Autor de ameaças divulga fotos de alvos em escola no bairro de Luís Anselmo

O motivo seria a recusa dos jovens em aproximar o autor de uma outra aluna, amiga deles

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  • Bruno Wendel

Publicado em 14 de agosto de 2019 às 17:17

- Atualizado há um ano

Ameaças levaram direção da escola solicitar reforço policial por tempo indeterminado (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Primeiro veio a imagem de uma mão segurando uma pistola junto com mensagens num perfil do Instagram informando o dia do ataque, programado para esta quarta-feira (14). Depois, na noite desta terça-feira (13), o autor das postagens de um possível massacre divulgou na mesma página da rede social as fotos de seis jovens, as quais ele os define como “alvos”, elevando ainda mais o pavor de alunos, professores e funcionários da Escola Municipal Santa Rita, no bairro de Luís Anselmo. O motivo seria o fato de os jovens terem recusado facilitar a aproximação do autor com uma outra aluna, amiga deles.  

Desde o início da semana, o autor das postagens vem ameaçando fazer “um belo massacre” na escola e disse que chegaria de surpresa. A Secretaria Municipal da Educação (Smed) informou que vem tomando as medidas necessárias. A escola abriu hoje - ontem estava fechada por conta de um movimento nacional pela educação - mas só 5% dos 280 alunos compareceram, segundo informações da direção. O funcionamento foi possível por conta da presença de policiais militares no entorno da unidade.  

Também nesta manhã, três pais, dos seis alunos que tiveram as fotos divulgadas pelo autor das ameaças, foram ouvidos junto com os filhos na Delegacia de Repressão a Crimes contra Criança e Adolescente (Derca).  A titular da unidade, a delegada Ana Crícia, informou que informações sobre o caso serão passadas para a assessoria de comunicação da Polícia Civil. Procurada, a assessoria informou que a delegada ouviu os adolescentes e familiares, mas que maiores informações não podem ser compartilhadas.

O CORREIO conversou com uma das mães.  “Ontem, cheguei do trabalho e minha filha estava dormindo e fui fazer minhas coisas, as de sempre. Algumas horas depois, ela veio assustada dizendo: ‘ mãe, olha para isso aqui’. Aí me desesperei. Não dormi a noite toda. E não tinha como. Ele botou a foto dela e de outros alunos e postou também alvos”, disse uma empregada doméstica, mãe de uma adolescente de 15 anos. 

Por conta das ameaças, a doméstica disse que a filha não irá à escola até que o autor seja descoberto e punido. “Isso tudo que está acontecendo é terrível. A gente não tem como ficar isenta. Não posso deixar minha filha numa situação dessas. Ela vai à aula até que tudo seja resolvido. Ele precisa ser descoberto e arcar com os atos. Os pais estão tão apavorados tanto quanto os seus filhos. Sem falar em outros prejuízos. Eu não pude ir trabalhar para estar aqui na delegacia. Mas acredito que a polícia chegará até ele”, disse a mãe antes de ser chamada à sala de um delegado. 

Rejeição O CORREIO entrou novamente no perfil do autor das mensagens, que se diz chamar Richard, e as fotos dos seis alunos – dois meninos e seis meninas – foram apagadas. Apesar de ter tido acesso às fotos, o CORREIO não irá divulga-las por uma questão de segurança às pessoas que tiveram as imagens expostas. Abaixo do nome do suposto dono da página tem a frase “seu pior pesadelo” – a conta segue 62 perfis e 19 seguidores, mas o acesso a essas contas está bloqueado.  Autor das ameaças divulgou no perfil do Instagram seis fotos de alunos que seriam seus alvos (Foto: Reprodução) Na Derca, o CORREIO conversou com duas alunas de 15 anos que tiveram as fotos divulgada pelo autor das ameaças. “A gente está com medo. Ele disse que sabe o onde é a nossa casa. Sabe os nossos horários, sabe de todo de nossas vidas. Não queremos morrer”, disse uma das adolescentes.  

As ameaças começaram há cerca de uma semana, quando o mesmo perfil foi usado para iniciar uma conversa com os seis adolescentes. “Ele puxou conversa dizendo que está afim de uma amiga nossa, querendo que a agente ‘armasse’ ele com ela, mas ele disse que é feio e que temia uma rejeição por parte dela. Por isso que ele queria que a gente ajudasse. Mas a gente não ajudou por que ninguém o conhece. Desde então, começaram as ameaças”, disse a adolescente. 

Durante algumas postagens, o autor deixou uma suposta pista sobre a sua identificação. Ele seria um aluno da própria escola. “Em uma das conversas, perguntamos quem era, e ele respondeu: ‘Só posso de dar dica: sou do 8º ano. Mas essa pista pode ser falsa, porque ele usou a foto de um dos amigos como foto do perfil das ameaças e depois tirou. Pode ser qualquer pessoa, alguém de dentro ou fora da escola”, disse a outra aluna de 15 anos.  Pela manhã, aulas na escola são para as turmas do 6º ano ao 9º ano – nesse período existem duas turmas do 8º ano. 

Mas a mãe de uma das meninas não tem dúvida de que o autor frequenta a escola. “Na sexta, fui à escola assinar o boletim de minha filha e não tinha ninguém do lado de fora por que chovia muito. Lá dentro estava eu e a avó de uma outra aluna. Horas depois, ele entrou no perfil e comentou que viu a gente. Lá é uma escola pequena, onde tudo mundo se conhece. Ou seja, quem postou estava lá na hora e tem acesso fácil”, declarou a mulher. Ataques Dois jovens encapuzados abriram fogo no dia 13 de março deste ano em uma escola estadual em Suzano, na Grande São Paulo, e mataram ao menos oito pessoas, a maioria estudantes. A motivação do ataque ainda não foi esclarecida. Autoridades afirmam que eles eram ex-alunos do colégio.

Em setembro do ano passado, um adolescente de 15 anos abriu fogo contra colegas de classe no Colégio Estadual João Manoel Mondrone, na cidade de Medianeira, no oeste do Paraná. Não houve mortos, mas dois estudantes, de 15 e 18 anos, ficaram feridos. O atirador, que foi acobertado por outro colega também de 15 anos, disse à polícia que sofria bullying na escola. O ataque teria sido planejado por dois meses. 

O Colégio Goyases, escola particular de ensino infantil e fundamental, na capital de Goiás, foi palco de um ataque em outubro de 2017. Um aluno de 14 anos atirou contra colegas dentro de uma sala de aula, matando dois meninos de 12 e 13 anos e ferindo outros quatro, antes de ser impedido por alunos e professores quando tentava recarregar a arma. O atirador é filho de policiais militares e usou uma pistola da mãe para cometer o ataque. Ele alegou que o crime foi motivado por ser vítima de bullying de colegas.

Um adolescente de 16 anos feriu a tiros três alunas dentro da Escola Estadual Enéas Carvalho, em Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa, na Paraíba, em abril de 2012. Foram efetuados seis disparos com um revólver calibre 38. Em depoimento à polícia, o atirador disse que seu objetivo era acertar um outro estudante de 15 anos com o qual havia discutido duas vezes, mas acabou atingindo as alunas, de 17 anos, que estavam próximas ao garoto. Elas tiveram alta nos dias seguintes ao crime. 

Em setembro de 2011, um aluno de 10 anos atirou em uma professora e depois se matou na Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. A docente de 38 anos sobreviveu aos disparos. Cerca de 25 alunos estavam na sala de aula no momento do crime. Após atingir a professora, ele deixou a classe e disparou contra a própria cabeça, morrendo mais tarde no hospital. O menino era filho de um guarda civil municipal e usou um revólver calibre 38 que pertencia ao pai.

Em abril de 2011, um rapaz de 25 anos abriu fogo contra alunos em salas de aula lotadas na Escola Municipal Tasso de Silveira, no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, em um dos massacres mais sangrentos em instituições de ensino do Brasil. Ao todo, 12 estudantes morreram e 13 ficaram feridos, todos com idades entre 12 e 14 anos. O autor do ataque, Wellington Menezes de Oliveira, foi atingido por um policial e cometeu suicídio. Ele usou dois revólveres, que recarregou várias vezes, e tinha muita munição. O atirador era ex-aluno da escola e, em anotações encontradas em sua casa, havia escrito que o massacre foi motivado por humilhações que enfrentou enquanto estudava. 

A Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz, na cidade de Taiúva, no interior de São Paulo, foi alvo de um ataque a tiros em janeiro de 2003, também cometido por um ex-aluno. Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, abriu fogo contra alunos e funcionários e se matou em seguida. Ele usava um revólver calibre 38, com o qual fez 15 disparos. As investigações apontaram que o crime foi motivado por bullying. Além do atirador, ninguém mais morreu, mas oito pessoas ficaram feridas, sendo cinco alunos, o caseiro, a zeladora e uma professora da escola. Atingido por um tiro na coluna, um dos estudantes ficou paraplégico. 

Um aluno de 17 anos matou a tiros duas colegas, ambas de 15 anos, dentro da sala de aula do colégio Sigma, uma escola particular em Salvador. O crime ocorreu em outubro de 2002. Ele foi preso em flagrante ainda dentro da escola. Filho de um perito, o atirador usava um revólver calibre 38 que pertencia ao pai, segundo apontaram as investigações na época. Colegas relataram que o garoto havia prometido vingança às duas vítimas, após desentendimentos durante uma gincana.