador e legislativo inchado e gastador”, disse. Para ele, o Brasil precisa de uma reforma para reduzir o número de políticos. 

Em uma resposta a Henrique Meirelles, Álvaro Dias acusou o ex-ministro de ser ficha suja, o que provocou um pedido de direito de resposta, aceito pelos organizadores do debate. “Não tenho nenhuma denúncia de corrupção, nenhum processo. Estou pensando em criar o movimento dos sem processos”, frisou Meirelles, que se comprometeu a fortalecer a Operação Lava Jato. 

Guilherme Boulos pautou a sua participação pelas críticas ao governo do presidente Michel Temer. Neste sentido, questionou o apoio dado pelo PSDB, de Alckmin, à reforma trabalhista. Para Boulos, a mudança provocou um aumento no desemprego. Em resposta, Alckmin chamou Boulos e o PT de corporativistas. “O país tinha 17 mil sindicatos mamando na contribuição obrigatória. Isso é um absurdo. Nenhum direito foi tirado”, refutou. 

Para Alckmin, o Brasil precisa voltar a crescer. Para isso, ele defendeu a necessidade de se manter as reformas e defendeu a necessidade de novas mudanças. “Eu vou enxugar a máquina, fazer reforma do estado, privatizar o que for necessário, trazer investimentos e recuperar a confiança. Vai ser emprego na veia”, disse.